Investir melhor
Seus investimentos sofrem os efeitos da geopolítica e você deveria estar de olho nisso
Acompanhar o noticiário e buscar entender um pouco sobre os riscos geopolíticos te ajuda a tomar melhores decisões sobre o grau de risco que deseja ter em sua carteira de investimentos e os tipos de proteção que irá utilizar

Professor Mira
Investidor profissional, Analista CNPI-T (Apimec), mestrando em Economia, com MBAs em Gestão de Investimentos, Análise de Investimentos e Educação Financeira. Empresário, sócio do Clube FII e do Grana Capital, escritor best-seller e educador financeiro com cursos que já formaram mais de 50 mil alunos pelo mundo. Está nas redes sociais como @professormira
Você já se pegou olhando para sua carteira de investimentos e se perguntando: “O que aconteceu aqui? Por que meus ativos estão reagindo dessa forma?” Muitas vezes, a resposta não está apenas na gestão das empresas em que você investe ou na movimentação da taxa Selic.
Parte da resposta pode estar a milhares de quilômetros de distância, em um conflito diplomático, uma nova política industrial de uma superpotência ou até mesmo em acontecimentos específicos numa rota comercial. A verdade é que a economia é um ecossistema global totalmente conectado, então, é impossível ignorar os fatos geopolíticos globais.
Tarifas dos EUA devem derrubar preços e afetar setores estratégicos
Há muito tempo que essa pauta deixou de ser algo restrito a especialistas em relações internacionais ou comércio exterior, e se tornou uma variável relevante que molda diariamente o potencial de lucro das empresas, os custos de produção, a logística e até mesmo o valor da moeda que você tem no bolso.
Por que o noticiário político internacional tem a ver com seus investimentos?
Acompanhar o noticiário político e econômico no mundo é um desafio para todos nós, e em muitos momentos a sensação é de que o mundo está de pernas pro ar, sendo impossível prever os rumos que as coisas vão tomar.
É um sentimento normal e, de fato, mesmo os grandes especialistas, de vez em quando, patinam em suas previsões. Ainda assim, há fatos que interferem no mercado de forma muito linear, e criar o hábito de acompanhar parte deles pode te ajudar a entender a performance de muitos dos ativos em que você investe ou pensa em investir.
Uma sanção comercial a um país produtor de insumos tecnológicos, um embargo a um produtor de petróleo, uma rota comercial em risco de ser bloqueada como vimos atualmente durante as tensões Israel-EUA-Irã… Tudo isso pode parecer distante num primeiro momento, mas suas consequências reverberam no mundo inteiro.
Se uma oferta global de insumos muda, os preços sobem, e de repente, uma empresa na qual você investe, e que depende desses insumos, vê os reflexos dessas mudanças diretamente em seu balanço patrimonial, o que pode ser determinante para o preço de suas ações.
A logística global de produtos pode ser um risco direto para o seu bolso
Você já parou para pensar em como um simples produto chega até você? Desde a matéria-prima até a prateleira, ele percorre uma complexa rede de fornecedores, fábricas e transportes espalhados pelo mundo todo. Essa cadeia global é altamente suscetível às tensões entre países e seus governos, e isso interessa a todos nós.
Por isso sempre reforço que definir as ações que vão entrar em sua carteira vai muito além de simplesmente olhar para a cotação do dia, ou para os dividendos projetados. É necessário entender o que cada empresa faz, como está inserida no mercado global e a quais riscos está submetida.
Lições da pandemia que te ajudam a entender a influência dos riscos sistemáticos
Um exemplo recente, do qual tenho certeza que você se lembra, ocorreu durante a pandemia de COVID-19. O mundo viveu uma das maiores crises de abastecimento da era moderna, com a escassez global de semicondutores (chips). Foi um efeito em cascata que começou com lockdowns na Ásia e impactou cadeias industriais e o comércio no mundo inteiro.
Quando a pandemia começou, em 2020, as fábricas de semicondutores na Ásia (principalmente Taiwan, Coreia do Sul e China) foram forçadas a parar ou reduzir drasticamente a produção. Simultaneamente, a demanda por eletrônicos disparou: todo mundo precisava de laptops, tablets e equipamentos para trabalhar de casa. Paralelo a isso, as montadoras de carros, achando que a demanda cairia, cancelaram seus pedidos de chips e, em 2021, quando tentaram retomar sua produção, descobriram que não havia chips disponíveis.
Nessa época, Taiwan, que produz cerca de 60% dos semicondutores mundiais, enfrentou uma seca histórica que afetou ainda mais a produção e os impactos reais afetaram economias em todo o mundo:
- As montadoras de veículos pararam linhas de produção por semanas;
- Carros ficaram “quase prontos” em pátios, esperando apenas os chips para serem finalizados;
- O preço dos carros usados disparou pela escassez de veículos novos;
- Preços de laptops e smartphones subiram;
- Até geladeiras e máquinas de lavar tiveram problemas de abastecimento.
Essa crise revelou como o mundo havia se tornado dependente de uma região específica para um componente crítico. Mostrou que a eficiência das cadeias globais “just-in-time” (produção sob demanda) tinha um preço: a vulnerabilidade extrema a choques externos.
Foi um exemplo perfeito de como eventos geopolíticos, ambientais ou sanitários distantes podem atingir diretamente os resultados das empresas e o bolso do consumidor. Muitas companhias que pareciam seguras viram suas ações despencarem simplesmente porque dependiam de um chip de alguns centavos que não conseguiam mais comprar.
Como políticas nacionais redesenham o mercado global
Eu trouxe o exemplo da pandemia, porque ele ilustra como fatores imponderáveis como conflitos, desastres naturais, sanitários ou guerras tarifárias, mesmo que do outro lado do oceano, têm um efeito dominó sobre a lucratividade das empresas e, consequentemente, o preço das suas ações.
Acompanhar o noticiário e buscar entender um pouco sobre os riscos geopolíticos te ajuda a tomar melhores decisões sobre o grau de risco que deseja ter em sua carteira de investimentos e os tipos de proteção que irá utilizar.
E não estou dizendo com isso, que você deva se tornar um expert em geopolítica e relações internacionais, nem tampouco, que deva ficar girando sua carteira ao sabor dos acontecimentos diários. Ao contrário!
O que desejo é elucidar que, ao acompanhar os acontecimentos, você começa a fazer as perguntas certas, em linha com os seus objetivos e escolhas, isto é, passa a usar melhor os serviços de seu assessor ou consultor, pois eles têm acesso a estudos e análises aprofundados para te auxiliar no planejamento de seus investimentos.
Decisões políticas tomadas em em várias partes do mundo podem definir o futuro de setores inteiros da economia global. Políticas comerciais e industriais de governos dos lugares mais remotos podem constituir verdadeiros roteiros indicando para onde os trilhões de dólares de investimento global serão direcionados.
Para o investidor, isso significa que avaliar uma empresa ou um setor sem considerar essas variáveis é como tentar entender um jogo de xadrez olhando apenas para suas próprias peças, sem considerar a estratégia do adversário.
Por que tarifas globais afetam as ações que você tem em carteira
As relações comerciais entre países são muito complexas, envolvendo guerras de poder político, soberanias nacionais, interesses econômicos de inúmeros grupos, enfim, um emaranhado geopolítico de grandes proporções.
Dentro desse contexto, uma variável é fundamental, e ouvimos muito sobre ela nos últimos meses: “guerra tarifária”. Se você acompanhou os noticiários, certamente compreendeu que tarifas alfandegárias globais têm impacto direto no seu bolso.
Imagine, por exemplo, o que significa para exportadores brasileiros, um aumento de tarifa para vender seus produtos nos EUA. Menos margem de lucro para as empresas, que precisam absorver parte desse custo ou repassá-lo, tornando seus produtos menos competitivos, impactando os resultados e, com certeza, a precificação desses ativos em bolsa.
Oportunidades escondidas: onde o olhar atento encontra valor
Mas é claro que nem tudo é risco e incerteza. Para o investidor com um olhar atento, o cenário global também pode revelar oportunidades únicas, muitas vezes escondidas nos bastidores da diplomacia e dos acordos internacionais.
Acordos comerciais entre países para realizar pagamentos em moedas locais em detrimento do dólar, por exemplo, pode até parecer algo que só diz respeito a eles, mas não é bem assim. Para empresas brasileiras que negociam com esses países, pode significar acesso a capital mais barato ou a novas formas de financiamento, e isso influencia em seus resultados.
As casas de análise acompanham questões regulatórias dessa natureza no mundo todo, pois isso municia bancos, assets, gestores e corretoras de investimento. Trata-se de um tipo de inteligência de mercado que vai além dos números e exige uma compreensão profunda de como as nações interagem e criam novas regras para o jogo global.
Dessa forma, quando você passa a acompanhar os noticiários com um olhar mais atento, está se instrumentalizando para buscar com seu assessor informações de maior qualidade para entender o que está acontecendo em sua carteira, está se instrumentalizando para buscar com seu assessor informações de maior qualidade para entender o que está acontecendo em sua carteira.
Sempre haverá um novo conflito, uma nova crise, uma mudança de governo ou uma decisão econômica que fará os preços das ações subirem e descerem. Sentir um frio na barriga diante dessas oscilações é normal, afinal, somos humanos. Mas esse desconforto é também um convite: um convite para estudar, para se informar em fontes confiáveis e para entender melhor o mundo em que seus investimentos estão inseridos.
As opiniões contidas nessa coluna não refletem necessariamente a opinião da B3
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