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3 pontos para entender a relação da alta do PIB com possível aumento da Selic

Mercado de trabalho mais aquecido, menor taxa de desemprego e mais renda aumentam pressão sobre a inflação; Copom se reúne na próxima semana para determinar a Selic

O crescimento da economia brasileira tomou conta do noticiário nos últimos dias, e com razão. Os números apresentados por diferentes institutos de pesquisas revelaram indicadores positivos, mas, ao mesmo tempo, despertaram alguns alertas. A economia mais aquecida pode se refletir em inflação mais alta e se espalhar nos preços, o que pode ser um fator determinante para o Banco Central elevar a taxa básica de juros, a Selic, que está em 10,50% ao ano.

Pela primeira vez desde julho, o boletim Focus desta segunda-feira (9) trouxe uma expectativa de aumento na Selic para 11,25% no final deste ano. Outros fatores econômicos também contribuíram para essa mudança de perspectiva.

No segundo trimestre, o Produto Interno Bruto (PIB, soma de bens e serviços produzidos) apresentou um aumento de 1,4% comparado com o primeiro trimestre deste ano, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Isso significa que a economia está em crescimento, com mais empregos e renda. Além disso, há 10 anos o Brasil não via uma taxa de desemprego tão baixa, de 6,9% no segundo trimestre. A renda média do trabalhador também apresentou aumento de 4%, comparado com o primeiro trimestre do ano passado, conforme dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Esses dados econômicos, contudo, desencadeiam um efeito em cascata que pode mexer com a taxa de juros. Ao ter mais emprego, os trabalhadores têm mais renda e tendem a consumir mais bens e serviços, o que eleva os preços em diferentes setores. A elevação de preços dos produtos em um curto espaço de tempo, o custo de produção repassado ao consumidor e a pouca oferta em alguns itens afetados pelas mudanças climáticas reaviva um fantasma há muito conhecido da população: a inflação.

O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado o indicador de inflação oficial do País, apresentou um recuo para 4,24% em agosto, com uma leve deflação de 0,02%. Apesar disso, o possível retorno do ciclo de alta da Selic se mantém no radar dos analistas do mercado financeiro e a expectativa só aumenta para a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), entre os dias 17 e 18 deste mês.

Como o PIB entra na conta?

Com o aumento de 1,4% no PIB, a economia mostrou que segue aquecida, mas de forma intensa, o que gera alertas em relação à pressão inflacionária, segundo o professor da FIA Business School, Alex Nery. Com isso, o Banco Central tem por natureza a missão de ancorar as expectativas inflacionárias à meta estipulada pelo governo de 3% ao ano e o instrumento monetário utilizado nessa luta é a taxa básica de juros.

“Um crescimento do PIB mais intenso do que o esperado pelos agentes econômicos, como o que vimos recentemente, pode levar o Banco Central a aumentar a Selic para evitar que esse aquecimento econômico gere uma inflação que comprometa a estabilidade dos preços no País”, explica Nery.

O dinamismo econômico ocorre no momento em que o mercado de trabalho está aquecido. “Com mais pessoas empregadas e recebendo maiores salários, o consumo tende a aumentar”, destaca. “A Despesa de Consumo das Famílias, por exemplo, cresceu 1,3% entre o segundo trimestre de 2023 e o segundo trimestre de 2024. Esse aumento da demanda por bens e serviços pode pressionar os preços, especialmente em setores como o de serviços, que tem mostrado inflação mais resistente.”

Como a Selic controla a inflação?

Segundo Nery, o Banco Central usa a taxa básica de juros para controlar a inflação. Ele cita um exemplo: “Quando a demanda cresce muito mais rápido do que a capacidade de oferta da economia, a tendência é de que os preços comecem a subir. Se o Banco Central detectar que a pressão inflacionária está subindo, ele em geral aumenta a Selic para tornar o crédito mais caro, desacelerar o consumo das famílias e o investimento das empresas e, com isso, reduzir a demanda e controlar os preços”, afirma.

O que o Copom leva em conta?

O Copom não olha somente para o cenário doméstico. Ele também observa como anda o exterior. A expectativa dos investidores é de que o Federal Reserve (banco central norte-americano) reduza a taxa de juros nos EUA, atualmente entre 5,25% e 5,50%.

Outros fatores que pesam na decisão são os dados da atividade econômica brasileira, no caso o PIB, e a inflação (IPCA), que são fatores-chave para a manutenção ou elevação da taxa.

“Quando o crescimento econômico ocorre de forma mais intensa do que o esperado, como o Copom apontou na ata da 264ª reunião, isso pode criar uma pressão sobre os preços, levando à inflação”, analisa Nery.

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