“A independência do BC foi uma conquista muito importante para os brasileiros”, diz Campos Neto
Durante evento organizado pela NuAssert e Invest News, Campos Neto explicou os motivos da importância
Em meio a discussões sobre possíveis interferências no Federal Reserve pelo governo do presidente Donald Trump e até mesmo a discussão sobre a autonomia do BC no Brasil, Roberto Campos Neto, vice-chairman do Nubank e ex-presidente do Banco Central, é categórico: “A independência do BC foi uma conquista muito importante para os brasileiros”.
Durante evento organizado pela NuAssert e Invest News nesta quinta-feira, Campos Neto explicou os motivos que o levam a essa opinião. “A autonomia proporciona um custo mais baixos de se atingir as metas de política monetária. Você ganha mais credibilidade, o que torna o canal de política monetária mais forte, e o custo de atingir suas metas fica mais baixo. É melhor para todos”, disse.
Ou seja: segundo ele, quando o BC tem mais credibilidade, precisa subir menos os juros para conseguir segurar a inflação. “Quando existe ataque a autonomia ao BC, enfraquecemos o canal de política monetária, fazendo com que tenha que fazer movimento maior nos juros”.
Em sua participação, Campos Neto falou ainda sobre as tarifas de importação dos Estados Unidos, da expectativa quanto aos juros e dívida nos EUA, e sobre a agenda de inovação promovida pelo Banco Central brasileiro. Confira trechos das falas do vice-chairman do Nubank.
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Tarifas nos Estados Unidos
Questionado sobre a imposição de tarifas de importação pelos Estados Unidos e seus impactos, Campos Neto lembrou do histórico de taxas no país.
“Quando a gente analisa histórico, percebemos que realmente eles tiveram um tratamento assimétrico, cobravam menos tarifas do que os países cobravam deles. Isso foi um pouco em troca de o dólar ser moeda de negociação”, explicou.
A literatura econômica, diz ele, traz três principais razões para o aumento de tarifas: receita (arrecadar mais), restrição (apoiar indústria local) ou reciprocidade. “Nos primeiros dois casos, existe histórico amplo de fracasso. No tema de reciprocidade, existe entendimento de que fica mais claro para se mover na linha de acordos comerciais”, explicou.
“Existe uma linha de argumentação de que se você tem reciprocidade, tem condições melhores de negociar queda de tarifas. Mas quando a gente olha o que está acontecendo nos EUA, a gente não consegue associar as tarifas ao tema da reciprocidade”, disse.
Segundo ele, no entanto, o que as tarifas conseguiram fazer até o momento foi aumentar a volatilidade nos mercados e gerar incerteza. “Toda incerteza é ruim. Nos investimentos, se tem investimento grande para fazer, a incerteza tende a frear o investimento”.
Juros nos EUA
Para Campos Neto, após o discurso de Jerome Powell em Jackson Hole, tem se consolidado a expectativa de redução de juros já em setembro. “Alguns dados começam a mostrar enfraquecimento, já temos alguns indicadores que mostram que a economia americana está um pouco menos forte”, diz.
O importante, no entanto, é olhar para a parte mais longa das curvas de juros, apontou o ex-presidente do BC. A parte mais longa da curva de juros tem a ver também com as expectativas sobre a dívida pública, tema que se tornou importante também nos países desenvolvidos no pós-pandemia.
“A dívida global cresceu muito na pandemia”, lembra Campos Neto, e um dos resultados disso foi que os BCs tiveram de levar os juros a patamares mais altos.
“Com isso, o custo de rolagem fica maior, e se o custo de rolagem é maior, isso suga liquidez de outros lugares”, explica. O resultado disso é o aumento nos déficits nominais, o que levanta a necessidade de ajuste. “Como tenho que equilibrar as contas em algum momento, ou corto gasto ou aumento imposto. A maioria dos países fez isso pelo aumento de impostos”, disse.
“Mas o imposto que não é em todas as áreas da economia e fatores de produção, é um imposto mais forte no estoque de capital do que na mão de obra. Isso gerou falta de produtividade grande, porque trouxe um maior emprego de mão de obra, já que isso fica mais barato que capital. É uma armadilha de baixo crescimento da produtividade, com envelhecimento da população”, explica.
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Inovação
Roberto Campos Neto falou ainda sobre as inovações recentes no mercado financeiro do Brasil. Segundo ele, depois dos avanços obtidos com o Pix, os próximos passos são avançar na conexão internacional de pagamentos instantâneos, redução da assimetria de informações e tokenização.
“A gente entende que open finance está ficando maduro, estamos caminhando para ter portabilidade imediata de produtos, o que de fato reduz assimetria de informação e gera maior competição”, disse.
“E a economia está indo para mundo tokenizado, e que dinheiro fica cada vez mais programável. Isso gera um grande ganho de eficiência em várias áreas, com a possibilidade de muitos produtos de nicho, eficiência no controle de riscos, financiamento, crédito”, completou. “Na parte de investimentos, acho que vamos ter novas possibilidades, instrumentos novos de investimentos, mais transparência e mais confiança”.
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