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Ata do Copom traz tom duro e deixa porta aberta para aceleração no ritmo de alta da Selic, dizem analistas

Para analistas, a ata reforça compromisso do colegiado com a convergência da inflação

Menos de uma semana após a decisão de elevar a Selic em 0,25 ponto porcentual, para 10,75% ao ano, o mercado aguardava a divulgação da ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), na manhã desta terça-feira. Para analistas do mercado, o tom da ata foi duro e reforça que os números sobre a atividade foram importantes para a decisão de elevar os juros. “O cenário, marcado por resiliência na atividade, pressões no mercado de trabalho, hiato do produto positivo, elevação das projeções de inflação e expectativas desancoradas, demanda uma política monetária mais contracionista”, diz a ata do Copom.

“Esse ritmo de crescimento da atividade, em contexto de hiato agora avaliado positivo, torna mais desafiador o processo de convergência da inflação à meta”, considerou. O colegiado observou que a conjunção de um mercado de trabalho robusto, política fiscal expansionista e vigor nas concessões de crédito às famílias segue indicando um suporte ao consumo e consequentemente à demanda agregada.

O Comitê repetiu que os próximos ajustes na taxa Selic dependerão, também, “da evolução da dinâmica da inflação, em especial dos componentes mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária, das projeções de inflação, das expectativas de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos”.

“Principalmente de um mês pra cá, tivemos um cenário pior para a questão inflacionária. A gente teve uma aceleração na inflação corrente, as expectativas de inflação acabaram piorando muito, num momento de fiscal ruim e com atividade econômica muito forte. Então é uma conjunção de fatores que gerou uma pressão inflacionária”, resume Cristian Pelizza, economista-chefe da Nippur Finance.

Para o economista-chefe da EQI Asset, Stephan Kautz, a ata ainda deixa em aberto qual será o ritmo de alta da Selic durante o ciclo atual. “O Comitê optou por uma alta de 0,25 ponto porcentual e não de 0,50 ponto porque o cenário continua muito incerto”, diz. “Eles [membros do Copom] optaram por deixar em aberto e dependente dos próximos dados”, detalha.

Outro ponto de destaque foi a coesão entre os membros do colegiado, destacou o Itaú Unibanco. Para o banco, o próximo passo do Copom será uma elevação de 0,50 ponto porcentual da Selic, que atualmente está em 10,75% ao ano. De acordo com o Itaú, a ata do Copom enfatizou também que a meta de inflação de 3% será integralmente cumprida, indicando que não há inclinação para utilizar a banda de tolerância em torno dessa meta.

A XP também considera o documento consistente com o cenário de aceleração no ritmo de alta de 50 pontos-base nas próximas reuniões. “A ata argumentou que o ‘início do ciclo deve ser gradual’. Mas, olhando à frente, o comitê preferiu permanecer dependente de dados, reforçando apenas seu ‘compromisso firme com a convergência da inflação para a meta’”, avaliam os economistas do time de macro da XP Investimentos, liderado pelo economista-chefe da casa, Caio Megale, em nota.

Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, considera que a ata foi dura e reafirmou o comunicado da semana passada. “Um ponto positivo da ata hoje foi que ela reafirmou o comunicado. Em outros momentos, parecia uma comunicação desalinhada. Enquanto o comunicado do Copom dizia algo, a ata dizia outra coisa”, pontua.

À frente, Sanchez afirma que há incertezas sobre até quando irá esse ciclo de política monetária, visto que as condições trazidas pela ata são “muito agudas”. “Chegamos à conclusão de que possivelmente essa mensagem ainda será suavizada nos idos de dezembro, a fim de tentar conter um pouco a velocidade das expectativas, com o controle da inflação”, afirma.

*Com informações da Agência Estado

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