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Copom eleva Selic em 0,25 p.p. e analistas comentam novo cenário e próximos passos

Decisão de nova taxa Selic foi unânime entre os nove integrantes do Copom

Decisão unânime, tom mais duro contra a inflação, preocupação com a atividade econômica e necessidade de avaliar novos dados para próximas decisões. Esses foram os pontos mais destacados por analistas do mercado sobre o comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgado na noite desta quarta-feira, 18/9.

O Banco Central decidiu por elevar a Selic, a taxa básica da economia brasileira, em 0,25 ponto porcentual, para 11,75% ao ano. O movimento de alta já era amplamente esperado, mas o mercado dividia-se entre as expectativas de aumento de 0,25 p.p. ou um mais duro, de 0,50 p.p. O comitê, no entanto, não deu indicações de quais serão as próximas decisões.

Segundo o comunicado, o cenário, marcado por resiliência na atividade, pressões no mercado de trabalho, hiato do produto positivo, elevação das projeções de inflação e expectativas desancoradas, demanda uma política monetária mais contracionista.

“Considerando a evolução do processo de desinflação, os cenários avaliados, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual, para 10,75% a.a., e entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante”.

O comitê ainda atualizou suas projeções de inflação para o primeiro trimestre de 2026 para 3,50%, no cenário de referência, ou seja, 0,5 p.p. acima da meta de inflação. Essa projeção considera uma inflação de 3,4% nos preços livres e de 3,9% nos administrados.

Outra novidade no comunicado foi uma menção à preocupação com a trajetória da atividade econômica. O BC tem um mandato único, de levar a inflação para a meta, mas os dirigentes escreveram: “Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego”.

Corte indica responsabilidade e decisão técnica

A decisão não surpreendeu o mercado, uma vez que a maior parte dos agentes esperava a alta da taxa de juros já nesta reunião. A maior dúvida era quanto à magnitude da elevação.

Na opinião de Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos, essa elevação de 0,25% na taxa Selic indica que o Copom está focado em conter a inflação, moderando o consumo e buscando manter a estabilidade do real. “Na minha visão isso reforça uma política monetária mais técnica para lidar com as pressões inflacionárias internas, e pode ser interpretado como uma sinalização de responsabilidade quanto a condução da política monetária, o que acaba aumentando a credibilidade do Brasil perante o investidor estrangeiro”.

A desvalorização do real frente ao dólar tem pesado bastante nessa trajetória de expectativa sobre a Selic, concorda Márcio Saito, CFO da Entrepay. “Embora tenha havido uma deflação em agosto, seu impacto foi praticamente nulo no cenário atual. O maior prejuízo, sem dúvida, recai sobre o setor produtivo. Com a alta dos juros e a depreciação cambial, as indústrias estão reduzindo seus investimentos, o que enfraquece a competitividade no mercado global. Isso também afeta diretamente a geração de novos empregos, que tende a ficar estagnada.”

Vale lembrar, afirma Felipe Queiroz, Economista-chefe da Associação Paulista de Supermercados (APAS), que com o alto corte de juros nos EUA, essa alta tende a atrair mais fluxos de capital estrangeiro, fortalecendo temporariamente a moeda brasileira. “Contudo, tal medida pode desacelerar o crescimento econômico, já que o crédito mais caro desestimula o consumo e os investimentos, gerando um possível impacto no ritmo de recuperação econômica”.

Já Lucas Constantino, diretor da GCB Capital, vê uma desancoragem das expectativas futuras, decorrente do alto grau de incertezas domésticas com os novos ruídos políticos, as recentes declarações de Galípolo e a piora verificada no balanço de riscos brasileiro – em especial o quadro fiscal – dentro de um contexto internacional bastante delicado, de uma taxa de câmbio ainda em patamar elevado e de um maior dinamismo da atividade brasileira, com potencial de trazer pressões sobre a inflação.

“Esse panorama foi responsável por ampliar o nível de prêmio na curva de juros, resultando nesta decisão do Banco Central brasileiro de forma unânime entre os membros”, aponta.

Paulo Gala, Economista-chefe do Banco Master, reafirmou a importância da decisão do Copom, ao dizer que “se ele não tivesse feito nada, basicamente estaria rasgando a meta de inflação”.

“Ele começou esse mini-ciclo, e eu tenho dito que é melhor um mini-ciclo agora do que um maior depois, então, é melhor fazer um movimento agora para tentar moderar e estancar a inflação, e não ter que fazer um choque de juros de verdade lá no futuro levando a Selic a 14%, 15% ou 16%”, apontou.

Para Jayme Carvalho, economista-chefe da SuperRico, os destaques ficaram pela unanimidade, o pouco reforço na questão fiscal e, principalmente no guidance em aberto tende a refletir em mais altas da Selic nas próximas reuniões.

Como o aumento da Selic afeta meus investimentos?

Em relação aos investimentos, Sant’Anna vê que o corte de juros dos EUA tende a favorecer o fluxo de capitais para mercados emergentes como o brasileiro, sobretudo com o aumento da Selic.

“Contudo, o que poderia ser uma oportunidade para os ativos de renda variável, pode ser tornar, na verdade, o pesadelo de alguns papéis. Já que no mesmo dia em que a remuneração da renda fixa americana perdeu um pouco de brilho, o título público brasileiro ganhou, abrindo caminho para que esses dólares migrem para o nosso “quintal”, em busca da rentabilidade e segurança do Tesouro Nacional”, afirma.

Para ele, ações ligadas a setores que precisam de crédito, como construtoras, tecnologia, turismo e varejo, ficam prejudicadas pelo “dinheiro mais caro” que nos impõem uma Selic mais alta.

E daqui pra frente?

Na leitura de Leonardo Costa, economista do ASA, o tom foi mais hawk (mais duro contra a inflação). Um dos pontos destacados por ele foi o de o Copom ter reconhecido que o hiato do produto está positivo – ou seja, que a economia está crescendo acima do PIB potencial. “Além disso, não se comprometeu com o ritmo de aumento de juro das próximas reuniões, se colocando dependente dos próximos dados de inflação, especialmente das medidas de núcleo (atualmente em patamar bastante elevado)”, disse Costa, em nota. A expectativa do ASA é de uma aceleração do ciclo de alta na próxima reunião, com mais duas altas de 50bps em novembro e de dezembro, encerrando o ciclo em 12% na reunião de janeiro/2025.

Alexandre Espírito Santo, economista da Way Investimentos e coordenador de Economia e Finanças da ESPM, por outro lado, projeta que o colegiado irá manter o ritmo de 0,25 p.p., encerrando o ano com a Selic a 11,25%.

Para Marcos Moreira, sócio da WMS Capital, um dos destaques foi a elevação nas projeções do Copom para a inflação em 2024 (de 4,2% para 4,3%) e 2025 (de 3,6% para 3,7%). “Ou seja, as projeções do próprio BC vêm confirmando uma visão de desancoragem das expectativas futuras de inflação no horizonte relevante, quando consideramos até o início de 2026”, disse.

Outro ponto de atenção, segundo ele, foi o fato de o comunicado não ter dado um guidance para as próximas decisões. “Temos a leitura de que o BC não quer se comprometer em dar sinais claros da magnitude de alta de juros que teremos olhando para frente”, disse. A WMS Capital também acredita na aceleração do ritmo de altas, com duas elevações de 0,50 p.p. neste ano e mais uma, de 0,25 p.p. no início de 2025.

Felipe Sant’ Anna, especialista em mercado da mesa proprietária Star Desk, diz que é interessante analisar nas próximas horas, qual será a posição do governo e de sua equipe econômica em relação ao anúncio, visto que Gabriel Galípolo, indicado por Lula para o próximo mandato à frente do BC, votou favoravelmente ao aumento, o que antes gerava críticas efusivas à atuação de Campos Neto.

“Mantemos a projeção de que os próximos passos do Banco Central podem incluir um ajuste de 50 pontos-base, com um possível término do ciclo de altas em 12% na primeira reunião de 2024, já sob a liderança do presidente Galípolo”, comentou também Rodrigo Romero, economista chefe da Levante.

O movimento de hoje deve contribuir para o processo de recuperação da credibilidade do colegiado, defende Danilo Igliori economista-chefe da Nomad. “Apesar da decisão não apresentar surpresas, a unanimidade será bem recebida. Mais importante ainda foi o tom dado no comunicado ao reconhecer no balanço de riscos todas as preocupações presentes entre analistas e agentes econômicos. Mesmo sem o chamado forward guidance, a meu ver, o Copom não quis deixar dúvidas de que farão o que for necessário para trazer a inflação para a meta”.

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