Notícias

Como o investimento estrangeiro direto no Brasil afeta o seu bolso

Investimentos estrangeiros diretos totalizam US$ 39,71 bilhões no ano até maio; entenda a importância deste número na decisão de onde aplicar seus recursos

Já imaginou receber uma quantia expressiva de dinheiro de alguém que acredita que você tem potencial de desenvolver grandes e rentáveis projetos e que, no longo prazo, pode oferecer retornos para esse investidor? Isso acontece no cenário micro, mas também no macroeconômico, com investidores que escolhem países diferentes de onde vivem para alocar parte de seu patrimônio – e, claro, obter lucros atrativos com essas aplicações.

De acordo com dados divulgados pelo Banco Central na manhã desta sexta-feira, 26, o investimento estrangeiro direto no Brasil teve uma baixa em maio. Naquele mês, o País recebeu US$ 4,5 bilhões de investimentos estrangeiros, enquanto as projeções apontavam para um valor de US$ 4,95 bilhões. Em março, o montante foi mais expressivo, de US$ 7,58 bilhões.

Considerando apenas o ano de 2022, o ingresso de investimentos estrangeiros destinados ao setor produtivo soma US$ 39,710 bilhões, e a estimativa do BC é que essa cifra chegue a US$ 55 bilhões até o fim de dezembro. No acumulado dos 12 meses (de maio de 2021 a maio deste ano), o saldo de investimento estrangeiro ficou em US$ 60,021 bilhões, o que representa 3,45% do Produto Interno Bruto (PIB).

Desde o começo do ano, o investimento estrangeiro direto no Brasil não apresenta uma trajetória muito bem definida. Em janeiro, o valor foi de US$ 4,70 bilhões. No mês seguinte, entretanto, o dinheiro destinado ao País teve uma disparada, totalizando US$ 11,84 bilhões. O montante registrado pelo Banco Central em fevereiro foi o maior do ano até aqui.

Mas o que é o investimento estrangeiro direto?

O investimento estrangeiro direto é uma modalidade de investimentos que envolve a movimentação de capital de um país para outro, sendo que, neste caso, o propósito específico é realizar um aporte de recursos em alguma empresa do país de destino.

As operações podem ser realizadas por instituições financeiras, outras empresas e até por investidores pessoa física. Entre as formas de investimento, cabe destacar:

  • Empréstimos entre companhias do mesmo grupo econômico;
  • Desenvolvimento ou aprimoramento das operações de um negócio no país de destino do investimento;
  • Criação de filiais;
  • Criação de joint ventures;
  • Fusões e aquisições;
  • Reinvestimento de lucros.

Benefícios do investimento estrangeiro

Segundo o Banco Mundial, os investimentos estrangeiros trazem uma série de benefícios, a começar pela geração de empregos no país em que o dinheiro é alocado com o objetivo de desenvolver novos projetos, movimentando o mercado de trabalho. No mesmo sentido, esses países conseguem ter uma melhor evolução de sua infraestrutura, com mais recursos voltados à pesquisa, ciência e tecnologia, sem contar o impacto dessas iniciativas para uma melhor qualificação dos profissionais dessas empresas.

Com tais investimentos, o mercado de trabalho tende a crescer, assim como as empresas localizadas no país de destino do dinheiro. Dessa forma, as economias (principalmente as emergentes) conseguem se aproximar daquelas que são as mais desenvolvidas e seus produtos e serviços se tornam mais competitivos.

Simultaneamente, mais dinheiro entrando em um país tende a contribuir para o crescimento de seu Produto Interno Bruto (PIB).

Outra tendência observada quando novos investimentos estrangeiros diretos são feitos em um país é a valorização de sua moeda em detrimento de outras divisas. Podemos pensar no caso do Brasil para entender essa lógica.

No início do ano, principalmente entre fevereiro e março, muitos investidores estrangeiros começaram a ficar de olho nas empresas nacionais exportadoras de petróleo. Com a crise geopolítica advinda da guerra entre a Rússia e a Ucrânia (região com grandes reservas de petróleo), a oferta da commodity foi comprometida, deixando o petróleo mais caro e, consequentemente, beneficiando as companhias exportadoras do produto.

Neste contexto, houve uma maior entrada de dinheiro internacional no Brasil. Para investir aqui, as alocações precisam ser realizadas em moeda nacional, e isso contribuiu para a redução da taxa de câmbio, o que, na prática, significa um dólar mais barato em relação ao real. Em contrapartida, quando os estrangeiros querem retirar dinheiro do País, a moeda nacional se desvaloriza, e o dólar sobe.

Situação do Brasil com investimentos estrangeiros

No último Relatório Trimestral de Inflação (RTI), divulgado em junho pelo Banco Central, a instituição reduziu suas expectativas quanto à entrada de dinheiro estrangeiro no Brasil. Isso ficou claro quando foi anunciado um indicador chamado Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), que – na ocasião – havia caído de -1,5% para – 2,7% no segundo trimestre de 2022.

De um modo geral, entenda a FBCF como um termômetro para a quantidade de bens de capital nas empresas brasileiras. Bens de capital são aqueles que têm a função de produzir outros bens, como uma máquina numa linha de produção industrial. Assim, a FBCF – que calculada trimestralmente pelo IBGE – demonstra se a capacidade produtiva do País está aumentando, o que, na prática, também indica se o grau de confiança dos empresários em relação aos prognósticos econômicos.

E antes que você pergunte o que a FBCF tem a ver com os investimentos estrangeiros diretos, saiba que parte dos recursos usados pelas empresas para incrementar sua linha de produção é composta não apenas por recursos internos, mas também tem uma força significativa advinda dos investidores estrangeiros.

E o seu bolso, diante de tudo isso?

Ainda que o Banco Central apresente indicadores preocupantes como a redução do FBCF e da própria contração do investimento estrangeiro direto, a economia brasileira conta um trunfo capaz de atrair a atenção dos investidores internacionais, reduzindo o impacto de uma saída massiva de capital do País.

Dados da Conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) para o Comércio e o Desenvolvimento divulgados no começo de junho revelam que, mesmo que as expectativas para o cenário macroeconômico global não sejam as mais otimistas – o que pode impactar com mais força os países emergentes -, o Brasil ainda é capaz de atrair parte dos investimentos estrangeiros por conta da valorização dos preços das commodities, por se tratar de um forte exportador desses produtos.

No ano passado, ainda segundo a ONU, o Brasil ocupou o sexto lugar no ranking de países que mais receberam investimentos estrangeiros diretos, totalizando US$ 50 bilhões, contra os US$ 28 bilhões registrados no ano anterior. E olha que 2021 não foi um ano fácil para a economia de nenhuma nação.

Mais uma vez, antes de se assustar com as notícias de uma eventual recessão global, é hora de buscar informações qualificadas com profissionais do mercado, lembrar que todo investimento deve ser feito com visão de longo prazo e entender que decisões tomadas só para seguir a maioria – o chamado efeito manada – quase sempre tem efeitos mais danosos do que as notícias ruins que aparecem no atual cenário macroeconômico.