Comunicação, inovação e crédito mais barato: Galípolo explica os pilares da agenda do BC
Durante o Febraban Tech, Gabriel Galípolo comentou agenda de inovações do BC e novas formas de estimular o crédito com garantia
Gabriel Galípolo, presidente do Banco Central do Brasil, está acostumado a ser questionado sobre a política monetária. A Selic vai subir? Vai ser mantida? Vai cair quando? Nesta terça-feira (10), um dia antes do período de silêncio por parte dos membros do Comitê de Política Monetária (Copom), no entanto, o presidente do BC se concentrou em outros temas. Falou dos pilares da agenda de trabalho do BC, que se divide em temas como comunicação, crédito e avanço institucional.
Em sua fala a um auditório lotado de profissionais dos setores bancário e de tecnologia, na abertura da Febraban Tech, o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, iniciou seu discurso pedindo desculpas. “Apesar dos avanços, as projeções dos economistas e os apps de trânsito têm espaço para aprimoramento”, brincou. Foram duas horas de trajeto da sede do BC, na avenida Paulista, até a zona Sul de São Paulo, onde acontece o evento.
A qualquer um que esperasse qualquer sinal sobre o que será decidido pelo Comitê de Política Monetária (Copom) sobre a taxa básica de juros na reunião que acontece na próxima semana, Galípolo foi taxativo: “Não há qualquer tipo de mensagem a ser passada quanto ao Copom”.
Mas isso enfatiza o papel central que a comunicação tem ganhado no trabalho dos BCs. “Comunicação é um tema bastante novo para o Banco Central. O BC começou a se comunicar com a sociedade de alguma maneira há 30 anos. Antes, nem decisões de política monetária tinham governança na comunicação como hoje. Contam os livros que, naquele período, quando jornalistas queriam saber se havia mudança na taxa básica de juros, tinham que ligar para as tesourarias dos bancos para saber se as taxas das compromissadas tinham mudado”, disse Galípolo.
No entanto, diz ele, comunicação é tema essencial para o BC hoje. “É uma ferramenta absolutamente essencial para a potência e eficiência da política monetária, a ponto de essa comunicação de política monetária ter virado uma ciência própria. Pessoas se dedicam a tentar entender o que significa cada palavra, mas esse processo envolve um dialeto de política monetária que é bastante hermético para público em geral”.
Nos últimos anos, o BC brasileiro vem tentando se aproximar da sociedade. Não à toa, a conta do Bacen nas redes sociais é repleta de brincadeiras, vídeos explicativos e memes.
“O BC tem o compromisso de se comunicar cada vez mais com outros públicos. Isso tem sido um grande desafio para todos nós banqueiros centrais. Acho que o BCB é um caso sucesso, a equipe que tem criatividade fantástica e usa redes sociais para falar especialmente o que são as inovações que vieram nos últimos anos e qual o impacto dessas inovações para a vida das pessoas”, afirma Galípolo. Segundo ele, o BIS (também conhecido como o banco central dos bancos centrais) chega a utilizar a equipe brasileira como fonte de consultoria.
Esse diálogo se estende também ao setor produtivo. Galípolo comentou o futuro lançamento do boletim Firmus, que irá ouvir empresas do setor não-financeiro para entender quais são as suas expectativas quanto às principais variáveis macroeconômicas – de forma similar ao que o Boletim Focus faz semanalmente.
Revolução do sistema financeiro
Galípolo falou também sobre o que chamou de revolução no sistema financeiro brasileiro que aconteceu nos últimos anos, que promoveu a inclusão financeira e a criação de novos produtos e serviços.
Como exemplo, ele lembrou dos avanços do PIX desse ano. Ainda neste mês, por exemplo, começará a funcionar o PIX automático, que permitirá fazer pagamentos recorrentes. “O Pix automático vai facilitar o recebimento das empresas, que não precisam ter contrato ou conta na instituição financeira do cliente para cobrança do débito automático, e vai dar mais segurança para o cliente, com menor risco de ter o cartão clonado”. Além disso, a ferramenta dá acesso aos brasileiros sem cartão de crédito a serviços de assinatura online, lembrou ele.
O presidente do BC citou também o PIX por aproximação, que segundo ele dá mais agilidade e segurança aos pagamentos, o PIX parcelado e o PIX em garantia, que permitirá usar fluxos futuros de pagamento no PIX como garantia em operações de crédito.
Crédito com garantia
Entre os pilares da agenda do Banco Central, Galípolo destacou a ampliação do acesso ao crédito de menor custo. Para isso, citou a necessidade de facilitar a colateralização dos créditos – em outras palavras, facilitar a contratação de linhas de crédito com garantia, que tendem a ter taxas de juros mais baixas do que linhas como rotativo do cartão de crédito ou crédito pessoal.
“Aumentar o processo de colateralização para que a população possa fazer financiamento de forma mais planejada, para que se recorra menos a linhas de crédito vistas como mais emergenciais e que não deveriam ser acessadas de forma recorrente”, ressaltou Galípolo.
Até mesmo o DREX, a moeda digital do Banco Central, tem papel importante nessa jornada. “A agenda do DREX é muito mais de ser um DLT [distributed ledger technology, um tipo de infraestrutura de dados], que vai usar contratos inteligentes e tokenização para promover mais facilidade de colateralização de ativos para crédito com garantia”, disse. “Queremos avançar nessa agenda de redução de percepção de risco por quem está concedendo o crédito e facilidade de garantia por quem está tomando crédito”, disse.
Poupança e financiamento imobiliário
Galípolo citou rapidamente, ainda, a redução do estoque de investimentos na poupança e os impactos disso para o país. Hoje, os recursos da caderneta representam a principal fonte de financiamento para o mercado imobiliário. Nos últimos anos, entretanto, esses recursos têm ficado mais escassos.
“Entendo que é uma questão mais estrutural, a caderneta de poupança paga remuneração difícil de competir com outras alternativas”, diz. “Isso impõe ao BC e ao sistema financeiro a busca por alternativas de funding, para que a gente possa migrar para outros modelos de financiamento habitacional. [Estamos criando] uma ponte para um modelo de financiamento que vai usar captação de mercado e busca alcançar uma participação adequada do crédito imobiliário no nosso PIB”.
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