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Copom eleva Selic para 14,25% a.a. e antevê alta menor em maio

Decisão do Copom já era esperada pelo mercado e segue a sinalização da última reunião

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu, nesta quarta-feira (19), aumentar a Selic em 1 ponto percentual, para 14,25% ao ano. A decisão já era esperada pelo mercado e segue a sinalização da última reunião, realizada em janeiro.

“O Comitê antevê, em se confirmando o cenário esperado, um ajuste de menor magnitude na próxima reunião. Para além da próxima reunião, o Comitê reforça que a magnitude total do ciclo de aperto monetário será ditada pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerá da evolução da dinâmica da inflação”, indica o comunicado. 

Essa foi a quinta alta seguida da Selic. A taxa está no maior nível desde outubro de 2016, quando também estava em 14,25% ao ano. A decisão foi unânime entre os nove integrantes do colegiado na segunda reunião de Gabriel Galípolo como presidente do BC

No comunicado, os membros do comitê avaliam que o ambiente externo permanece desafiador, “em função da conjuntura e da política econômica nos Estados Unidos, principalmente pela incerteza acerca de sua política comercial e de seus efeitos”.

O documento ressalta ainda que esse contexto traz dúvidas quanto ao ritmo de desaceleração e da desinflação das economias, quanto à postura do Fed e ao crescimento global. “O Comitê avalia que o cenário externo segue exigindo cautela por parte de países emergentes”, diz o colegiado.

Sobre a economia brasileira, o Copom avaliou que os indicadores de atividade e do mercado de trabalho têm apresentado dinamismo, “ainda que sinais sugiram uma incipiente moderação no crescimento”.

Além disso, o comunicado ressalta que “a inflação cheia e as medidas subjacentes mantiveram-se acima da meta para a inflação e novamente apresentaram elevação nas divulgações mais recentes”, citando a desancoragem das expectativas, pelo relatório Focus.

Repercussão do mercado

A decisão já era amplamente esperada pelo mercado. Dessa forma, os analistas se concentraram no que o comunicado indica para as próximas decisões de política monetária. Marcos Moreira, sócio da WMS Capital, ressalta que essa foi a última alta das que estavam contratadas no guidance da reunião de dezembro. “Podemos dizer que definitivamente agora a bola está com o Galipolo”, diz. “Muito provavelmente teremos um tom mais brando por parte do BC adiante, visto que o fator câmbio vem ajudando bastante dado a apreciação do real frente ao dólar nas últimas semanas”, completa.

Natalie Victal, economista-chefe da SulAmérica Investimentos, avaliou o comunicado como hawkish – ou seja, mais duro no combate à inflação. O Copom foi “cauteloso na parte de atividade, ao falar em ‘sinais sugiram de uma incipiente moderação no crescimento’. Destaque aqui para a palavra ‘incipiente’”, diz ela. Por outro lado, o comitê foi mais suave (dovish) ao falar em “defasagens inerentes ao ciclo de aperto monetário em curso”, completa.

Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master, por outro lado, entende que o comunicado mostra sinais de moderação. “Ele registra uma moderação da atividade econômica de uma maneira curiosa”, diz ele. O colegiado aponta que “os indicadores de crescimento de atividade econômica e o mercado de trabalho apresentaram dinamismo, ainda que sinais sugiram uma incipiente moderação no crescimento. Então, vejam que tem as palavras ‘sinais’ e ‘incipiente’, quase uma redundância. É o início de sinal de uma possível moderação, foi assim que ele registrou os últimos dados, que estão mais fracos”, conclui.

“O avanço das discussões sobre o novo arcabouço fiscal e a capacidade do governo de cumprir metas de resultado primário serão fatores determinantes para a trajetória futura da Selic. Um eventual descompasso entre a política monetária e a sustentabilidade fiscal pode reacender preocupações com o prêmio de risco e pressionar a curva de juros futuros”, comenta Mayara Oliveira, economista da Droom Investimentos.

“Nossa projeção indica que a pressão inflacionária deve continuar, com o IPCA de março consolidando-se acima de 5,4% no acumulado de 12 meses. Diante desse contexto, consideramos coerente que o Banco Central mantenha o ciclo de alta, com um aumento adicional de 0,75 ponto percentual na reunião de maio”, afirma Ariane Benedito, economista-chefe do PicPay. “Se as condições econômicas e o balanço de riscos se mantiverem inalterados ou se deteriorarem, nossa projeção para a taxa de juros ao final do ciclo de alta seguirá em 15%, sem expectativa de cortes ainda este ano”, completa.

A questão que se coloca agora é qual o ritmo de redução na reunião de maio – e mais importante, até qual nível o Copom irá subir os juros nesse ciclo de aperto. “A dúvida é a Selic terminal, ou seja, o fim do ciclo, e eles deixam bem claro, assim como nos últimos comunicados, que vão perseguir a inflação dentro do centro da meta, no horizonte relevante. E esse horizonte relevante é de um ano a um ano e meio, eles já estão olhando para a metade de 2026”, diz Marcelo Bolzan, planejador financeiro e sócio da The Hill Capital.

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