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Copom reduz ritmo de cortes e Selic vai a 10,50%, em decisão dividida

Essa é a sétima vez consecutiva que o comitê optou por cortar a taxa, a primeira em 0,25 p.p.

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) anunciou uma redução da Selic em 0,25 ponto porcentual nesta quarta-feira, 8. Assim, a taxa básica de juros do País vai a 10,50% ao ano. A decisão vai ao encontro da expectativa de parte do mercado; outros esperavam um corte de 0,50 p.p.

Essa é a sétima vez consecutiva que o comitê optou por cortar a taxa, a primeira em 0,25 p.p., depois de seis cortes em 50bps. A decisão foi dividida entre os integrantes do colegiado, 5 a 4 para o corte de menor magnitude.

Além disso, o Comitê optou por retirar o foward guidance (orientação futura) sobre a próxima decisão. “O Comitê também reforça, com especial ênfase, que a extensão e a adequação de ajustes futuros na taxa de juros serão ditadas pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta”, diz o comunicado.

E complementa: “a política monetária deve se manter contracionista até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas”.

Cenário externo pesou sobre decisão

O comunicado do Copom ressaltou um cenário externo mais adverso como principal motivo para o corte em menor magnitude do que estava sendo feito. A incerteza persistente sobre o início de flexibilização da política monetária nos Estados Unidos e a velocidade com que se observará a queda da inflação de forma sustentada em diversos países foram destacadas.

“Os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas em um ambiente marcado por pressões nos mercados de trabalho. O Comitê avalia que o cenário segue exigindo cautela por parte de países emergentes”, afirma o documento.

Economia doméstica mais dinâmica

O Comitê ainda apontou que o cenário econômico doméstico está mais dinâmico que o esperado, e que acompanha com atenção “os desenvolvimentos recentes da política fiscal e seus impactos sobre a política monetária”.

“Uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida contribui para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária”.

Por fim, o comunicado diz que o Comitê de Política Monetária, unanimemente, avalia que o cenário global incerto e o cenário doméstico marcado por resiliência na atividade e expectativas desancoradas demandam maior cautela.

Economistas destacam tom duro e decisão dividida

Para Rachel de Sá, chefe de economia da Rico, o destaque do comunicado é o tom mais duro em relação à inflação e à política fiscal. “Apesar da decisão dividida em 5 a 4, o tom do documento foi firme contra a inflação, um tom hawkish sobre o cenário de inflação externo e interno. Outro ponto que vale destacar é que os comunicados anteriores traziam o mesmo texto sobre importância da parte fiscal, e neste veio um recado um pouco mais forte em relação ao tema”.

+ Hawkish ou dovish? Entenda os ‘tons’ da política monetária

Para a economista, apesar de a decisão de corte de 0,25 p.p. já ser esperada por grande parte do mercado, o Comitê não deixou nenhuma indicação de quais serão os próximos passos do Comitê. Apenas reforçou que o cenário exige cautela e ressaltou a importância de manter uma política contracionista.

A desancoragem das expectativas quanto à inflação também pesou sobre e decisão, aponta Raphael Vieira, co-head de investimentos da Arton Advisors. “O comitê ressalta que a decisão foi tomada tanto pelo cenário externo mais desafiador como por um estágio do processo desinflacionário, que tende a ser mais lento, e por uma desancoragem nas expectativas de inflação, ou seja, a união tanto do cenário externo como das expectativas de inflação”, diz.

A divisão dos votos na decisão também foi ressaltada, com os economistas destacando atenção com que o mercado deve reagir ao fato.

“A divisão dos votos, 5 por 0,25 e 4 por uma queda de 0,50, sendo que desses 4, 3 são de novos diretores indicados pelo governo atual, pode trazer um certo nervosismo no mercado por conta de uma expectativa de que o próximo Banco Central esteja menos preocupado com o atingimento da meta de inflação”, aponta Jayme Carvalho, economista-chefe da SuperRico.

Camila Abdelmalack, da Veedha Investimentos, destaca que essa preocupação já pode aparecer nos preços amanhã. “Na quinta-feira (9), o investidor pode repercutir a divergência de votos no colegiado. Inclusive, essa incerteza pode acrescentar prêmio aos preços dos ativos”. O comunicado foi “seco” e não há sinalização sobre os próximos passos. Na circunstância de divergência de votos, a ata do Copom será lida com lupa na próxima semana”.

“Existem sinais cada vez mais fortes de que a inflação está persistente e de que temos uma dependência muito grande do mercado internacional, que vem sofrendo com a persistência da inflação”, afirma Bruno Corano, economista e investidor da Corano Capital, em nota. “Também já tem um sinal claro de que a tragédia no Rio Grande do Sul, de uma forma ou de outra, vai ser um fator contribuinte para fazer a inflação resistir ainda mais, ou levemente pressionar o índice para cima”.

Agora, as expectativas se concentram sobre a divulgação da ata da reunião, na próxima semana. “Será muito importante aguardar a ata do Copom para tentar descobrir os motivos que levaram ao dissenso. Continuamos acreditando que o comitê continuará com o ciclo de redução de juros no curto prazo, com cortes de 0,25p.p. Ao final do processo, enxergamos a taxa Selic em 9,75% a.a.”, comenta Flávio Serrano, economista-chefe do Banco Bmg.

Investimentos e reserva de emergência

Para Vinicius Romano, especialista em Renda Fixa da Suno Research, apesar da expectativa de continuidade da queda da Selic, “o patamar atual ainda proporciona uma boa relação risco x retorno para os pós-fixados, já que estes praticamente não sofrem com marcação a mercado e são positivamente impactados pelo alto nível da taxa básica de juros, que se mantém acima de dois dígitos”.

Rachel de Sá também destaca a atratividade da renda fixa. “Para os investidores, temos que olhar mais a tendência, e essa é de que a Selic continue caindo e que este ciclo de queda vá até 10% ao ano. Com isso, segue uma taxa elevada, com títulos pós-fixados mantendo seu papel importante na carteira, principalmente em relação a caixa, investimentos de curto prazo e reserva de emergência”.

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