Copom reitera cortes de 0,5 p.p. na Selic e vê caminho longo para inflação chegar na meta
Cenário consta na ata da última reunião do Comitê, que desacelerou a Selic para 11,75% ao ano. Copom também reforçou recado sobre metas para as contas públicas.
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central avaliou que vai continuar a promover novos cortes de 0,5 ponto percentual na taxa básica de juros nas próximas reuniões. Segundo o colegiado, esse cenário mantém “a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário.
A informação consta na ata da reunião da semana passada que desacelerou a Selic para 11,75% a.a., menor patamar em quase dois anos. Foi o quarto corte seguido dos juros. O documento foi publicado nesta terça-feira, 19/12.
“Optou-se por manter a comunicação recente, que já embute a condicionalidade apropriada em um ambiente incerto, especificando o curso de ação caso se confirme o cenário esperado”, diz um trecho do documento.
Em relação a extensão do ciclo de cortes da Selic, o Copom afirmou que isso “dependerá da evolução da dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica”.
Para o economista-chefe da Nova Futura, Nicolas Borsoi, a ata confirma que não haverá aceleração nos cortes da Selic, como foi aventado por alguns analistas nas últimas semanas.
“O Copom só mudará seus planos se a economia tiver uma desaceleração mais intensa, o que poderia levar a uma queda da inflação mais rápida, o que respingaria no processo de reancoragem das expectativas. Não vejo motivos para mudar o cenário e seguimos com Selic em 9,5% em 2024 e 8,5% em 2025”.
“Caminho longo” em direção a meta
O documento afirmou que a inflação ao consumidor segue uma trajetória de queda, mas que as expectativas do mercado, e do próprio BC, seguem “desancoradas”, ou seja, longe da meta de 3% fixada para os próximos dois anos. O Copom vê esse cenário com preocupação.
“O Comitê avalia que houve um progresso desinflacionário relevante, em linha com o antecipado, mas ainda há um caminho longo a percorrer para a ancoragem das expectativas e o retorno da inflação à meta, o que exige serenidade e moderação na condução da política monetária”, acrescentou.
Segundo o Comitê, as incertezas no cenário externo, que tem se mostrado volátil, ainda exigem cautela, apesar de um quadro de inflação em desaceleração. Entre os desafios, o Copom destaca “o contexto geopolítico incerto e os mercados de trabalho aquecidos”.
Moderação do crescimento econômico
Em relação a economia brasileira, o colegiado avaliou que “houve uma moderação do crescimento econômico”, em linha com o esperado. Mas ponderou que “a resiliência do consumo das famílias”, com o aumento da renda, tem gerado preocupação.
No 3º trimestre, o Produto Interno Bruto do país surpreendeu e avançou 0,1%, acima do esperado pelo mercado. Essa aumento foi puxado justamente pelo consumo das famílias.
Em outro trecho, o Copom afirmou que “a evolução do hiato do produto [que mede a ociosidade da economia] e o comportamento do mercado de trabalho foram considerados muito relevantes para determinar a velocidade com que a inflação atingirá a meta”.
“O mercado de trabalho está em situação de aquecimento, o que tem gerado pressões salariais reais, o que deve ser transitório. No entanto, diferente da ata anterior, o Copom afirma que é preciso acompanhar de forma minuciosa essa dinâmica de salários”, explica Bolsoi.
O recado sobre as metas fiscais
A ata da última reunião do Copom voltou a reforçar o recado para o governo seguir em busca da meta fiscal para as contas públicas – inclusive da projeção de déficit zero em 2024.
“Tendo em conta a importância da execução das metas fiscais já estabelecidas para a ancoragem das expectativas de inflação e, consequentemente, para a condução da política monetária, o Comitê reafirma a importância da firme persecução dessas metas”.
Ao não atingir a meta fiscal, o governo eleva o montante de recursos na economia, o que pressiona a inflação.
Ainda segundo o colegiado, um “esmorecimento” na aprovação de reformas e na disciplina fiscal, além de um aumento do crédito direcionado, pode trazer incertezas sobre a estabilização da dívida o pública. Isso pode elevar a taxa de juros neutra da economia, que controla a inflação e permite crescimento do PIB.
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