Dólar termina o ano no menor patamar desde agosto; o que esperar da moeda em 2024?
Balança comercial do país em alta, melhores perspectivas para a arrecadação federal e diferencial de juros entre Estados Unidos e Brasil ajudam o real a se valorizar
O dólar é a principal moeda utilizada nas transações comerciais do planeta e é considerado um porto seguro dos investidores em momentos de incertezas e instabilidades político-econômicas.
Entretanto, em 2023, a moeda americana teve um ano para esquecer. Até terça-feira, 26/12, o dólar somou desvalorização de 8,64% sobre o real. Em números, a cotação da moeda começou o ano em R$ 5,28 e termina no patamar próximo de R$ 4,80.
Os três principais motivos para a valorização da moeda brasileira frente americana em 2023 foram:
- o recorde da balança comercial;
- a surpresa positiva de um governo com mais austeridade – com perspectivas de melhora das contas públicas;
- e o chamado diferencial de juros entre Brasil e outras nações como os Estados Unidos, que se manteve alto, o atraiu capital estrangeiro para o país.
No acumulado de 2023, até a 4ª semana de dezembro, o saldo comercial com outros países era positivo em US$ 95,9 bilhões para o Brasil. Esse é o maior valor desde o início da série histórica em 1989, segundo a Secretaria do Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Secex/Mdic).
A média diária de exportações em dezembro (US$ 1,3 bilhão), avançou 15,2% quando comparada a dezembro do ano passado. O desempenho foi impulsionado pelo avanço dos embarques da agropecuária (20,6%), indústria da transformação (15%) e extrativa (12,6%).
Segundo a chefe de Economia da Rico Investimentos, Rachel de Sá, as contas externas sólidas tendem a sustentar uma moeda valorizada.
“Seguimos atraindo forte fluxo de capital estrangeiro tanto pela via comercial quanto de investimentos, impulsionados – entre outras coisas – pela supersafra agrícola e pela posição relativamente positiva quando comparado a outros emergentes, mais expostos a elevados riscos geopolíticos, como Rússia e Turquia”, explicou.
E o dólar em 2024, o que esperar?
Para o economista, André Perfeito, as perspectivas para a moeda americana em 2024 vão depender dos mesmos fatores que listamos em 2023.
“O superávit comercial recorrente, especialmente por conta da virada na balança de petróleo e derivados que é favorável ao Brasil. E a perspectiva de corte de juros nos Estados Unidos, que se intensificada enfraquece a divisa via diferencial de juros maior”, explica.
O mundo também segue de olho na evolução das contas públicas do país. Segundo o analista, o cenário de crescimento econômico traz uma perspectiva de aumento de arrecadação e diminuição dos problemas fiscais.
“O recente upgrade da nota de crédito pelo S&P também indica a percepção mais benigna com o Brasil e não me surpreenderia em melhoras adicionais da nota o ano que vem”, ponderou.
Dólar: entenda por que ele sobe e desce e como afeta os brasileiros
No último boletim Focus do ano, as instituições financeiras ouvidas pelo Banco Central, projetaram um dólar a R$ 5 no fim de 2024. A analista da Rico está mais otimista e espera que a moeda americana fique em R$ 4,85.
“Essa projeção não significa que esse será o valor da taxa de câmbio ao longo de todo o ano. Pelo contrário, esperamos que o sobe e desce do dólar siga presente, especialmente diante do alto nível de incerteza nos cenários global e doméstico”, afirma Rachel de Sá.
Já para o economista André Perfeito, o cenário é tão favorável que o dólar pode se desvalorizar ainda mais e chegar até a R$ 4,30.
“Estruturalmente a economia brasileira mudou de patamar no setor externo e isto ficará cada vez mais evidente ao longo do ano que vem”, concluiu.
Quer entender o que é macroeconomia e como ela afeta seu bolso? Acesse o curso gratuito Introdução à Macroeconomia, no Hub de Educação da B3.