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Em discurso na China, Lula questiona dólar como moeda no comércio entre os Brics

Presidente defendeu divisa alternativa para transações entre Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (Brics) durante a posse da ex-presidente Dilma no comando da organização

Lula. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
O presidente da República do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, do Partido dos Trabalhadores (PT). Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) teve nesta quinta-feira, 13/04 (madrugada no Brasil) o seu primeiro compromisso em visita oficial a China. Ele participou da cerimônia de posse da ex-presidente Dilma Rousseff para o comando do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB, na sigla em inglês), em Xangai. Durante discurso, Lula defendeu o uso de uma moeda alternativa ao dólar no comércio internacional entre os países do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).

“Toda noite me pergunto por que todos os países precisam fazer seu comércio lastreado no dólar. Por que não podemos fazer comércio lastreado na nossa moeda? Por que não podemos ter o compromisso de inovar? Quem é que decidiu que era o dólar a moeda depois que o ouro desapareceu como paridade? Por que não foi o yen? Por que não foi o real, o peso? Porque as nossas moedas eram fracas, não tinham valor em outros países”.

Lula também afirmou que os bancos centrais poderiam ajudar os países a usar as próprias moedas nas relações comerciais, sem o dólar. Em janeiro, os BCs do Brasil e da China assinaram um acordo para permitir comércio e investimentos em suas moedas. O presidente também defendeu a criação de uma divisa dos Brics.

“Porque que um banco como o Brics não pode ter uma moeda que pode financiar a relação comercial entre Brasil e China, entre Brasil e outros países do Brics? É difícil porque tem gente mal-acostumada porque todo mundo depende de uma única moeda. Eu acho que o século XXI pode mexer com a nossa cabeça e pode nos ajudar, quem sabe, a fazer as coisas diferentes”, disse.

Os analistas de relações internacionais viram nas declarações de Lula um tom desafiador a influência americana nos países e um alinhamento demasiado as recentes declarações do governo chinês de multipolaridade. Em uma alusão ao governo anterior, o petista disse ainda que o “Brasil voltou depois de uma ausência inexplicável”.

Lula e os Brics

O presidente brasileiro é o primeiro chefe de Estado brasileiro a visitar o Banco dos Brics que tem como objetivo promover investimentos e financiar obras e projetos em países parceiros. Desde sua criação em 2015 até o ano passado, a instituição aprovou U$ 32,8 bilhões para 96 projetos em infraestrutura e desenvolvimento sustentável.

Lula viajou ao principal parceiro comercial brasileiro para tratar das relações comerciais e assinar acordos de cooperação entre os dois países. O presidente se reúne com o mandatário chinês, Xi Jinping, nesta sexta-feira, 14/04.

Visita a Huawei e outros compromissos

O presidente Lula também visitou a sede da gigante de tecnologia Huawei onde participou de uma apresentação sobre 5G e soluções em telemedicina, educação e conectividade. A companhia é vista com muita desconfiança pelo governo dos Estados Unidos, pois é considerada um risco à segurança dos países por, segundo as autoridades americanas, ser um braço de espionagem do governo chinês.

Em uma recepção calorosa, Lula entrou no centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Huawei ao som de “Garota de Ipanema”, de Tom Jobim e Vinícius de Moraes, tocado por músicos.

Lula teve reuniões com executivos das áreas de energia sustentável e comunicações, além de se encontrar com o presidente do Conselho da China Communications Construction Company (CCCC), Wang Tongzhou, a maior empresa de construção civil do país.

O presidente também se reuniu com o CEO da empresa de veículos elétricos BYD, Wang Chuanfu. A companhia produz ônibus elétricos e negocia uma fábrica de automóveis em Camaçari, na Bahia.

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