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Balanços corporativos mexem com o mercado externo; bancos e big techs estão no foco

Ações do First Republic Bank despencaram, após queda maior que o esperado nos depósitos. Mercado ainda aguarda, após o pregão, os resultados da Alphabet e Microsoft

Uma mão segurando um saco de sisal estampado com cifrão transfere o pacote para uma mão extendida
A temporada de balanços divulgada por companhias deve estar no radar de investidores. Foto: Adobe Stock

Os investidores internacionais começaram a analisar nesta terça-feira, 25/04, uma enxurrada de resultados corporativos (os balanços) nos Estados Unidos, em busca de pistas sobre a saúde das empresas no 1º trimestre deste ano. A tensão diante desses números acontece em meio a escalada dos juros, inflação ainda em patamares elevados e desaceleração do crescimento econômico. Se soma a esse cenário, as fortes turbulências bancárias enfrentadas no início de 2023.

O primeiro grande impacto no humor do mercado veio com os resultados ruins do First Republic Bank (FRB). Apenas em março, os clientes retiraram cerca de US$ 100 bilhões em depósitos da instituição, após as falências de dois bancos importantes no cenário americano, o Silicon Valley Bank (banco das startups) e o Signature Bank (voltado para o mercado de criptomoedas). Os depósitos caíram mais de 40%, para US$ 104,5 bilhões no final do primeiro trimestre, de US$ 176,4 bilhões no fim de dezembro.

No primeiro trimestre, o lucro do FRB caiu 33%, para US$ 269 milhões, contra US$ 401 milhões no ano anterior. Desde o início de março, as ações do First Republic perderam cerca de 90% de seu valor. Segundo analistas, há uma preocupação de que a fuga de depósitos tenha deixado a instituição com saúde financeira ruim na comparação com os concorrentes – com custos de financiamento mais altos, o que espreme a sua capacidade de gerar lucros com empréstimos.

Para o economista-chefe do banco Master, Paulo Gala, apesar do mês de abril ter sido mais tranquilo em relação a crise bancária, o First Republic continua sob risco – o que impacta nas ações. Os juros em patamares elevados também trazem problemas aos bancos menores, já que os papéis do tesouro americano passam a ser mais rentáveis para os investidores, do que deixar o dinheiros nos bancos privados.

“Uma Treasury [papel do tesouro americano] de dois anos paga 5% de juros ao ano, enquanto os bancos estavam remunerando os depósitos entre 0,5% ao ano e 1% ao ano. Então não tem muito como evitar essa migração de depósitos. Inclusive, isso tem provocado uma contração de crédito nos Estados Unidos – que é um dos principais canais de funcionamento da política monetária. O Fed sabe disso, está monitorando. Portanto é um movimento esperado por conta do choque de juros que está sendo feito”.

Na Europa

Na Europa, o banco suíço UBS teve lucro líquido de US$ 1,03 bilhão nos primeiros três meses do ano – queda de 51,8% em relação aos US$ 2,14 bilhões no mesmo período do ano anterior. Segundo a instituição, o resultado foi afetado por provisões de litígios sobre títulos lastreados em hipotecas residenciais americanas. Importante lembrar que o UBS adquiriu em março o falido Credit Suisse.

Diante desses resultados, as bolsas dos Estados Unidos e da Europa operam em queda, reacendendo as preocupações dos investidores, mesmo após bons números divulgados na semana passada dos quatro maiores bancos americanos: JPMorgan, Citigroup, WellsFargo e PNC.

O especialista da Valor Investimentos, Charo Alves, explica que os números ruins dos bancos americanos menores geraram uma expectativa maior de recessão nos Estados Unidos. Se soma a esse cenário uma inflação elevada por mais tempo, já que juros muito altos podem impactar ainda mais as instituições financeiras.

“Os números ruins geram uma expectativa de recessão mais eminente. Indicam também uma inflação que vai perdurar nos EUA por mais tempo. O BC americano deve subir os juros em um patamar de 0,25 ponto percentual, sendo que deveria subir mais do que isso para poder conter a inflação. Só que se avançar muito, acaba batendo nos bancos e gerando um problema mais grave”.

Balanços das Big Techs

A terça-feira nos Estados Unidos também será marcada pelos resultados do 1º trimestre de algumas Big Techs (grupo das gigantes de tecnologia). A Alphabet (dona do Google) e a Microsoft divulgam seus balanços hoje, após o fechamento do mercado. Até o fim desta semana, Amazon, Apple e Meta (grupo controlador do Facebook, Instagram e WhatsApp) também apresentam os seus resultados.

Segundo analistas, a Alphabet deve registrar um crescimento fraco das receitas. Mesma situação da empresa de Bill Gates, apesar de melhoras no seu sistema de inteligência artificial de pesquisas.

A divulgação dos balanços acontece uma semana antes da reunião do Federal Reserve (Fed) – o banco central americano – que deve subir em 0,25 ponto percentual os juros, com perspectivas de cortes no segundo semestre. As taxas devem terminar o ano abaixo de 4,5%.

“O que será crucial para as perspectivas em tecnologia são as expectativas de taxa [de juros], já que esse setor é muito sensível a elas. Atualmente o mercado está precificando cortes rápidos para o segundo semestre deste ano”, afirmou Ann-Katrin Petersen, estrategista de investimentos do BlackRock Investment Institute, à Bloomberg.  

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