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Clima imprevisível afeta vendas de varejistas no Brasil, aponta pesquisa do BTG

O desafio das varejistas, agora, é adaptar as coleções com roupas mais leves e designs modernos diante das mudanças climáticas para evitar as perdas

As altas temperaturas registradas no 2º trimestre deste ano levaram à queda nas vendas de roupas de inverno, conforme uma pesquisa realizada pelo BTG Pactual. Com o clima cada vez mais imprevisível, especialmente no segundo trimestre de cada ano, o desafio das empresas varejistas é adaptar as coleções com agilidade para evitar as perdas.

O estudo analisou dados do 2º trimestre dos anos de 2010 a 2024 das cinco principais empresas de moda de capital aberto do País: Arezzo (hoje unida com o Grupo Soma), C&A, Renner, Track & Field, e Veste (dona de marcas como Le Lis e Dudalina). A pesquisa foi liderada pelos analistas Luiz Guanais, Gabriel Disselli e Pedro Lima.

Não é só no Brasil que as mudanças climáticas afetam a indústria de moda. De acordo com um estudo da Universidade Cornell, alguns dos principais países produtores de vestuário do mundo estão em risco de perder US$ 65 bilhões em ganhos até 2030. “Este tempo extremo perturba as operações de back-end e influencia o comportamento de compra do cliente, exigindo que as marcas de moda se adaptem rapidamente para mitigar perdas potenciais”, diz trecho do documento.

Os analistas pontuam que as chuvas torrenciais e ondas de calor sempre tiveram impacto no varejo. “No entanto, com um clima cada vez mais imprevisível, esses desafios se tornaram mais pronunciados para os varejistas (incluindo aqueles no Brasil), especialmente em relação às coleções de inverno com longo prazo de entrega (com um impacto significativo sobre vendas).”

Impactos

A temperatura média no Brasil subiu 4% no segundo trimestre deste ano, conforme o estudo, um dos mais altos níveis nos últimos 14 anos. “Alertamos que a temperatura média foi 2% mais baixa em julho, o que poderia ser positivo para as vendas da coleção de inverno”, apesar de as temperaturas terem voltado a subir, diz o estudo do BTG. 

Apesar de não incorporar outros fatores como as condições específicas das empresas e os impactos macroeconômicos sobre o setor, a análise revelou correlações negativas entre temperatura e vendas para a maioria das varejistas (-0,38 em média).

O que dizem as varejistas

No estudo, as empresas analisadas trazem algumas observações.

Na divulgação de resultados do segundo trimestre deste ano, a Renner explicou que o balanço “foi caracterizado por desafios relacionados com temperaturas acima da média, particularmente na primeira metade do trimestre”. Em 2023, a empresa destacou que as “temperaturas mais elevadas no trimestre resultaram na demanda limitada de roupas de inverno, contribuindo assim para menores margens”. Já em 2022, a companhia disse que “o período viu um forte desempenho, impulsionado pela chegada antecipada de temperaturas mais severas do inverno e a necessidade de renovar os guarda-roupa após a retomada das interações sociais e aumento da mobilidade pessoal”.

No segundo trimestre deste ano, a C&A informou, no comunicado de resultados, que “durante o trimestre, as temperaturas foram atípicas para o período, resultando em um inverno muito ameno. A C&A demonstrou forte agilidade em ajustar sua variedade de produtos para garantir que os clientes encontrassem o que eles buscavam”.

Já a Arezzo (Grupo Soma), sobre os resultados do segundo trimestre de 2023, disse que “um cenário de consumo [foi] mais pressionado por altas taxas de juros e o inverno menos severo no país”. Por outro lado, em 2022 a situação era diferente. “Tivemos uma temporada fria severa, com a menor temperatura em décadas. Isso levou à alta demanda por coleções de inverno, resultando em um aumento substancial nas vendas a preço integral”. As outras duas empresas não apresentaram comentários.

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