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“Há ainda muito para evoluir, melhorar e investir no setor de tecnologia”, diz presidente da TOTVS

Em entrevista ao Bora Investir, Dennis Herszkowicz conta sobre o desempenho da TOTVS nos últimos anos, os planos da companhia e os desafios do setor

Totvs: fachada da empresa de tecnologia, em São Paulo
Totvs: fachada da empresa de tecnologia, em São Paulo

Por mais desafios que as maiores empresas de tecnologias do mundo tenham passado recentemente, com ondas grandes de demissões e readequação de negócios, é notória a importância e potencial de crescimento do setor, quando se leva em conta tudo o que ainda há de ser evoluído e melhorado por meio dele.

E é nisso que acredita Dennis Herszkowicz, presidente da TOTVS, quando conta em entrevista ao Bora Investir sobre a perspectiva esperada para o setor pelos próximos anos, inclusive em relação aos investidores.

“A tecnologia foi fundamental para a sustentação dos negócios no período mais agudo da pandemia”, diz ele em um trecho da entrevista. “E a cada dia ela se torna mais importante dentro das empresas, fazendo inclusive parte do processo de decisão organizacional, e esse é um movimento que seguirá crescendo”.

Como inovação, a exigência de investimento de médio e longo prazo são indiscutíveis, assim como também a preocupação com a qualificação e retenção dos profissionais da área. Mas o avanço das descobertas e adaptações das soluções, bem como a maneira delas caminharem juntas com as causas ESG faz com que haja mais espaço para ser explorado, ainda segundo o executivo.

Confira a seguir a entrevista completa de Dennis Herszkowicz, presidente da TOTVS, ao Bora Investir. 

Bora Investir – Como vocês avaliam os últimos 5 anos do setor de tecnologia?

Dennis Herszkowicz – Nos últimos anos vimos a confirmação do aumento exponencial da presença da tecnologia no cotidiano de todos, não somente para o público geral, mas também nas relações corporativas. Em termos B2B, a tecnologia que já vinha numa crescente de investimento ganhou ainda mais protagonismo nas empresas com a pandemia. As companhias que imaginavam estar avançadas em seu processo de digitalização perceberam que ainda havia muito para evoluir, melhorar e investir. A tecnologia foi fundamental para a sustentação dos negócios no período mais agudo da pandemia e, agora, continua sendo o motor para a plena retomada.

Vimos isso na prática com nossos clientes. Muitos deles anteciparam investimentos que estavam previstos para o médio ou até mesmo longo prazo pela necessidade de adaptar sua operação para as novas necessidades do contexto. Isso fez com que nós também antecipássemos o lançamento de uma série de soluções e inovações para ir ao encontro do que o nosso ecossistema necessitava. E hoje vemos o resultado. A TOTVS manteve um forte crescimento nos últimos dois anos, culminando com receita líquida superior a R$1 bilhão no 3T22, um recorde da companhia.

Para completar, é importante destacar que o comportamento das pessoas e dos profissionais mudou e isso não tem volta. Estar alheio ao mundo digital não é uma opção para quem quer ter sucesso. E ainda há muito por vir no futuro de curto prazo, sobretudo por conta da maturidade das ferramentas de análise de dados, inteligência artificial, assim como a adoção em larga escala do 5G.

Bora Investir – Quais os desafios do setor na sua opinião?

Herszkowicz – O grande desafio do setor de tecnologia hoje é a mão de obra qualificada. Temos grandes centros de formação de profissionais para o setor e muitas iniciativas corporativas para suprir a demanda, mas que ainda não são suficientes para a necessidade do mercado. A cada dia a tecnologia se torna mais importante dentro das empresas, fazendo inclusive parte do processo de decisão organizacional, e esse é um movimento que seguirá crescendo.

Outro desafio importante é oferecer soluções cada vez mais completas. Tanto pessoas, quanto empresas buscam o conforto de resolver tudo o que precisam em um único lugar, sem precisar apelar a muitos agentes. Trata-se de contar com um parceiro único que possa oferecer tudo relacionado à tecnologia para dar suporte ao negócio e garantir mais produtividade e rentabilidade – desde a gestão administrativa, força de vendas, relacionamento com cliente, jornada de pagamentos, armazenamento e distribuição de produtos, compra de insumos e até mesmo geração de crédito e mitigação de riscos.

Essa é a razão pela qual a TOTVS construiu nos últimos anos um ecossistema de tecnologia baseado em 3 dimensões: Gestão, Business Performance e Techfin, sendo uma verdadeira one stop shop onde as empresas encontram tudo que precisam para alavancar seu negócio. Para aprimorar cada vez mais o nosso portfólio, usamos duas vertentes que se complementam: desenvolvimento de novas soluções a partir de demandas do mercado; e o processo de M&A, buscando empresas sólidas e inovadoras que tragam produtos complementares aos que já oferecemos.

Outro ponto é a questão dos custos e investimentos. No Brasil, ainda existe o “paradigma” de que tecnologia é cara. Porém, o mercado já oferece soluções com valores mais acessíveis e modelos contratuais que permitem às empresas investirem em tecnologias de ponta. Por outro lado, do lado das desenvolvedoras de tecnologia, há uma série de custos que encarecem o desenvolvimento e isso também é um desafio a ser enfrentado pelo setor.

Bora Investir – Na hora da tomada de decisão de quais empresas e setores investir, por que as pessoas físicas devem escolher o de tecnologia? Como o setor se diferencia para os investidores em relação a outros?

Herszkowicz – Não à toa as empresas do setor costumam ter muita procura por investidores em todo o mundo. A tecnologia é um segmento da economia que se mantém aquecido há décadas, é cada vez mais importante na vida das pessoas e no ambiente corporativo e a tendência é que se mantenha em alta e em constante desenvolvimento por muito tempo. Tecnologia não é perecível e, por isso, é um investimento de vida útil.

Bora Investir – Como o Brasil está em relação ao resto do mundo no setor de tecnologia?

Herszkowicz – O mercado de tecnologia brasileiro se posiciona de maneira muito positiva e competitiva em relação ao resto do mundo. Além de um ecossistema próprio muito bem desenvolvido –(e onde a TOTVS nasceu) os principais players globais atuam aqui. E as empresas brasileiras, de maneira geral, reconhecem a importância e investem em tecnologia. Além disso, existem alguns pólos importantes de P&D no país, sem contar a cultura de inovação que faz do Brasil um dos protagonistas mundiais na criação e aceleração de startups.

A TOTVS, por exemplo, possui centros de desenvolvimento no Brasil, México e Estados Unidos, investindo R$ 2 bilhões em P&D nos últimos cinco anos. Em 2021 lançamos um fundo CVC de R$300 milhões para investir em startups nos próximos quatro anos. Essa estratégia se completa ao iDexo, nossa frente de inovação aberta e de conexão com o ecossistema de startups que apoia mais de oitenta startups.

Apesar de termos grandes mentes na área, o país ainda tem um déficit muito grande na formação de profissionais qualificados para preencher todas as vagas disponíveis hoje – e que seguramente vão aumentar ainda mais nos próximos anos. Também há o fato de que os nossos profissionais são bastante requisitados pelo mercado externo.

Mesmo considerando o Brasil como um país maduro digitalmente, alguns campos ainda podem e devem ser explorados, especialmente nas relações B2B.

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Bora Investir – Poderia comentar um pouco sobre o desafio de mão de obra e evasão de talentos com as oportunidades para os profissionais ao redor do mundo? Como a empresa busca minimizar esse desafio?

Herszkowicz – Como eu disse anteriormente, a mão-de-obra qualificada é um dos calcanhares de Aquiles do setor de tecnologia. Além da carência na formação profissional, o segmento necessita de atualização constante, até pelo desenvolvimento frequente de novos sistemas, linguagens e tecnologias. Outro ponto é a expatriação dos profissionais brasileiros, que são bastante requisitados pelo mercado externo – fator ainda mais potencializado pela adoção em larga escala do home office. Por conta disso, precisamos de mais investimentos em formação, capacitação e engajamento em âmbito nacional. A necessidade, que já é alta, tende a crescer ainda mais nos próximos anos.

E parte dessas ações precisam partir das próprias empresas. Aqui na TOTVS temos algumas iniciativas neste sentido. Uma delas é o Instituto de Oportunidade Social (IOS), uma instituição sem fins lucrativos apoiada pela iniciativa privada, que há mais de duas décadas oferece capacitação em tecnologia para jovens em situação de vulnerabilidade social e pessoas com deficiência. Desde 1998, o IOS já formou 42 mil alunos e apoiou a empregabilidade de mais de 30 mil pessoas com menor acesso às oportunidades de trabalho formal.

Além disso, temos aqui a Universidade TOTVS em rede, uma plataforma online de aprendizagem, com trilhas de conteúdos voltadas para conhecimentos técnicos (hard skills) e comportamentais (soft skills), baseados em gamificação.

Em termos de engajamento profissional, a TOTVS investe constantemente em programas e atividades internas que estimulam os TOTVERS – como chamamos nossos colaboradores – a se desenvolverem pessoal e profissionalmente na companhia, além de mantermos os salários e benefícios atualizados e competitivos com o mercado.

Bora Investir – Desafio de energia para o setor de tecnologia para os próximos 5 anos?

Herszkowicz – A eficiência energética já é um fator determinante para a tecnologia. O setor como um todo está aderindo de maneira rápida a diferentes práticas ESG, o que é mandatório. Todos os stakeholders acompanham e cobram esse tipo de atitude das companhias com quem querem se relacionar de alguma maneira.

Por isso é fundamental que todas as inovações sejam adaptadas ou já desenvolvidas com essa mentalidade. A tendência da tecnologia já caminha nesse sentido, com a criação de máquinas mais econômicas e inovações que privilegiem a centralização de informações, assim como soluções que são abastecidas por outras matrizes energéticas. Como o uso de soluções em nuvem, que minimizam o uso individual de equipamentos grandes e custosos; ou a Inteligência Artificial, que identifica processos mais sustentáveis e aponta diversas maneiras de alcançar eficiência energética em todos os pontos da cadeia produtiva – inclusive das empresas de tecnologia.

Outro ponto, é que o mercado tecnológico também já estuda e desenvolve soluções que incrementam a atuação das empresas e buscam de maneira inteligente repensar a operação, a fim de economizar energia em todo o ecossistema em que está inserido. A digitalização não é inimiga da economia de energia. Pelo contrário, é uma de suas principais aliadas.

Bora Investir – Quais as perspectivas para os próximos 5 anos?

Herszkowicz – Estamos trabalhando para nos consolidarmos como o principal parceiro de negócios dos nossos clientes. Nossa estratégia, baseada em 3 dimensões, nos aproxima cada vez mais do desejo de nos tornarmos o verdadeiro Trusted Advisor dos clientes. Não basta mais oferecer somente um sistema de gestão administrativo eficiente, ou uma ferramenta de vendas avançada ou apenas um serviço de armazenamento de dados e sistemas em nuvem. É preciso, cada vez mais, ter uma gama de produtos completa, que dê o suporte necessário em todas as pontas do negócio.

Além disso, a maturidade do 5G vai transformar a maneira como as empresas atuam. Essa tecnologia garante uma conexão de internet entre 10 e 20 vezes mais rápida, o que potencializa o uso de outras tecnologias de ponta, como Internet das Coisas, Inteligência Artificial e uso de nuvem corporativa. Com processamento de informações muito mais ágil e dinâmico, essas inovações serão aplicadas em larga escala no processo produtivo de empresas de todos os setores, ampliando ainda mais a produtividade dos negócios.

Nós aqui na TOTVS seguiremos na nossa estratégia de apoiar e potencializar a produtividade e rentabilidade das empresas brasileiras por meio da tecnologia.

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