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Petrobras tem lucro recorde com política de dividendos no alvo do governo

Estatal teve lucro líquido de R$ 188 bilhões em 2022 – maior para uma empresa de capital aberto do Brasil. Dividendos estão garantidos, mas governo que mexer na distribuição

Edifício sede da Petrobras no Centro do Rio. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
As ações da Petrobras (PETR3 e PETR4) representam, juntas, mais de 10% da carteira do Ibovespa. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Mesmo diante das críticas do governo federal ao alto valor dos dividendos pagos pela Petrobras aos acionistas, a estatal aprovou a distribuição de R$ 35,8 bilhões referentes ao 4º trimestre de 2022. O anúncio veio após a companhia registrar – entre outubro e dezembro do ano passado – lucro líquido de R$ 43,3 bilhões, alta de 37,6% na comparação com o mesmo período de 2021 (R$ 31,5 bi).

O pagamento desses dividendos ainda precisa ser aprovado pelo Conselho de Administração da Petrobras que se reúne no dia 27 de abril. Importante destacar que esse valor proposto ultrapassa a fórmula da política de remuneração aos acionistas da Petrobras em R$ 6,5 bilhões. Assim, segundo comunicado da companhia, houve uma recomendação para que R$ 6,9 bilhões – do total pago de R$ 35,8 bilhões – sejam destinados a uma ‘reserva estatutária’ – cuja finalidade não foi detalhada.

Ao todo, em 2022, a estatal aprovou o pagamento de R$ 215,7 bilhões em dividendos aos acionistas. O valor é mais do que o dobro de 2021, que somou R$ 101,4 bilhões.

Esse resultado, levou a Petrobras ao patamar de segunda maior pagadora de dividendos do mundo no ano passado – distribuindo US$ 21,7 bilhões do seu lucro aos acionistas. Os dados são da gestora Janus Henderson. A estatal brasileira ficou atrás apenas da mineradora anglo-australiana, HP, que pagou US$ 23,5 bilhões.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem discutido com ministros e o próprio presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, a diminuição do repasse dos lucros como forma de amortecer uma possível alta nos preços dos combustíveis. A ideia, no entanto, tem sido mal-recebidas pelo mercado, porque geram dúvidas e podem afastar investidores em ações da petroleira.

Importante pontual que o governo federal é um dos maiores beneficiários da política de distribuição de dividendos da Petrobras – já que é o seu maior acionista. Em 2022, a estatal pagou um volume recorde de R$ 279 bilhões em tributos e R$ 72 bilhões em dividendos ao governo. Os dados foram divulgados nesta quinta-feira, 02/03, pelo diretor financeiro e de relações com investidores da companhia, Rodrigo Araújo.

Em seu primeiro pronunciamento como presidente da estatal, Jean Paul Prates também falou sobre a distribuição de lucros pela companhia. Hoje, em uma teleconferência com analistas, ele afirmou que a distribuição equilibrada de dividendos é aquela que o conselho, assembleia e diretoria decidem em prol de “investir bem e remunerar acionistas”.

“Chego a ter dúvidas se há regras muito rígidas em termos de percentuais de distribuição. (…) A gente vai ter sim uma robustez de dividendos, porque a gente pretende ter lucros a altura do que foi auferido agora, embora eu imagino que sejam circunstâncias diferentes. O desafio é maior”.

Lucro líquido recorde

A Petrobras registrou lucro líquido recorde no ano passado de R$ R$ 188,3 bilhões. O resultado leva a companhia ao patamar de maior lucro já registrado por uma empresa de capital aberto no país. Segundo levantamento da Trademap, na segunda colocação está o lucro da Vale de R$ 95,9 bilhões também no ano passado.

O resultado reflete à alta de 43% do barril de petróleo Brent – referência internacional, a maiores margens de derivados e a um melhor resultado financeiro.

Mudanças na política de preços

Em um comunicado enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a estatal afirmou hoje que não há nenhuma discussão para alterações na política de preços de combustíveis. A companhia reiterou o compromisso com preços competitivos e equilíbrio no mercado.

“Qualquer alteração deverá ser debatida pelos órgãos internos de governança da Petrobras, especialmente a diretoria e o conselho de administração, e será divulgada ao mercado” afirmou.

A Petrobras adota desde 2016 a política de Preço de Paridade Internacional (PPI). Nela o preço dos combustíveis nas refinarias é reajustado conforme a cotação do dólar e do preço do barril de petróleo no mercado internacional.

Na teleconferência com analistas, Rodrigo Araújo afirmou que a dinâmica da companhia é manter preços competitivos e repassar completamente a volatilidade para o mercado nacional.

“Reforço nossa capacidade de manutenção de preços competitivos, alinhados ao mercado internacional”.

Suspensão venda de ativos

A Petrobras anunciou ontem o recebimento de um ofício do Ministério de Minas e Energia (MME) solicitando a suspensão do processo de venda de ativos por 90 dias.

Segundo a estatal, o pedido acontece em razão da reavaliação da Política Energética Nacional e da nova composição do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE). Na videoconferência de hoje, o presidente da estatal comentou sobre o assunto.

“Não vamos nos desfazer de refinarias ou de regiões inteiras do país simplesmente porque o governo quer. Vamos fazer decisões de empresa. Quando houver oportunidade de territórios do Brasil ou exterior, vamos perseguir. Quem vai decidir isso não é um imperador ou uma pessoa só. É o conselho e a diretoria executiva. É um diálogo aberto com investidores”, afirmou Prates.

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