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Venda do Credit Suisse reduz a zero títulos de maior risco; mercado avalia a compra

Aquisição veio no fim de semana, após dias de tensão e negociações. Preocupação agora está no colapso dos títulos de maior risco que devem perder todo o seu valor

A crise no Credit Suisse (CS) – que parecia ter ficado para trás, após o UBS Bank comprar a instituição no domingo por US$ 3,25 bilhões – até agora não conseguiu o efeito esperado. Os investidores avaliam os benefícios no longo prazo da transação e discutem as perspectivas para os bancos suíços – que já foram considerados os mais sólidos do mundo.

As ações do segundo maior banco da Suíça despencavam nesta segunda-feira, 20/03, mais de 50%, cotadas a 0,91 francos suíços. Já os papéis do UBS, após atingirem a maior queda diária em 15 anos (-16%), agora avançam 7%.

Os analistas do mercado financeiro já digeriram a venda do Credit Suisse. As preocupações agora se voltam ao anúncio de que os títulos de maior risco do banco – que somam US$ 17 bilhões – vão perder praticamente todo o seu valor. A medida pode colocar em queda livre o mercado desse tipo de dívida que soma US$ 275 bilhões.

Esses títulos são conhecidos como AT1 (em inglês, Additional Tier 1) e foram criados após a crise financeira de 2008 como forma de transferir o risco bancário dos contribuintes para os detentores desses papéis.

Diante do acordo de compra do CS pelo UBS, o banco central suíço decidiu que esses títulos serão avaliados em zero. A decisão irritou os detentores da dívida que acreditavam estar mais protegidos que os acionistas. Agora, associações de investidores anunciaram que estudam medidas judiciais para reaver o dinheiro.

Para o economista-chefe do Banco Master, Paulo Gala, a compra do Credit Suisse pelo UBS foi praticamente forçada pelas autoridades suíças. No entanto, foi a melhor saída para estancar a crise na instituição e no sistema financeiro mundial.

“O UBS não estava morrendo de vontade de comprar o Credit Suisse, mas foi o melhor encaminhamento possível. O valor de US$ 3,25 bilhões foi condicionado a uma linha de crédito de US$ 100 bilhões – o que é fundamental. Na semana passada o CS enfrentou saques de US$ 70 bilhões. Então dificilmente ele ia parar em pé. Seria mais uma instituição sucumbida pelo choque de juros dos bancos centrais para controlar a inflação”.

Impactos no Brasil

Os analistas são unânimes em dizer que os efeitos da crise bancária internacional não devem chegar ao Brasil, nem mesmo para os bancos digitais. Para o economista-chefe da Órama, Alexandre Espírito Santo, não há uma relação umbilical entre os eventos de lá com possíveis dificuldades em nosso mercado.

“O sistema bancário brasileiro nos parece muito sólido, extremamente regulado, sendo nossos parâmetros muito mais rígidos do que as exigências internacionais. Em outras palavras, para que algo potencialmente grave ocorra no mercado brasileiro seria necessário um contágio de largas proporções, o que, aparentemente, vem sendo evitado com a ação das autoridades monetárias”, afirma.

Ação conjunta dos bancos centrais

Nesta segunda-feira, 20/03, começou a funcionar uma ação coordenada por alguns dos maiores bancos centrais do planeta para aumentar o fornecimento de liquidez no mercado.

Essa liberação de recursos acontece por meio de acordos de linha de swap de dólar do Federal Reserve (Fed). Essa transação permite que outros bancos centrais peguem emprestados dólares do Fed em troca de suas próprias moedas locais

Participam do acordo, além do banco central dos Estados Unidos, as instituições do Canadá, Inglaterra, Japão, Banco Central Europeu e Banco Nacional Suíço.

“Para melhorar a eficácia das linhas de swap no fornecimento de financiamento em dólares americanos, os bancos centrais que atualmente oferecem operações em dólares americanos concordaram em aumentar a frequência das operações com vencimento em sete dias de semanal para diária”, disse o Fed em um comunicado conjunto.

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