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Entenda a discussão em torno de uma possível elevação das metas de inflação

Debate sobre alterações começou após críticas do presidente Lula à condução da política monetária pelo Banco Central. Mercado tem reagido com instabilidade

Dinheiro. Foto: Marcelo Casal Jr./Agência Brasil
A economia é cheia de correlação, mas nenhuma delas tem relação com as demais. Foto: Marcelo Casal Jr./Agência Brasil

As discussões relacionadas à possibilidade de alteração nas metas de inflação continuam no radar dos investidores desde o início de fevereiro. Os ruídos em torno do tema começaram após as duras críticas feitas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à condução da política monetária por Roberto Campos Neto, que comanda o Banco Central (BC).

A alteração da meta foi incluída na reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN) desta semana. O colegiado – que define a meta de inflação a ser perseguida pelo BC – é composto pelos ministros da Fazenda, Fernando Haddad; do Planejamento, Simone Tebet; e pelo próprio Campos Neto.

O economista-chefe do Banco Master, Paulo Gala, acredita que a mudança na meta de inflação é o caminho mais natural para resolver os embates entre o governo e o BC.

“O mercado está estressado com essa ideia de mudança na meta. A novidade que veio de Brasília é a notícia de que o Campos Neto estaria disposto a considerar a mudança. Me parece que é a via mais fácil para resolver esse imbróglio. Em relação à autonomia do BC, eu não acho que o governo vai mudar a lei, até porque depende do Congresso. Também não acho que vá acontecer qualquer coisa com o Campos Neto até o final do mandato dele”, afirma

A meta de inflação para este ano é de 3,25% – com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo, ou seja, entre 1,75% e 4,75%. Para os próximos dois anos, o valor está em 3%. Quando as metas são muito baixas, o Banco Central é obrigado a elevar a taxa básica de juros (Selic) para esfriar a economia e controlar a alta dos preços.

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As metas de inflação deste ano e dos próximos dois foram definidas pelo Conselho Monetário Nacional entre 2018 e 2019 – antes da pandemia – quando a inflação estava mais controlada em todo o planeta. De lá para cá, as economias brasileira e mundial sofreram fortes mudanças decorrentes da Covid-19.

“Foi uma mudança brutal de contexto inflacionário – primeiro por conta da interrupção e dos gargalos de cadeias produtivas e depois pelas próprias transformações estruturais que ainda estão acontecendo. Muitas indústrias saindo da China e vindo para a Europa, EUA, inclusive para o Brasil e a América Latina. Toda essa reestruturação tem um impacto inflacionário bastante grande, porque os custos de produção no Ocidente são muito maiores do que no Oriente. Com o medo de conflito na Ucrânia e as relações estremecidas com China há essa mudança nas chamadas cadeias globais”, explica Paulo Gala.

Segundo o economista-chefe do Banco Master, durante os últimos 20 anos do regime de metas de inflação, a média dos preços no Brasil ficou próxima de 6% e raramente abaixo de 4%. Portanto, diante desse histórico, perseguir uma meta de 3% é muito difícil. Para Paulo Gala, o país deve caminhar para uma mudança de meta nos próximos meses.

“Eu acho que o governo vai se mobilizar e encaminhar uma mudança de meta para o ano que vem – eventualmente 3,5% ou 4%. Isso vai liberar um pouco o Banco Central para fazer uma política monetária mais acomodatícia, mais expansionista. Veja que a expectativa de inflação para 2024 ainda está abaixo de 4%. Essa mudança não é trivial, mas diante de todos os males, me parece que é o menor. Afinal faz mais sentido mudar a meta, do que mexer na independência do Banco Central”, conclui.

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