ESG

8 dados sobre a desigualdade de gênero e como a inflação global pode aumentá-la

Relatório de analistas do Bank of America (BofA) mostra que as mulheres registraram progresso financeiro no último ano. Mas a inflação global pode afetar avanços

Mulher jovem preocupada. Foto: Rawpixel
Mulher preocupada: apesar dos avanços, levará 132 anos para solucionar gaps de gênero caso seja mantido o ritmo atual. Foto: Rawpixel

No mês em que é celebrado o Dia da Mulher um relatório feito por analistas do Bank of America (BofA) traz boas notícias: as mulheres registraram progresso financeiro no último ano, e a equidade de gênero diminuiu nos últimos quatro.

O fator que mais contribuiu para a diminuição do índice de desigualdade entre homens e mulheres foram as oportunidades econômicas. Isso aconteceu porque:

  • Em 2021, metade das startups eram formadas por mulheres (contra 28% em 2019).
  • Em média, as mulheres estão ganhando 2% mais que no ano passado
  • A fatia de mulheres em cargos técnicos aumentou 6,7 pontos porcentuais
  • O porcentual de mulheres em cargos sêniores, gerenciais e legislativos aumentou 5,4 pontos porcentuais

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Mas, o caminho para atingir a equidade de gênero ainda é longo: serão necessários mais 132 anos para solucionar o gap, caso o ritmo de evolução atual se mantenha o mesmo.

E o cenário para que esse ritmo seja mantido é desafiador: choques como a pandemia da covid-19 custou às mulheres de todo o mundo cerca de US$ 800 bilhões em renda, mais do que o PIB de 98 países, segundo a Oxfam. E a inflação global é outro risco que atinge mais elas.

Para começar, a inflação mais alta afeta programas de diversidade, e reduz oportunidade de trabalho para as mulheres: 18% das empresas reduziram seus investimentos nestes programas no ano passado, sendo que 45% do orçamento deles consiste em esforços para recrutar mais mulheres. Anúncios ligados a programas de diversidade caíram mais do que o de vagas em geral.

Veja abaixo oito fatores que mostram por que a inflação pode aumentar a desigualdade de gênero e como a alta dos preços impacta as finanças e renda das mulheres:

1. Mulheres ganham menos e têm menos reservas

Uma pesquisa que analisa 83 países aponta que as mulheres ganham entre 10% e 30% menos do que os homens, em média. Atualmente, as mulheres ganham US$ 0.82 por cada dólar recebido por homens.

As que ficam um ano fora de seus trabalhos ao se tornarem mães tiveram rendimentos 30% mais baixos do que aquelas que não ficaram fora do mercado esse tempo, o que contribui para aumentar ainda mais esse gap.

Os gaps salariais são maiores no Oriente Médio e no norte da África, mas também podem ser encontrados em países da OCDE. As mulheres nos Estados Unidos também enfrentam disparidades salariais e são maioria em ocupações com salários mais baixos.

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Mulheres negras e latinas ganham ainda menos: enquanto a renda semanal de mulheres negras é de US$ 856, em média, e a de mulheres hispânicas e latinas é U$ 774, as mulheres brancas ganha US$ 991 e, homens brancos, US$ 1.194. 

Por ganharem menos, as mulheres podem ter menos dinheiro acumulado para encarar um cenário de crise no qual se gasta mais. Mulheres também são menos propensas a obter aumentos de salários que poderiam combater a inflação.

2. Preço de energia e comida pesa mais para elas

Maiores custos de energia e insegurança alimentar atingem muitos países em desenvolvimento, como o Brasil, e novamente são elas as mais impactadas.

De 828 milhões de pessoas afetadas pela fome em 2021, 60% eram mulheres. Elas também são mais da metade dos pobres, e suas taxas de pobreza são maiores do que as dos homens em todas as regiões do mundo.

3. Custos de criar filhos sobem acima da inflação

Os custos de criar um filho nos Estados Unidos sobem acima dos aumentos salariais. Na última década, aumentaram 25%, e 214% desde 1990.

Esse aumento de custos pressionam mais o orçamento das mães, já que elas costumam ganhar menos do que os homens, usar mais serviços médicos e têm custos maiores associados à maternidade e serviços médicos reprodutivos.

4. Monopólio do cuidado impede aumento de renda

Dado que a mulher passa três vezes mais tempo fazendo serviços de cuidados que não são remunerados globalmente (a estimativa é que serão necessários 210 anos para resolver esse gap), o aumento de custos dos serviços de cuidados infantil pode manter as mulheres fora da força de trabalho, ou forçá-las a sair dela.

Globalmente, 42% das mulheres não conseguem emprego porque elas são responsáveis por todo o cuidado da família, comparado a 6% dos homens, segundo dados da Oxfam.

5. Inflação da saúde reduz acesso

Nos Estados Unidos, 20% das mulheres não fizeram um teste médico recomendado por conta dos custos, comparado a 15% dos homens.

O custo de serviços médicos devem aumentar mais de 10% em 2023, o maior índice em 15 anos. Isso pode afetar de forma desproporcional as mulheres, que tendem a ganhar salários menores do que os dos homens e gastam 37% mais com saúde do que eles.

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Além disso, muitos planos de saúde costumam não cobrir ou cobrem apenas parte das necessidades femininas, provocando mais gastos. Uma pesquisa mostra que planos de saúde costumam ter exclusões relacionadas a gênero: aproximadamente 3/4 das políticas excluem tratamentos de fertilidade globalmente, porcentual que sobe para 85% na Ásia e 90% no Oriente Médio e na Áfriaca (90%).

6. Mulheres estão fora de indústrias blindadas contra alta de preços

Mulheres são sub representadas em setores da economia que costumam pagar maiores salários e trabalhos que são menos afetados por pressões inflacionárias, como tecnologia e finanças.

Na lista de 20 empregos com as maiores médias salariais nos EUA, apenas um deles é dominado por mulheres, enquanto em nove 75% dos empregados são homens. Indústrias que pagam maiores salários têm maiores gaps de gênero tanto nos Estados Unidos como na Europa.

No setor de saúde, no qual a mulher é maioria (representa 67% dos trabalhadores), a média salarial é menor do que a de outros mercados nos quais a desigualdade de gênero é maior. Apesar de serem minoria, os homens ganham os maiores salários no setor de saúde.

7. Mulheres pagam mais em produtos no mercado

O carrinho de supermercado de homens e mulheres são bem similares, mas produtos voltados para mulheres costumam ser mais caros, especialmente os não-duráveis.

Nos Estados Unidos, produtos de cuidados pessoais são 13% mais caros para mulheres. No Reino Unido, sapatos femininos ficaram 75% mais caros, enquanto o preço de sapatos masculinos aumentou 14%

8. Desigualdade no acesso à educação

Houve avanços significativos das mulheres no ensino fundamental e médio nas décadas recentes, mas o gap entre meninas e meninos em países em desenvolvimento pode aumentar com a inflação. 

A pobreza é um dos fatores mais importantes para determinar se uma garota poderá ir à escola, o que pode piorar se a alta da inflação reduzir seu ganho de salário real e a sua reserva financeira.

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Apenas 11,5% das meninas que vivem nas áreas mais pobres e em zonas rurais completam o ensino médio, contra 72.2% das meninas que vivem em áreas urbanas mais ricas, segundo dados da UN Women.

Em países afetados por fragilidades econômicas, conflitos e violência, as meninas são 2,5x mais propensas a não irem à escola do que os meninos, segundo dados da UNICEF. 

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