Paridade de gênero pode aumentar PIB global em 20%, mas é preciso evoluir em ações concretas
Painel do Fórum Econômico Mundial destacou impactos da equidade de gênero na sociedade e na economia
O Banco Mundial calcula que se alcançada a paridade de gênero no emprego e no empreendedorismo, o PIB global poderia aumentar em 20%. O número expressivo, porém, não pode ser alcançado sem ações. Para especialistas, o centro da discussão não é mais o porquê da importância da igualdade, mas sim a forma de como fazer isso.
Em painel no Fórum Econômico Mundial, em Davos, nesta terça-feira, 21, Katherine Garrett-Cox, CEO da subsidiária britânica do Gulf International Bank, afirmou que é um pouco vergonhoso ter de reforçar os impactos da paridade de gênero atualmente. Afinal, já existem diversos estudos que mostram uma melhora no desempenho das empresas quando há mais diversidade.
“As pessoas acham que é muito difícil fazer, mas existem coisas tangíveis que podemos, como investir mais em líderes inclusivos, políticas no lugar de trabalho que apoiam a diversidade e as mulheres. Se resolvermos esse problema social, teremos como resolver outros problemas econômicos. São bilhões e trilhões de dólares a mais que podemos crescer”, destacou.
Mesmo com anos de leis e regulações ao redor do mundo, que trouxeram evoluções visíveis, Michael Ensser, Presidente da Egon Zehnder, ressalta que o caminho a se percorrer é grande. “Sempre que vemos números de paridade de gênero, mesmo quando há avanços, não são perto da paridade de verdade”.
Neste mesmo caminho Anna Bjerde, Diretora Geral de Operações do Banco Mundial, afirma que não existe um único país que tem todos os direitos iguais para homens e mulheres, e lembrou que ainda há apenas 10% de mulheres como CEOs ao redor do mundo.
Para mudar o cenário, ela destaca que é necessário crescer em soluções sustentáveis desde a base, para que estimular o planejamentos de carreiras nas companhias que façam as mulheres se sentirem encorajadas a pensar nas suas trajetórias.
“A dificuldade de ‘achar líderes’ mulheres vem da base, é para onde precisamos olhar, preparar esse ambiente de paridade de gênero, para que na hora da escolha das lideranças tenhamos o mesmo número de talentos entre homens e mulheres para tomar a decisão de maneira igualitária”, acrescentou Michael Ensser.
Momento global e preocupação com retrocesso
O cenário global, principalmente político, também foi tema de preocupação entre os especialistas, que apontaram o fortalecimento de uma base igualitária como principal medida a longo prazo para evitar retrocessos.
“Não estou pessimista, mas preocupado com discursos negativos sobre a necessidade de masculinidade tóxica de volta no ambiente do mercado. Política é um prazo curto e temos que pensar no longo prazo, temos regulações, mas precisamos continuar com soluções inteligentes. Não precisamos de comitês barulhentos, mas que façam o que precisa ser feito”, apontou o presidente da Egon Zehnder.
Lutfey Siddiqi, conselheiro para assuntos internacionais de Muhammad Yunus, chefe do governo interino de Bangladesh, economista e vencedor do Nobel da Paz, destacou que não muitos anos atrás havia leis pelo mundo que proibiam as mulheres de votar.
“Atualmente o número de mulheres escolarizadas, principalmente no sul da Ásia, cresceu, mas isso nem sempre se traduz em presença no mercado de trabalho. Por isso precisamos de leis que as impulsionem, e não apenas as impeçam de retroceder”, diz.
A Diretora Geral de Operações do Banco Mundial ainda relata preocupação com processos básicos como investimento em educação e saúde sendo diminuídos, já que, segundo ela, a piora nesses indicadores aumenta a exclusão de mulheres.
Paridade de gênero como legado
Os especialistas do painel ainda destacaram como a paridade de gênero deve ser um legado buscado pela geração atual, para uma sociedade melhor e mais desenvolvida.
“Temos que aprender uns com os outros, porque não é um assunto que se resolve do dia para a noite. Nós temos uma missão de fazer um planeta habitável, e isso não é apenas sobre clima, mas sobre a sociedade que criamos”, afirmou Anna Bjerde.
Por fim, Katherine Garrett-Cox ressaltou que mesmo os mercados desenvolvidos têm dificuldade em escalar o tema, ainda que com ótimas iniciativas surgindo, mas que as ações têm um impacto muito maior do que momentâneo.
“Não é apenas para nossa geração, iremos passar o bastão em algum momento, então é como podemos criar uma oportunidade melhor para os que virão depois de nós”.
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