ESG

Transparência é essencial para aumentar financiamento privado da transição energética

Painel durante o MKBR 2024 discutiu os rótulos de investimentos sustentáveis

André Salcedo, diretor-presidente da Sabesp, Denísio Liberato, da BB Asset, Frederic de Mariz, do UBS e Ana Buchaim, da B3 em painel no MKBR 2024
André Salcedo, diretor-presidente da Sabesp, Denísio Liberato, da BB Asset, Frederic de Mariz, do UBS e Ana Buchaim, da B3 em painel no MKBR 2024

A transição para a economia verde depende de US$ 4 trilhões ao ano, mostram as estimativas. Hoje, o mundo investe US$ 1 trilhão. Para fechar esse gap, é necessário contar com o investimento privado. Mas como incentivar esse mercado de transição energética e sustentabilidade? Esse foi o principal debate do painel sobre ESG durante o MKBR 2024, evento organizado pela B3 em parceria com a Anbima. Para os participantes, um passo importante é aumentar a transparência dos investimentos verdes.

Os novos investidores já estão mais preocupados com a sustentabilidade, diversidade e atuação social das empresas, afirmou Ana Buchaim, vice-presidente de Pessoas, Marketing, Comunicação, Sustentabilidade e Investimento Social Privado da B3. Os próprios consumidores também têm exigido muito mais transparência. “Passamos a ter uma taxonomia padrão que ajuda a dar credibilidade” para os ativos sustentáveis. Ela mencionou também a recente designação das ações verdes na B3, que ajuda a trazer mais transparência para o investidor.

Para Denísio Liberato, diretor-presidente da BB Asset Management, na parte de crédito, a estruturação de títulos de dívida sustentáveis de tickets mais elevados, de R$ 300 milhões a R$ 500 milhões, é um mercado que já está relativamente consolidado. Ainda existem, entretanto, desafios no financiamento de projetos de valores menores. “É uma curva crescente no tempo, mas ainda aquém da necessidade”, afirmou.

Nessa área, Liberato destacou a recente joint venture da BB Asset com a gestora carioca JGP, com o objetivo de alavancar operações customizadas e estruturadas de volumes menores. “Isso nos dá capacidade de originar e financiar produção de coco de babaçu, por exemplo”.

Frederic de Mariz, diretor de sustentabilidade do UBS BB, concorda que a padronização e transparência são essenciais. “Quando a gente está tentando fazer uma dívida ESG, precisa ter regras do jogo muito claras para o mercado. O mercado é muito racional, quando a gente der regras claras e incentivos, o dinheiro vai fluir com bastante agilidade”, disse.

Por isso, segundo ele, definir os rótulos e a taxonomia para investimentos sustentáveis é um passo importante.

Para André Salcedo, diretor-presidente da Sabesp, a rotulagem de investimentos ESG ajuda inclusive a dar visibilidade para emissões. “A certificação atrai atenção para uma característica que o  investidor vai ver, às vezes o investimento não vai mudar, mas o rótulo traz awareness e alinhamento com determinados investidores”, disse ele, que começou a trabalhar com investimentos sustentáveis no BNDES. “Mas sem o rótulo, fica mais difícil identificar. A rotulagem traz essa diligência”.

Ao chegar na Sabesp, no ano passado, Salcedo diz ter se surpreendido ao saber que a companhia nunca havia emitido nenhum título rotulado como sustentável. “Começamos então um processo de identificação de projetos que a empresa já fazia, como proteção de mananciais, despoluição de rios e expansão da rede de água”, disse. “É muito natural para uma empresa de saneamento emitir títulos com esse tipo de rótulo”.

Para ele, esse foi um aprendizado para companhia, de passar com um escrutínio além do normal de emissão de dívida, “mas que vale muito a pena”.

Desafios aos investimentos ESG nos EUA

Ana Buchaim, da B3, questionou os painelistas quanto ao recente retrocesso dos investimentos sustentáveis nos Estados Unidos. Na visão de Denísio Liberato, que participa do conselho do Principles for Responsible Investment, esse é um movimento de mudança no discurso, mas não na prática.

“Muitos dos signatários americanos do PRI estão se deslistando, não porque estejam fazendo algo diferente, mas pelo embate político e polarização, mas não há esse movimento do ponto de vista prático”, afirmou.

Para Frederic de Mariz, isso é reflexo também de uma adaptação do mercado. As emissões sustentáveis alcançaram recorde em 2021, e nos anos seguintes, houve uma acomodação. “Mas o número de empresas que querem implementar práticas de sustentabilidade só aumenta”, disse.