Notícias

Governo Trump será positivo ou negativo para a economia norte-americana e global? Gestores divergem

“O medo em si deveria afastar o investidor dos EUA, mas ninguém tem para onde ir”, diz Stuhlberger

O que acontecerá com a economia norte-americana nos próximos anos é uma incógnita. As projeções vão para todos os lados: há quem acredite que o crescimento deve seguir firme por causa dos avanços da tecnologia, mas também há quem se preocupe com uma aceleração da inflação, causada pelo aumento de tarifas e mais controle da imigração. Há quem defenda que o dólar deve seguir forte, enquanto outros acreditam que a moeda pode perder força. E muita dessa incerteza tem uma fonte: Donald Trump.

O gestor de fundo multimercado Luís Stuhlberger, sócio-fundador da Verde Asset, acredita pelo menos que essa incerteza deve se dissipar. “O Trump é um cara de negócios. Você não pode continuar com essa incerteza por muito tempo, sem alguma definição sobre tarifas, se ele vai tratar o Canadá e a Europa como inimigos ou não. Na hora que a economia sente isso, o Trump não é um cara que vai querer ver a bolsa americana caindo. Não vai querer ver o mercado de trabalho não gerando mais empregos”, disse.  

“O benefício que isso dá, no cenário de hoje, é que tem os treasuries [títulos públicos norte-americanos sendo negociados com juros] mais baixos. Mas esse movimento de mercado não é racional, porque o medo em si deveria afastar o investidor dos EUA, mas ninguém tem para onde ir”. Para ele, quando Trump sentir a incerteza começando a prejudicar a economia, deve recuar de parte de suas medidas. “O meu raciocínio é que uma hora o Trump sente isso e dá uma recuada, pelo menos dá algum grau de previsibilidade para agentes econômicos poderem fazer planos”.

Também presente no CEO Conference, do BTG, o gestor e fundador da JGP, André Jakursk, tem a mesma opinião. “A grande vantagem que os EUA têm é que, por desistência dos outros países, não há nenhum ativo ou moeda para onde você possa transferir seu dinheiro de maneira substancial”, disse. “Eu sempre falei: o Japão é um asilo, a Europa é um museu, você não vai querer colocar todo seu dinheiro em um deles”, completou.

Além da incerteza, as preocupações com a trajetória fiscal dos Estados Unidos também pesam nessa análise dos gestores. “Depois da pandemia, o déficit americano foi sistematicamente alto, acima de 6%. Agora, talvez diminua o ritmo. Todo esse gasto fiscal fez com que a economia performasse bem, não existe excepcionalismo americano, existe gasto fiscal”, disse Jakurski.

Para Stuhlberger, o temor sobre a dívida americana foi uma das causas para a valorização de dois ativos: ouro e bitcoin. “Essa busca por uma riqueza alternativa tem duas motivações. Primeiro, a invasão da Rússia à Ucrânia, que fez a Rússia e outros países como China buscarem outros ativos [em vez do dólar], especialmente ouro. E a outra é o fiscal americano”, comentou.

A opinião, entretanto, não é unânime. Outros gestores macro têm uma visão mais otimista quanto à economia global e norte-americana. “A gente acredita que Trump tem uma equipe econômica de qualidade, e o país vai caminhar na direção certa, com uma agenda neoliberal pró-mercado avançando”, disse Felipe Guerra, CIO da Legacy Capital, no mesmo evento. “A direção é muito boa, no global, vemos inflações caindo, convergindo em direção à meta”.

Com essa avaliação, Guerra se diz otimista com o desempenho da bolsa americana. “Vimos uma resiliência grande do consumidor e das empresas americanas, que dá sustentação importante, estamos otimistas com relação à tecnologia, de que o setor vai continuar a sustentar o crescimento americano”, disse. Assim, a estratégia do gestor é de aproveitar a volatilidade causada pela comunicação de Trump para montar posições na bolsa.

Fabiano Rios, CIO da Absolute Investimentos, tem mais cautela. “Vejo o S&P 500 com uma margem de segurança menor, um dólar que se valorizou absurdamente, não só contra o real e moedas emergentes. Não questiono o excepcionalismo americano, os EUA têm vantagens competitivas enormes, mas acho que o cenário se inverte, e começo a ficar preocupado com o tamanho da margem de segurança que a gente tem”, disse. “A chance de ter uma recessão técnica aumentou significativamente, e tenho algum receio com relação a uma correção um pouco maior nos próximos meses”, completou.

Para Carlos Woelz, sócio-fundador da Kapitalo Investimentos, os ruídos de Trump sobre o comércio internacional trazem desafios adicionais para as empresas. “Isso gera muita incerteza sobre onde investir e como construir cadeia de suprimentos. Numa economia normal, eu diria que é muito recessivo, que seria uma queda de capex [investimentos em infraestrutura]”, disse. No entanto, Woelz destaca que os avanços recentes no setor de tecnologia mudam as perspectivas. “Como há alguns setores em que a capacidade instalada é zero, não tem como não investir. Dado que tem todo esse investimento a ser feito, acho que a chance de recessão é menor”.

Para conhecer mais sobre finanças pessoais e investimentos, confira os conteúdos gratuitos na Plataforma de Cursos da B3. Se já é investidor e quer analisar todos os seus investimentos, gratuitamente, em um só lugar, acesse a Área do Investidor.