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Lula e Biden se reúnem nesta sexta em meio a déficit recorde no comércio com EUA

Parceria se intensificou em 2022, mas rombo na balança comercial brasileira com os EUA subiu quase 70%. Presidentes devem discutir democracia, transição energética e acordos comerciais

Luiz Inácio Lula da Silva, presidente do Brasil. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
O desembarque de Lula nos Estados Unidos acontece no momento que o saldo de comércio entre os dois países bateu recorde negativo para o Brasil. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se reúne nesta sexta-feira, 10/02, com o americano Joe Biden na Casa Branca, em Washington. O encontro acontece pouco mais de um mês após as manifestações antidemocráticas em Brasília e dois anos depois dos ataques ao Capitólio.

Os atos feitos por radicais devem ser discutidos entre os mandatários, assim como a Guerra na Ucrânia. Lula pretende sugerir ao americano a criação de um ‘novo G20’ para ajudar numa solução negociada para o conflito – inclusive com a participação direta da China e da Turquia. A agenda ambiental também está na pauta com a ministra Marina Silva na comitiva brasileira.

“A democracia estará seguramente no centro das conversas entre os dois presidentes. Ambos os governos já sinalizaram isso. Sendo as duas maiores democracias das Américas, há uma convergência natural de cooperação nestas áreas. Os acontecimentos no Brasil e nos Estados Unidos reforçam esta tendência”, afirma Abrão Neto, vice-presidente executivo da Amcham Brasil – Câmara Americana de Comércio que representa 1/3 do PIB brasileiro com cerca de 3.500 empresas associadas.

O desembarque de Lula nos Estados Unidos acontece no momento que o saldo de comércio entre os dois países bateu recorde negativo para o Brasil. O déficit da nossa balança comercial com os americanos cresceu quase 70% em 2022, na comparação com o ano anterior, e atingiu US$ 13,9 bilhões. É o maior saldo negativo entre todos os parceiros comerciais do país no ano passado, segundo o Monitor de Comércio da Amcham Brasil.

Para Abrão Neto, o encontro entre os dois presidentes tende a estreitar os laços econômicos entre Brasil e Estados Unidos – que já são parceiros estratégicos.

“O setor empresarial espera que a agenda econômica esteja no centro das conversas e apresentou ao governo as suas prioridades, tais como: cooperação em meio ambiente e transição energética, aumento da integração em cadeias de valor em setores estratégicos, aprofundamento dos acordos comerciais e da agenda de comércio e intensificação de diálogos em alto nível em várias áreas”, afirmou.

Mesmo com a balança mais favorável aos EUA no ano passado – além das turbulências que tomaram conta da agenda econômica como a guerra, a desaceleração na China e inflação mundial em alta – as trocas comerciais atingiram o maior patamar da série histórica. A soma de exportações e importações dos dois países bateram US$ 88,7 bilhões – alta de 26% ante 2021 – ano do recorde anterior. Com esse resultado, os americanos se consolidam como nosso segundo maior parceiro comercial, atrás apenas da China.

BALANÇA COMERCIAL – BRASIL X EUA (em US$ bilhões)

Gráfico de Balança comercial Brasil x EUA
Fonte: Comexstat/Amcham

A participação dos Estados Unidos no comércio com o Brasil avançou de 14,1% em 2021 para 14,6% em 2022. Apesar da melhora, o valor está bem abaixo do patamar pré-pandemia que era de 15,8% em 2019.

O desempenho bilateral entre os dois países teve desempenho acima da média no comércio exterior brasileiro. Enquanto o crescimento das exportações do Brasil para o mundo foi de 19,3%, para os Estados Unidos o valor foi de 20,2%. Pelo lado das importações, a compra total brasileira com o planeta foi de 24,3% enquanto o das vindas dos EUA foi de 30,3%.

O vice-presidente executivo da Amcham Brasil explica que o comércio entre os dois países é de alta qualidade e contribui de maneira muito positiva para a economia brasileira.

“79% das exportações brasileiras aos Estados Unidos são de bens industriais, contra uma média de 50% do comércio com o mundo. Além disso, os Estados Unidos são destino de quase metade de todos os bens de alta tecnologia vendidos pelo Brasil ao mundo. Em uma perspectiva mais ampla, os EUA são o maior investidor externo no Brasil [US$ 124 bilhões em estoque] e o maior parceiro comercial nas trocas de serviços”, conclui Neto.

Importações

Os EUA atingiram no ano passado o pico de participação nas importações brasileiras (18,8%), atrás apenas da China (22,3%). Os desembarques por aqui bateram recorde de US$ 51,3 bilhões – puxado pelo aumento de 35,6% dos preços médios das importações. O volume exportado, no entanto, teve queda de 4%.

Dos dez produtos importados pelo Brasil, nove cresceram em valor em 2022. As principais influências vieram de óleos combustíveis, petróleo bruto e carvão mineral – que representaram 69,2% do aumento das importações.

A alta dos preços foi puxada pela guerra na Ucrânia, já que o barril do petróleo ficou mais caro diante das sanções dos Estados Unidos e da União Europeia contra a commodity e o gás natural exportados pela Rússia. Os bloqueios reduziram a quantidade dos produtos no mercado internacional e o preço subiu. A Rússia é o segundo maior produtor e exportador de petróleo do mundo.

Com os desdobramentos do conflito, o volume de fertilizantes importado dos Estados Unidos cresceu 10,8% e o valor dos insumos avançaram 94,4%. Um incremento de R$ 1,6 bilhão.

“O conflito na Ucrânia contribuiu para que os países aumentassem as trocas substituindo outros fornecedores. Esse caso é claro no aumento de importações do Brasil de adubos e fertilizantes e na venda aos Estados Unidos de petróleo bruto”, explica o vice-presidente executivo da Amcham Brasil.

10 PRINCIPAIS PRODUTOS IMPORTADOS – BRASIL X EUA

GRUPOVALOR (US$ mi)
 20212022Var. Valor
Óleos combustíveis7.43912.80072,1%
Motores e máquinas não elétricos2.9984.21940,7%
Gás natural3.2723.170-3,1%
Petróleo bruto1.0503.001185,8%
Carvão8121.751115,6%
Adubos ou fertilizantes químicos8531.64292,4%
Inseticidas, fungicidas e herbicidas9511.24130,6%
Aeronaves1.1771.1212,9%
Polímeros de etileno1.0071.16115,3%
Químicos inorgânicos5351.04795,7%
TOTAL39.385,551.317,030,3%
Fonte: Comexstat/Amcham

Exportações

Os Estados Unidos seguem como o segundo maior destino das exportações brasileiras com 11,2% de participação – novamente atrás da China. Os embarques para os norte-americanos avançaram 20,2% no ano passado em relação a 2021, atingindo o valor inédito de US$ 37,4 bilhões.

A alta foi liderada mais uma vez pelo aumento dos preços – que subiram, em média, 20% – de itens como petróleo e café. Além do crescimento do volume das exportações (8%), visto em sete dos dez principais produtos exportados.

Segundo a Amcham, petróleo bruto, ferro-gusa (importante insumo siderúrgico), café não torrado e aeronaves concentram mais da metade do crescimento das exportações brasileiras para os EUA em 2022. Oito dos dez produtos mais embarcados passaram a ter mais de US$ 1 bilhão em exportação – um crescimento disseminado.

10 PRINCIPAIS PRODUTOS EXPORTADOS – BRASIL X EUA

GRUPOVALOR (US$ mi)
 20212022Var. Valor
Óleos brutos de petróleo3.0795.05064%
Semiacabados de ferro e aço4.5204.505-0,3%
Aeronaves e suas partes1.5472.15639,4%
Ferro-gusa1.2291.97760,8%
Café não torrado1.1221.71352,7%
Equip. de engenharia civil9401.17925,4%
Celulose1.0991.1696,4%
Madeira trabalhada8251.10834,3%
Materiais de construção833745-10,6%
Sucos de Frutas ou de vegetais45867547,4%
TOTAL31.145,237.438,620,2%
Fonte: Comexstat/Amcham

Perspectivas para 2023

A perspectiva para 2023 é de aumento da importância dos Estados Unidos nas vendas brasileiras, principalmente diante de oportunidades na economia verde e cadeias de suprimentos. O ponto central, entretanto, são as incertezas econômicas e geopolíticas bastante elevadas, o que pode alterar esse quadro. A inflação mundial ainda em patamares elevados, assim como os juros, também pode mudar essa perspectiva.

“Já no final de 2022 os preços de algumas commodities, sobretudo as de energia estavam apresentando alguma queda e isso já se refletia na redução dos preços no comércio. Para 2023, esse valor deve ficar abaixo dos máximos observados em 2022, porém ainda em patamares mais altos em relação às médias históricas”, conclui Abrão Neto.

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