Mercado

Balanços corporativos: confira os altos e baixos da semana

Melhor resultado dos bancos, apesar da alta da inadimplência, contrasta com um cenário desafiador que as empresas precisam lidar

Linhas de gráfico numa tela de computador
A Bolsa de Valores divide suas ações em setores baseados na atuação das empresas na economia real. Foto: Adobe Stock

A semana termina com altos e baixos nos resultados dos setores financeiros, varejo e construção civil. Apesar de atuarem em nichos diferentes, os balanços trazem o consenso de que o cenário macroeconômico do país e do mundo é desafiador.

Para os bancos, se por um lado a inadimplência pressionou os resultados, pelo outro o aumento das concessões de crédito esbarrou em linhas mais arriscadas. Já o setor financeiro foi impactado pelo cenário internacional adverso e pela alta dos juros que pressionou os ganhos.

No varejo, o resultado reflete o ambiente econômico. Apesar da desaceleração da inflação e do desemprego, o endividamento das famílias barra um consumo mais forte. Para as incorporadoras os insumos da construção ficaram mais baratos, mas o futuro é incerto.

Desempenho dos bancos

Os quatro grandes bancos de capital aberto – Itaú UnibancoBradescoBanco do Brasil (BB) e Santander – tiveram juntos lucro de R$ 24,784 bilhões no terceiro trimestre – alta de 7,6% em relação ao período do ano passado. A carteira de crédito cresceu 14,5%, para R$ 3,525 trilhões – mostrando que o aumento da taxa básica de juros não desacelerou as concessões como era esperado.

No entanto, as taxas de concessão de crédito mais elevadas e a inflação ainda em patamares altos puxam para cima a inadimplência. Assim, as provisões para devedores duvidosos (PDD) – que é a reserva de capital que empresas fazem para lidar com casos de inadimplência – avançou 60,5%, para R$ 26 bilhões.

Itaú Unibanco, que divulgou seus resultados ontem (10), teve lucro líquido recorde no terceiro trimestre: R$ R$ 8,079 bilhões – alta de 19,2% em 12 meses. O banco conseguiu conter a inadimplência nos números totais das linhas de crédito. Ainda assim, a falta de pagamento no segmento de pessoas físicas chegou a 4,7%, ante 4,4% no trimestre anterior e 3,6% em um ano.

“O aumento ocorreu devido à maior inadimplência no segmento de pessoas físicas no Brasil, principalmente nas carteiras de cartão de crédito, crédito pessoal e financiamento de veículos. Além disso, também houve elevação do indicador de micro, pequenas e médias empresas, que segue em patamar historicamente baixo. O índice de grandes empresas ficou estável, no menor patamar da série histórica”, apontou o banco no seu comunicado.

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Investimentos em equilíbrio

B3 registrou lucro líquido recorrente de R$ 1,153 bilhão entre julho e setembro – queda de 10,7% em relação com o terceiro trimestre do ano passado. A receita líquida ficou em R$ 2,510 bilhões – estável na comparação anual.

Segundo o comunicado, o cenário mundial teve diferentes impactos nos negócios da B3. “As pressões inflacionárias no mundo e as correspondentes respostas das autoridades monetárias, a guerra na Ucrânia e preocupações sobre o desempenho econômico chinês continuaram trazendo incertezas para os mercados financeiros globais”. No cenário brasileiro, além da escalada dos juros, a B3 destaca também “a volatilidade que o período eleitoral adiciona aos mercados financeiros e de capitais”.

Para o sócio e Head de Renda Variável da Monte Bravo, Bruno Madruga, apesar do lucro líquido menor que há um ano, a B3 apresenta um resultado sólido, suportado principalmente por uma maior receita de serviços de mercado, de balcão e de tecnologia”.

“Esses dois fatores compensaram uma menor receita do segmento listado, devido à redução do volume médio diário na nossa bolsa nos últimos trimestres. A gente tem uma expectativa de um volume de negócios sendo recuperado nos próximos trimestres, com a possibilidade de entrada maior de capital estrangeiro na bolsa, compensando a saída – principalmente de pessoas físicas para ativos de renda fixa, em virtude da elevação dos juros”.

Desafio das varejistas

Magazine Luiza teve prejuízo líquido de R$ 166,7 milhões no terceiro trimestre. A varejista reverteu o lucro de R$ 143,5 milhões reportado em 2021. Por outro lado, as receitas líquidas somaram R$ 8,8 bilhões entre julho e setembro – avanço de 2,2% na comparação anual. As vendas totais cresceram 2,2% e atingiram R$ 14,2 bilhões – reflexo do aumento das vendas nas lojas físicas e e-commerce. No entanto, o custo da operação aumentou, com o avanço de 5,1% nas despesas operacionais ajustadas na comparação com um ano atrás.

Via, antiga Via Varejo, também registrou prejuízo, mas ele foi menor que na comparação com o mesmo trimestre do ano passado. As perdas somaram R$ 203 milhões – queda de 68,2% nessa base de comparação. A receita líquida caiu 4,6% em relação ao mesmo intervalo de 2021, para R$ 7 bilhões.

No informe de resultados, a companhia afirmou que “o terceiro trimestre foi mais desafiador do que prevíamos, mas terminou melhor do que se desenhava. O ambiente de vendas se mostrou positivo nas lojas físicas, mas com demanda pressionada nos canais digitais”. Mesmo se mostrando otimista, a companhia chamou atenção para o endividamento das famílias.

Para Bruno Madruga, os resultados negativos das varejistas refletem ainda um ambiente de inflação elevada e queda do desemprego ainda incipiente. “Com a inflação persistente, impactando os itens básicos de primeira necessidade das famílias, faz com que as compras de supérfluos fiquem em segundo plano e com isso o resultado das empresas veio bem aquém”.

No entanto, o sócio e Head de Renda Variável da Monte Bravo observa um cenário de melhora que virá da Black Friday e das compras de fim de ano. “Vai pegar um resultado de Black Friday, que está sendo antecipada pelas lojas, e tem o Natal. Ou seja, a expectativa de resultado do quarto trimestre é melhor”.

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Construtoras e Incorporadoras

As incorporadoras de médio e alto padrão apresentaram melhora nos seus balanços do terceiro trimestre na comparação com o anterior. A Cyrela viu seu lucro líquido avançar 91,4% sobre o segundo trimestre, para R$ 289 milhões. É também um aumento de 21,5% sobre o mesmo período do ano passado. Já a Eztec teve lucro líquido de R$ 105,4 milhões entre julho e setembro – alta de 26,8% ante o trimestre anterior – mas uma queda forte de 27,4% na comparação anual.

Para o diretor financeiro da Cyrela, Miguel Mickelberg, o trimestre trouxe arrefecimento da inflação de insumos da construção. Segundo ele, apesar do mercado continuar “desafiador”, não foi preciso oferecer descontos ou reajustar para baixo o preço das unidades para ajudar nas vendas.

“O setor de construção e incorporação depende basicamente de uma taxa de juro mais baixa e a perspectiva de que a Selic possa permanecer em 13,75% por um prazo mais longo traz esse cenário desafiador, já que o acesso ao crédito fica mais dificultoso”, explica Bruno Madruga, sócio e Head de Renda Variável da Monte Bravo.

Na semana passada, a Petrobras anunciou um lucro líquido de R$ 46,09 bilhões no terceiro trimestre deste ano. Apesar da alta no resultado, o mercado ainda segue aguardando a decisão do novo governo sobre o nome que vai comandar a companhia.

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