“Brasil precisa de nova narrativa sobre crescimento”, afirmam gestores da BlackRock e Franklin Templeton
Menor crescimento da China abriu espaço para que outros países emergentes se conectem a novas teses de investimento
“O ano tem sido desafiador para mercados emergentes, mas no Brasil, temos um balanço de pagamentos forte e a inflação melhor que outros países”, afirmou Cassiana Fernandez, do J.P. Morgan. Mesmo assim, o País teve o pior desempenho entre os emergentes, segundo ela. O que explica esse cenário? Com essa pergunta, Cassiana iniciou o painel sobre macroeconomia no MKBR24, evento organizado pela B3 em parceria com a Anbima.
Para Axel Christensen, Estrategista Chefe de Investimento na América Latina da BlackRock, os mercados emergentes têm sido uma classe de ativos muito dispersa, cada um com seus componentes idiossincráticos atuando de forma a beneficiar ou prejudicar os negócios. “O Brasil é um dos mercados mais sensíveis a juros, não só para os investidores estrangeiros, mas também para os locais”, comentou.
“Aprendi que o investimento padrão para os brasileiros é a renda fixa. Só quando a renda fixa não está indo muito bem que olham para ações”, disse. Isso, segundo Christensen, afeta inclusive a forma como os estrangeiros olham para o país.
Na renda fixa, diz ele, o Brasil tem se destacado de forma muito positiva por sua estabilidade. “O Banco Central reagiu mais rápido do que os outros países no controle da inflação, e reduziu os juros antes dos demais países também”.
Nova narrativa de crescimento?
Por outro lado, os ativos mais orientados ao crescimento ainda patinam. “A questão é como o Brasil conseguirá um crescimento de longo prazo. O crescimento não tem sido forte suficiente, especialmente comparado com outros emergentes”.
Anos atrás, toda a narrativa a favor dos mercados emergentes estava conectada à China, de acordo com Axel Christensen, da BlackRock. Mas hoje, o país asiático não apresenta mais as mesmas perspectivas de crescimento de antes. Segundo ele, isso abriu espaço para uma conversa mais focada nas mudanças estruturais, nos impactos da transição energética e na importância da segurança alimentar. “Os investidores olhando para mercados emergentes têm separado a China dos outros, o que é positivo”, disse.
“O Brasil tem um mercado grande, com consumo desenvolvido, e é forte na produção de commodities. Isso traz conexão com as mudanças estruturais [pelas quais o mundo passa], como a maior demanda por commodities” e pode compensar a menor demanda chinesa, afirmou Christensen. No entanto, “quando se olha para perspectiva de crescimento, como tecnologia, o Brasil teria de estar melhor para atrair o investidor estrangeiro de forma mais estrutural”.
“Mesmo quando empresas brasileiras ligadas à tecnologia vão a mercado, preferem abrir o capital em bolsas estrangeiras”, lembrou o Estrategista Chefe de Investimento na América Latina da BlackRock.
Segundo ele, o Brasil precisa “criar uma história de crescimento mais competitiva”. Em comparação, o México tem se beneficiado da tendência do nearshoring, com as empresas dos EUA preferindo trazer a produção industrial para países mais próximos geograficamente. A Índia, por sua vez, tem atraído investimentos com foco em tecnologia e com a questão de sua demografia, já que o país ainda tem um crescimento populacional importante.
Reformas estruturais
Para Daniel Popovich, gestor da Franklin Templeton Investment Solutions, uma forma de estimular o crescimento doméstico é com reformas estruturais, como a trabalhista e a tributária. “O sistema tributário no Brasil é bizantino. Como uma empresa estrangeira vem sem saber como vai ser taxada? É uma questão importante que precisa ser endereçada”.
No aspecto geográfico e geopolítico, o Brasil pode ser um player importante no tema de segurança energética e alimentar. Entretanto, Popovich lembra que quando conversa com gestores de portfólios estrangeiros e pergunta sobre o Brasil vê sempre uma alocação tática, mas nunca um investimento estratégico, de longo prazo. “As reformas podem ajudar a fazer do Brasil a próxima história de crescimento” entre os emergentes.
Na renda fixa, ele ressalta que é preciso uma política fiscal “mais equilibrada, que permitisse ao investidor ver um caminho para uma estabilização” para que os investidores estrangeiros passem a ter uma alocação maior no País.
Redução de juros
Além disso, outro aspecto visto por ele como essencial para o crescimento do mercado de renda variável no Brasil é a redução dos juros. “O custo de capital para empresas brasileiras é muito alto. Se conseguíssemos baixar os juros, seria muito positivo para o Brasil, traria mais investimentos e tecnologia”, afirmou o gestor da Franklin Templeton.
“Quando olhamos para os múltiplos das empresas, o Ibovespa está com múltiplos muito mais baixos do que outros países como México, Índia e Taiwan. Além dos juros, se tivéssemos mais reformas, isso poderia gerar uma oportunidade de pelo menos reavaliar os valuations”, afirmou.
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