Mercado

Entenda como a escalada no conflito do Oriente Médio impacta seus investimentos

Incertezas podem afetar os preços do barril de petróleo e aumentar a inflação de custos

A escalada de tensão no Oriente Médio desperta a preocupação dos investidores. O conflito traz incertezas e volatilidade nos mercados. Pode ainda influenciar os preços do barril de petróleo e levar a um aumento da inflação de custos em todo o mundo. A região é grande produtora da commodity e também é por onde passa boa parte dos navios comerciais internacionais. Por isso, a possibilidade do conflito entre Israel contra Hamas e Hezbollah escalar a outro patamar gera um temor no mercado financeiro. Essa foi uma das razões que explica a queda nos principais índices das bolsas de valores ao redor do mundo nesta segunda-feira.

No final de semana, a embaixada do Brasil no Líbano alertou a comunidade brasileira para que saísse do país até o retorno à normalidade. “Aos nacionais que julguem essencial a estadia no Líbano, evitar permanecer no sul do país, em zonas de fronteira ou em outras áreas de reconhecido risco”, diz trecho do comunicado.

A tensão cresceu dias após a morte do comandante militar do Hezbollah, Fuad Shukr, e do líder político do Hamas, Ismail Haniyeh, que estava no Irã. Os dois grupos prometeram retaliação a Israel, que não nega e nem confirma a autoria das mortes. Os conflitos começaram no dia 7 de outubro do ano passado, quando o grupo Hamas atacou Israel e matou aproximadamente 1,2 mil pessoas e manteve 250 reféns até então. Em resposta, Israel deflagrou uma série de ataques na Faixa de Gaza que já deixou mais de 30 mil mortos, entre crianças, mulheres e idosos. Agora, o embate se espalha por outros pontos na região.

Incertezas

Para a economista e professora de pós-graduação da Fundação Getulio Vargas (FGV), Carla Beni, o cenário de incertezas e de alta complexidade no Oriente Médio demanda cautela aos investidores. Como alternativa ao risco, ela aponta a renda fixa como opção. No primeiro semestre, os produtos de renda fixa registraram uma captação recorde de R$ 337,9 bilhões, conforme dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).

“São oscilações fortes na bolsa. Então, normalmente quando se entra em período de muita incerteza, você pode ir para renda fixa, se tiver possibilidade dentro da sua carteira. O Brasil está pagando muito em renda fixa porque nossa taxa real de juros está extremamente elevada. No Tesouro, a Selic continua muito rentável e o IPCA + também”, explica.

Beni acredita que as eleições nos EUA também são um fator importante nessa conta, já que o posicionamento do país norte-americano pode ser um peso determinante no conflito no Oriente Médio. Os dois candidatos à Casa Branca, Donald Trump e Kamala Harris, são contrários ao prolongamento do embate bélico.

Já o professor de economia internacional da Faculdade de Administração, Economia e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP) Paulo Feldman não vê uma escalada por enquanto e considera os episódios violentos como esporádicos, ou seja, dentro do previsto que já costuma ocorrer na região há décadas.

“Não vejo uma escalada porque, na verdade, isso só aconteceria se os principais players, os protagonistas, estivessem interessados em uma escalada, que são EUA, China e Rússia. Eles fazem de tudo para que o conflito não se expanda”, afirma.

Impactos

O barril de petróleo tipo Brent é cotado nesta segunda-feira em torno de US$ 76,20. Desde a escalada dos episódios de violência, o preço teve trajetória de queda ao passar de US$ 80,72, na quarta-feira (30), para o atual patamar. Para Feldman, isso demonstra que as oscilações para cima e para baixo ocorrem em um curto prazo, e os preços logo voltam a se estabilizar.

Já no longo prazo, o preço do petróleo tende a cair devido ao maior incentivo em energias renováveis, segundo Feldman. “No longo prazo, o preço do petróleo irá cair porque o mundo inteiro está criando condições para reduzir as emissões de CO2. Nós precisamos que haja uma diminuição muito grande no consumo de petróleo. Os esforços dos países vão no sentido de reduzir o CO2 e trabalhar com outras fontes de energia. Em 2050, o consumo do petróleo será menos da metade [do consumo atual], o que irá reduzir a demanda”, observa.

Carla Beni, por outro lado, alerta que, caso o conflito no Oriente Médio ganhe novas proporções, o aumento no preço do barril de petróleo e uma consequente inflação de custos será inevitável. A inflação de custos recai sobre as matérias primas usadas para fabricar um produto. “O aumento do petróleo aumenta a inflação [de custos] para todos os países. Estamos com um cenário muito complexo para pensar qualquer tipo de previsão. Então, uma possível escalada pode vir, se isso [os conflitos bélicos] se perpetuar. Essa movimentação toda vai alterar os investimentos e as bolsas no mundo.”

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