Mercado

EUA ou China: qual o maior risco para a economia global, segundo economistas

EUA se preparam para corte de juros, enquanto China tenta lidar com desaceleração econômica

2024 tem se mostrado um ano de incertezas no cenário macroeconômico internacional. De um lado, a inflação nos Estados Unidos se mostrou mais resiliente do que se esperava, o que levou o Federal Reserve (o banco central americano) a manter as taxas de juros mais elevadas. Após meses de espera, o mercado agora prevê um início do ciclo de afrouxamento em setembro, mas há quem tema que a economia possa entrar em recessão. Do outro lado do mundo, a China, segunda maior economia do mundo, também desacelera.

Durante a Expert XP, que acontece nesta sexta-feira (30/08), em São Paulo, os economistas Fernando Fenólio, Natalie Victal e Felipe Tâmega, discutiram as perspectivas para as duas potências.

Estados Unidos: dúvidas quanto ao pouso suave

“A economia americana está desacelerando, o mercado de trabalho está desacelerando. O Capex [investimentos] da indústria, se excluir inteligência artificial, está diminuindo. O setor de housing [imobiliário] também. A economia está meio parada, o que está segurando é o consumo”, disse Fernando Fenólio, economista-chefe da WHG.

“Por isso o Fed se preocupa em manter o mercado de trabalho saudável, para que a economia continue crescendo perto de 2%”, afirmou. Segundo ele, a sinalização de que a autoridade monetária irá começar a reduzir juros em setembro mostra uma “proatividade” para evitar uma crise que possa gerar demissões. “Começando o processo de corte, o Fed pode trazer os juros de 5,5% para perto de 3%, meio rápido”.

Com uma visão um pouco diferente, Natalie Victal, economista-chefe da SulAmérica, diz entender que a economia americana está caminhando para um pouso suave. Mas ela concorda com a expectativa de corte de juros. “Uma novidade muito importante foi a mudança de discurso do presidente do Fed [Jerome Powell], de que pararam tanto de focar no mandato de inflação e passaram a focar no mandato de emprego”, disse. A economista espera que a autoridade monetária irá cortar juros em 0,25 ponto porcentual por reunião, até um patamar perto de 3%.

“Não vejo fraqueza do mercado de trabalho, parece que está conseguindo um novo equilíbrio, uma adequação de poupança. Me parece ser um sinal de saúde, não necessariamente um sinal de fraqueza”, diz.

Felipe Tâmega, economista-chefe na Absolute Investimentos, também está do lado mais otimista. “Nossa visão ainda é um pouco mais construtiva com relação ao crescimento dos EUA. Estamos em um momento de diferenciação de ciclo econômico em escala global e, pegando os principais países, acho que EUA continuarão sendo destaque positivo em termos de crescimento”.

O que dá suporte a essa tese, segundo ele, é justamente o consumo das famílias norte-americanas, que na visão da Absolute, irá continuar sendo “a força motriz da economia dos Estados Unidos por um pouco mais de tempo”. Segundo ele, isso é fruto do chamado efeito riqueza. “Vimos um aumento do preço de imóveis, que são um dos principais ativos das famílias, e dos preços das ações, que também compõem um porcentual relevante da riqueza do país”, disse. “Isso faz com que, o norte-americano hoje se sinta muito mais rico, o que permite a ele poupar menos”.

Dívida dos EUA preocupa?

Tâmega diz não ver elementos que tragam preocupação quanto à dívida americana, visto que a demanda pelos títulos do governo dos EUA segue estável. A compra de títulos da dívida por parte dos Bancos Centrais foi reduzida, em especial pela Rússia, “mas isso não tem a ver com a sustentabilidade da dívida, mais com geopolítica”, disse. Já a China, na visão dele, reduziu as compras, mas não de forma drástica. “A queda da demanda por BCs foi mais do que compensada pela demanda privada”, afirmou.

Fenólio, mais pessimista, discorda. “Acho que os compradores cativos saíram com mais força, e sobrou mais [títulos] para o investidor privado, que é mais sensível a preço e taxa”, disse. Isso pode trazer mais preocupação para países emergentes no curto prazo.

“No médio prazo, em algum momento, vai ter que fazer ajuste fiscal nos EUA, talvez não na próxima administração, mas o desequilíbrio vai ser tão grande que vai ter implicação no mundo inteiro”, disse.

E o problema da dívida parece que não será resolvido no próximo mandato. Segundo Natalie Victal, os dois candidatos à presidência dos EUA podem trazer um aumento do déficit público – no caso de Donald Trump, via redução de impostos, e no caso de Kamala Harris, pelo aumento de gastos.

China: desaceleração e pouca reação do governo

Para Natalie Victal, a China é um ponto de atenção. Por anos, o país buscou um crescimento via demanda externa, “só que agora o exterior também começou a reagir. Estamos vendo a imposição de tarifas [aos produtos chineses] ,e caso o Trump ganhe, tem a possibilidade de uma nova rodada de tarifas”, disse.

Por outro lado, as medidas de estímulo impostas pelo governo chinês “não são para estimular demanda, mas oferta”, afirmou a economista. “A gente está vendo uma desaceleração da economia chinesa, que sabemos quando começa, mas não quando termina, e a resposta do governo chinês não parece tão efetiva”.

Para Tâmega, a China vive uma situação “singular”. “Desde a pandemia, houve um impulso grande do lado da oferta, a produção aumentou muito, mas riqueza não tanto”, disse. Isso fez com que o país aumentasse ainda mais suas exportações, “mas tem uma questão que faz com que esse desequilíbrio externo não seja corrigido, que domesticamente tem uma poupança enorme que não tem alternativas de investimentos razoáveis. Isso faz com que tenha poupança doméstica na China querendo sair”.

“A economia chinesa perdeu força, mas parece que [o governo] não está muito preocupado com taxa de crescimento do PIB, mas em garantir segurança na produção e desenvolvimento da tecnologia”, disse Fenólio.

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