Inflação: o que é, como afeta seu bolso e como se proteger
Índice de preços de produtos e serviços pode afetar a rentabilidade dos investimentos de renda fixa e variável
Ela já foi o assunto da economia do Brasil por décadas. E, depois de um tempo contida, voltou a frequentar as manchetes durante a pandemia do coronavírus. Mas o que é a inflação? É, basicamente, um aumento dos preços de produtos e serviços que traz, como consequência, uma redução do poder de compra das pessoas.
Calculada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a inflação tem como índice oficial no Brasil pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo). Mensalmente são avaliados os preços de produtos e serviços do varejo em treze áreas urbanas do Brasil – são cerca de 430 mil preços em 30 mil locais. Todos esses valores são comparados com os do mês anterior, resultando numa variação geral de preços no período estudado. O IBGE produz e divulga o IPCA desde 1980.
Inflação e juros
O IPCA é usado como referência para definir a política monetária no Brasil. Desde 1999, o país tem um sistema de metas de inflação. Isso quer dizer que o Banco Central leva em consideração a tendência de preços para definir os juros (taxa Selic).
Quando o IPCA está subindo, é esperado que o Banco Central aumente a taxa de juros para inibir o consumo e contribuir para a queda da inflação. Ou seja, se há menos pessoas para consumir produtos e serviços, o preço tende a diminuir, segundo a lei da oferta e demanda.
Além do IPCA, há outros índices de acompanhamento de preços. Um dos mais importantes é o IGP-M (Índice Geral de Preços – Mercado), calculado pela Fundação Getulio Vargas (FGV). Ele também acompanha a evolução de preços de uma cesta de bens e serviços e é conhecido como o “índice do aluguel”, por servir de indexador do reajuste anual da maioria dos contratos de locação de imóveis.
Histórico de inflação no Brasil
A preocupação da política monetária brasileira com a inflação é justificada pela história recente do país. Na década de 1980, o consumidor ficou refém de variações vertiginosas de preços. Em 1985, o IPCA chegou a 235%. Como base de comparação, a inflação oficial fechou em 10,06% em 2021.
A hiperinflação foi resultado de políticas econômicas adotadas durante a ditadura militar e de crises internacionais, como a do petróleo. Coube ao governo do então presidente José Sarney procurar soluções para a alta descontrolada dos preços.
Tentativas para sanar a alta descontrolada da inflação
A primeira tentativa foi o Plano Cruzado, de 1986, que substituiu a moeda corrente, o cruzeiro, pelo cruzado, e instituiu o congelamento de preços. O plano funcionou no início e os preços diminuíram. Nessa época ficaram conhecidos os “fiscais do Sarney’, grupo de pessoas que, respondendo a um apelo do presidente, iam a supermercados para fiscalizar se o congelamento dos preços estava sendo respeitado pelos comerciantes.
Mas a melhoria do quadro econômico foi passageira. No último semestre de 1986, as prateleiras de supermercados ficaram desabastecidas, pois vários produtores se recusaram a vender seus produtos pelos preços tabelados e, apesar da vigilância dos fiscais do Sarney, muitos comerciantes praticavam preços maiores.
Seguiram-se novos planos econômicos: Plano Cruzado II, em 1986; Plano Bresser, em 1987; Plano Verão em 1989 – e uma nova moeda, o Cruzado Novo – , mas nenhuma dessas ações conseguiu estabilizar a economia brasileira. Em março de 1990, a variação inflacionária alcançou o recorde de 82,39%. Mais de 80% num mês!
No período de 1980 a 1994, o índice acumulado foi de impressionantes 13.342.346.717.671,7%. Foi naquele ano que, com a implantação do Plano Real, no governo Itamar Franco, a inflação começou a ser controlada. O Cruzado Novo foi substituído pelo Real depois de uma transição com uso da URV (Unidade Real de Valor).
Contexto atual da inflação
Mesmo que não seja comparável à década de 1980, a inflação voltou ao radar dos investidores. O IPCA encerrou 2021 em 10,06%, acima do teto da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), de 5,25%.
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Entre as explicações para o aumento dos preços no Brasil no contexto da pandemia estão: 1) problemas nas cadeias de suprimentos que diminuíram a oferta de certos produtos, gerando aumento de preços; 2) desvalorização do real em relação ao dólar, o que encarece todos os produtos importados, com reflexos em cadeia; 3) aumento do preço da energia elétrica, pois a redução do potencial hidráulico levou ao acionamento de usinas termelétricas que têm um custo mais alto de geração.
Impactos nos investimentos
Com os preços aumentando, pode ficar mais difícil se planejar para que haja dinheiro para investir. Isso leva à necessidade de reavaliar gastos e eventuais trocas para readequar o orçamento familiar.
É hora de cortar gastos que podem ficar esquecidos na fatura do cartão de crédito – como assinaturas recorrentes, anuidades –, renegociar planos de celular, internet, academia, além de redobrar a prudência ao fazer dívidas.
O contexto também pede que as pessoas avaliem melhor seus investimentos para conseguir obter ganho real – ou seja, acima da inflação. Se o ganho nominal – no valor absoluto – não superar a inflação do período, significa que houve uma perda no poder de compra do investidor.
Comportamento dos investidores durante a alta da inflação
Durante um cenário de inflação alta, é importante que o investidor trace uma estratégia que preserve mais o valor de seus investimentos. Por isso, o melhor a fazer é adotar uma postura defensiva, priorizando esses investimentos que conseguem preservar, mesmo que de maneira parcial, o valor do dinheiro.
Entre esses podemos destacar os títulos de renda fixa pós-fixados (tanto aqueles indexados a taxas de juros quanto aqueles indexados à inflação) e ações de empresas que tenham facilidade em repassar a inflação ao preço de seus produtos e serviços.
Um desses setores é o varejo, que tradicionalmente consegue repassar a inflação aos seus consumidores, porém, o setor vem apresentando um desempenho ruim nos últimos anos por outros motivos, não ligados diretamente à inflação.
Por outro lado, um cenário de inflação baixa favorece os títulos de renda fixa prefixados e a bolsa de valores de uma forma geral. Uma inflação baixa tipicamente está associada a uma economia estável e em que as pessoas estão conseguindo preservar seu poder de compra. Isso é benéfico para as empresas, que tendem a ter vendas maiores, e se reflete nos preços das ações.
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*As informações acima, sobre investimentos em cenários de inflação alta e baixa, foram fornecidas por André Massaro, professor da B3 Educação.
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