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O que esperar do Brasil pós-eleição? Economistas respondem

Painel do MKBR22 debateu o cenário da economia brasileira em meio à crise internacional e com desafios internos

Foto: Divulgação/Cauê Diniz
Segundo especialistas, internamente, há questões importantes que precisam ser endereçadas pelo próximo governo. Foto: Divulgação/Cauê Diniz

O mundo caminha para o fim de dois longos ciclos e deve enfrentar recessão econômica, o que terá impactos no Brasil. Internamente, reformas precisam sair do papel e o país tem um desafio fiscal para lidar. Persio Arida, Ph.D em economia pelo MIT (Massachusetts Institute of Technology) e ex-presidente do BNDES e do Banco Central, e Eduardo Giannetti, economista e cientista social, avaliaram o cenário econômico do Brasil pós-eleição, durante painel na tarde no MKBR22, evento organizado pela ANBIMA e pela B3.

Os ciclos de juros e de inflação baixos e de hiperglobalização estão se aproximando do fim e a pergunta é por quanto tempo o mundo ou, pelo menos, os países do hemisfério norte, estarão diante de juros e de inflação mais altas. Existe, ainda, um movimento de reposicionamento dos mercados na direção contrária da hiperglobalização, que começou na década de 1980.

“Acredito que teremos uma recessão global no ano que vem, causada pelo aumento das taxas de juros nos países desenvolvidos”, diz Persio. O Brasil, por contar com energia elétrica barata, não ter conflitos étnicos ou internos mais graves e devido à sua equidistância diplomática entre Estados Unidos e China pode ser beneficiário e receber investimentos estrangeiros, acrescenta.

Desafio fiscal

Internamente, há questões importantes que precisam ser endereçadas pelo próximo governo. O desafio fiscal é um deles. Segundo Giannetti, não se trata de um ajuste imediato; é preciso criar horizonte de estabilização da dívida pública em relação ao PIB. “É algo que foi conquistado com o governo Temer, mas que voltou a crescer com Bolsonaro por questões legítimas, por causa da covid-19 e agora, por razões que não são legítimas, o gasto público voltou a crescer de forma insustentável”, avalia.

Giannetti defende que haja uma ancoragem fiscal, colocando um horizonte para o endividamento e apontando para a estabilidade. “Criar expectativa de que a questão está sendo endereçada é primordial”, diz.

Para Persio, a exemplo do que vem ocorrendo no mundo, há o desafio de combinar políticas fiscais expansionistas com políticas monetárias contracionistas e é difícil o Brasil escapar desta lógica. “De imediato, o Brasil deve ter uma política expansionista que não é ideal, mas é uma exposição da nossa realidade. Resta saber se qualquer espaço adicional de gastos será bem utilizado”, pontua.

Além disso, Persio frisa que o Brasil precisa passar por reformas administrativa e tributária, ter abertura comercial e investir em áreas críticas. Mas por onde começar? Para ele, a reforma de estado é um longo processo que poderia começar sem grandes rupturas.

Já a reforma tributária, o ex-presidente do BNDES e do Banco Central admite que ela é sempre difícil e complicada para avançar. “Mas, hoje, temos elementos importantes que pavimentam o caminho. Também tem aspecto distributivo que rico paga pouco imposto e do outro lado é preciso diminuir onerações sobre a folha de trabalho.”

Finalizando sua fala, Giannetti acrescenta que uma peça-chave é a maior integração do Brasil ao fluxo mundial do comércio, para se tornar mais competitivo.

Confira nosso vídeo sobre como se proteger da inflação ao investir: