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Mercados emergentes podem ganhar fôlego com cortes de juros globais

Brasil mantém fluxo de capital estrangeiro, mas cenário interno ainda impõe desafio com Selic elevada

Os mercados emergentes podem ser os beneficiados no novo ciclo global de cortes de juros, avaliam especialistas. Para Nathan do Nascimento, vice-presidente da BlackRock, a conjuntura internacional é favorável e abre espaço para que o Banco Central do Brasil (BCB) acompanhe o movimento mais cedo do que se previa.

“Ainda que o timing possa se diferenciar, vemos os bancos centrais de diversos países cortando taxas ao redor do mundo no último trimestre. A novidade é o Fed se juntando a esses BCs, caminhando para um corte de 0,25 ponto em setembro, e na nossa opinião, mais um corte em 0,25 em dezembro. Com a expectativa de inflação bastante ancorada perto dos 2% no longo prazo”, afirmou.

Na Europa, segundo ele, a situação também inspira confiança. “O BCE conseguiu trazer as taxas [de juros] de 4% para 2%. Devemos continuar a ver uma atividade sustentada por causa dos gastos de defesa, mas a expectativa de inflação está muito ancorada em 2%”

Para ele, esse cenário abre espaço para os bancos centrais de países emergentes.  “É uma conjuntura que deixa os BCs ao redor do mundo livres para continuar cortando taxas ou para retomar cortes, lugares como México, Chile, Indonésia, Índia, Filipinas”, disse. No Brasil, a combinação de atividade doméstica arrefecendo, impulso fiscal negativo no segundo semestre e expectativa de inflação em queda abre espaço para cortes da Selic ainda este ano. “Se era consenso um primeiro corte em janeiro, acho que pode começar mais gradual em dezembro”, apontou Nascimento.

Marta Veloso, managing director da Fitch Ratings, reforçou que o maior obstáculo para as empresas brasileiras ainda é o juro elevado. “Do ponto de vista das empresas que a gente avalia, o maior vilão ainda é o juro. Não é o único problema, há guerra tarifária, expectativa de desaceleração da economia mundial e até mesmo processo eleitoral, mas vemos que as empresas estão bem-preparadas”, afirmou.

Segundo ela, a projeção da Fitch é que a Selic só comece a cair de forma consistente em 2025, chegando a 12% no fim de 2026. “São juros altos, mas caindo. Com isso, vemos indicadores bastante gerenciáveis do ponto de vista de crédito”, explicou.

Ela lembra ainda que o ano passado foi recorde em emissões de títulos pelas empresas brasileiras. Com isso, a necessidade de refinanciamento nos próximos dois anos é pequena.

Para os investidores, Nascimento destacou que a renda fixa em dólar, pagando 5% ao ano no curto prazo, abre oportunidades de diversificação. “Isso te dá um colchão contra riscos e oportunidade de ser mais arrojado em outros ativos, como ações, tecnologia, crédito privado, infraestrutura”, disse. Ele acrescentou que os fundamentos dos emergentes melhoraram, aumentando as chances de revisões de rating positivas, e ressaltou que o Brasil conseguiu manter entrada de capital estrangeiro, ajudando o real a se valorizar de R$ 5,60 para R$ 5,40.

Mesmo assim, alguns riscos seguem no radar. O executivo da BlackRock citou a possibilidade de uma recessão abrupta nos Estados Unidos, ainda que com baixa probabilidade, como o principal fator de impacto sobre preços de ativos. Já Marta destacou o risco político na região e a formação de possíveis bolhas de preços de ativos como pontos de atenção para o crédito corporativo.

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