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O caminho para o desenvolvimento econômico mudou, diz Raghuram Rajan

Ex-presidente do BC da Índia e professor da Universidade de Chicago participou de evento em São Paulo nesta segunda-feira

“A forma mais bem-sucedida de os países crescerem, que foi a estratégia da China, ficou muito mais difícil hoje”, afirmou Raghuram Rajan, ex-presidente do Banco Central da Índia e professor da Universidade de Chicago. Como resultado, os países de renda baixa e média – como a Índia e o Brasil – que quiserem entrar no grupo dos países desenvolvidos precisam crescer mais rápido e encontrar novas estratégias. O diagnóstico pode parecer duro, mas vem acompanhado também de uma proposta.

Segundo ele, países como a China conseguiram crescer investindo forte na industrialização, mas esse caminho ficou mais difícil. Primeiro, porque aumentaram as barreiras de entrada na indústria: ficou mais caro montar fábricas eficientes o suficiente para competir no ambiente global. Em segundo lugar, o protecionismo dificultou essa estratégia. Afinal, os países que ainda têm indústrias fortes querem mantê-las em seus territórios. Por fim, a indústria não é mais uma grande tomadora de mão de obra pouco qualificada.

Durante evento em São Paulo nesta segunda-feira (14), Rajan deu a Índia como exemplo, mas alertou que a situação é parecida para alguns países da América Latina e da África. Em seu país natal, contou o economista, apesar do investimento na indústria, a proporção de trabalhadores no setor não aumentou. Por outro lado, a construção civil e os serviços passaram a demandar mais trabalhadores que antes.

“Hoje, a indústria precisa de muito menos pessoal pouco qualificado, mas exige alguns profissionais muito qualificados que saibam programar e consertar os robôs”, diz. “A pergunta que fica é: o que a gente faz então? E a resposta é mudar a forma como se olha para a economia”.

Para Rajan, a saída atual é focar nos trabalhadores muito qualificados no setor de serviços. Ele deu como exemplo atividades como consultoria, que podem ser exportadas a outros países.

Riscos no setor financeiro

Rajan também foi questionado sobre quais riscos ele vê no setor financeiro olhando para o futuro. Para ele, é necessário analisar para os setores menos tradicionais para entender as potenciais fontes de crise. “Os lugares mais normais com os quais nos preocupamos não são mais tão centrais, como os grandes bancos. Eles foram tão cercados de regulação que não trazem mais tantos riscos”, afirmou. “O risco ainda pode emergir do sistema bancário, mas das partes que não estão sendo vistas com tanta atenção, como os bancos pequenos e médios”, disse, exemplificando com o caso do Silicon Valley Bank no ano passado.

Rajan ainda alertou que os mercados deveriam dar mais atenção ao “shadow banking system”, que compreende as empresas não tradicionais de finanças que oferecem serviços financeiros. Essas são as instituições, segundo ele, que podem estar tomando mais risco do que suportam.

Eleições nos EUA

“O resultado da eleição presidencial dos EUA pode mudar muito o mundo”, alertou Rajan. No entanto, há um ponto que não deve se alterar, independentemente da escolha entre o republicano Donald Trump ou a democrata Kamala Harris: a situação fiscal dos Estados Unidos. Para o professor, nenhum dos dois candidatos têm incentivos suficientes para enfrentar o problema.

“Não há incentivos em nenhum dos dois lados para atacar o problema fiscal nos Estados Unidos”, disse o economista, acrescentando que o impulso fiscal faz o país crescer acima do potencial. Conforme Rajan, uma vitória de Trump levaria a um cenário pior, já que o republicano não vai conseguir financiar totalmente os cortes de impostos com aumentos de tarifas comerciais.

Outro problema se Trump vencer, emendou, será a agenda climática, pois setores que até agora vêm recebendo incentivos para a transição para uma economia verde perderão os estímulos com o republicano de volta à Casa Branca.

Conforme Rajan, que também já foi presidente do Banco Central da Índia entre 2013 e 2016, a expansão fiscal coloca o mundo em uma posição pior para o enfrentamento da mudança climática, que requer uma reserva para gastos, assim como dificulta o trabalho da política monetária, dado o impacto dos estímulos na inflação.

“A política monetária tem uma tarefa muito mais difícil nos anos que virão. Um dos argumentos para taxas de juros reais mais altas daqui para frente é simplesmente o fiscal”, comentou o professor da Universidade de Chicago.

*Com informações da Agência Estado

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