O que significa a elevação da perspectiva da nota de crédito do Brasil pela S&P?
Movimento de estável para positivo reflete maior certeza sobre a estabilidade das políticas fiscal e monetária. Decisão favorece investimentos e ajuda a valorizar o real
Em um movimento que pode ajudar a economia brasileira com a atração de investimentos estrangeiros e a valorização do real, a agência de classificação de risco S&P Global Ratings alterou a perspectiva para a nota de crédito (rating) do Brasil de estável para positiva.
A mudança para uma perspectiva melhor não acontecia desde 2019, quando o Congresso aprovou a Reforma da Previdência.
Mas afinal, o que uma agência de classificação de risco faz e porque é tão importante para um país ter uma boa nota? O B3 Bora Investir te explica.
Classificação de risco e os efeitos no mercado
O trabalho das agências de classificação de risco como a Standard & Poor’s é avaliar a qualidade do título da dívida emitido por um país. Essa percepção reflete a capacidade da nação de pagar as suas dívidas.
Para esse trabalho, as companhias usam as chamadas notas de crédito – igual na escola. Quanto melhor for a nota, mais seguros os países são considerados pelos investidores e consequentemente mais baixos os juros das dívidas dos governos.
O mercado financeiro usa esse termômetro das contas públicas para decidir os seus investimentos. Assim esse movimento de melhora na perspectiva para o Brasil, mesmo sem a alteração efetiva no rating (entenda mais abaixo), ajuda o país a mostrar que tem capacidade de pagar as suas dívidas no curto prazo.
Outro benefício direto para a economia é a queda do dólar, diante da entrada de mais capital estrangeiro no país. A moeda americana mais baixa ajuda na desaceleração da inflação.
Na classificação da S&P, a escala para o grau de investimento vai de ‘A’ a ‘D’. O primeiro nível (triplo A) é o de mais alta qualidade e o ‘D’ a pior, ou seja, quando um país está próximo da inadimplência.
O que aconteceu com o Brasil?
A elevação na perspectiva da nota do Brasil de estável para positiva reflete sinais de maior certeza sobre a estabilidade das políticas fiscal e monetária do país. Esse movimento ajuda a beneficiar as perspectivas ainda baixas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB).
Segundo a Standard & Poor’s, um avanço mais contínuo do PIB, aliado ao novo arcabouço fiscal, resultará “em uma carga da dívida pública menor que o esperado, o que pode apoiar a flexibilização monetária [queda dos juros] e sustentar a posição externa líquida do país”.
A agência ponderou que o país ainda registra grandes déficits fiscais, ou seja, gasta mais do que arrecada. Então, para solucionar o problema, o caminho é o avanço da atividade e uma política fiscal clara.
“Tais evoluções reforçariam nossa visão sobre a resiliência da estrutura institucional do Brasil, com uma formulação de políticas estável e equilibrada entre os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário do governo”, afirmou a empresa em comunicado.
Mudança na perspectiva, mas não da nota de crédito
Apesar da mudança na perspectiva de estável para positiva, a nota de crédito brasileira segue em ‘BB-‘, ou seja, é considerada especulativa.
Isso significa que o país está menos vulnerável ao risco de não honrar seus compromissos financeiros no curto prazo, mas ainda enfrenta incertezas em relação a condições financeiras e econômicas.
Cenários para o rating brasileiro
A Standard & Poor’s ainda traçou um cenário positivo e um negativo para o rating brasileiro.
Positivo: A implementação de políticas econômicas para conter o avanço dos gastos, que preparem o país para um cenário de crescimento, pode levar a uma elevação da nota de crédito brasileira nos próximos dois anos.
“A chave para isso seria a aprovação de reformas adicionais, entre elas uma reforma tributária atualmente em debate.”
Negativo: Caso não haja uma implantação de políticas públicas para balancear receitas e despesas, o que pode resultar em um crescimento limitado e a uma “dívida maior que o esperado”, a S&P poderá revisar a perspectiva novamente para estável nos próximos dois anos.
Histórico da nota de crédito do Brasil
Em 2008, no segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Brasil atingiu pela primeira vez na história o chamado grau de investimento. O país ganhou a nota BBB-, que depois avançou para BBB em 2011.
A nota foi mantida por dois anos até que no segundo mandato da presidente Dilma Rousseff, em 2015, o país perdeu esse selo e foi rebaixado para BB+.
Em 2016, o país foi rebaixado novamente (BB) e em 2018, no governo de Michel Temer caiu para o patamar atual.
Repercussão no governo
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, comemorou a elevação na perspectiva de rating do Brasil e afirmou que o país tem todas as condições para retomar o grau de investimento. Haddad também dividiu os méritos com os outros poderes.
“Passo importante. Depois de 4 anos, ter uma sinalização dessas. Gostaria de compartilhar com Congresso e o Judiciário. As iniciativas que estão sendo tomadas na direção correta de arrumar contas do Brasil e permitir que a gente possa avançar com geração de emprego”.
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