Onde aplicar uma rescisão de R$ 50 mil, R$ 100 mil ou R$ 200 mil?
Especialistas recomendam montar primeiro uma reserva de emergência conservadora para depois pensar em opções moderadas e arrojadas
Élida Oliveira, especial para o Bora Investir
A demissão de um emprego pode render uma grande quantia, devido à rescisão do contrato de trabalho. O valor, se bem investido, poderá garantir maior tranquilidade no período de transição entre empregos ou alavancar a construção do patrimônio.
Especialistas recomendam ter controle sobre o valor e não gastar tudo de uma vez. O ideal é separar uma parte para uma reserva de emergência, aplicada em investimentos seguros e de boa liquidez – assim, se você precisar do dinheiro, ele estará disponível em um curto período de tempo.
Simone Costa, professora da FIA Business School, afirma que este é um momento para pensar sobre os objetivos e sonhos de cada pessoa. Para uns, o objetivo pode ser poupar para a aposentadoria, outros podem querer fazer patrimônio ou empreender. “O fato é que receber um valor maior de uma vez, como uma rescisão, pode ser sim uma oportunidade de alavancar esses objetivos, mas precisa ser bem pensado para não gerar frustrações no futuro”, afirma.
Ao pensar em aplicar a rescisão, considere o tempo investido para obter aquele valor – e não o confunda com um “dinheiro fácil”.
“Podemos considerar que é um dinheiro suado porque parte da rescisão são pelas férias não gozadas, pelo 13º salário proporcional, o próprio FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço), mais os 40% de multa”, afirma Letícia Camargo, planejadora financeira da CFP pela Planejar.
A rescisão serve para garantir a estabilidade financeira do trabalhador em um momento em que ele deixará de receber o salário mensal, segundo Antônio Sanches, do time de analistas do Research da Rico.
“É importante se planejar, seja para garantir alguns meses de estabilidade para se realocar no mercado ou até para uma mudança de carreira, investindo em cursos e certificações, ou apenas para evitar que dívidas se acumulem nesse período de reestabilização”, diz Sanches.
Como planejar a reserva de emergência
Para pensar na reserva de emergência, especialistas recomendam calcular seu custo de vida mensal e guardar o valor equivalente a esses gastos por um período de seis a 18 meses.
Camargo aconselha que o trabalhador avalie como está a oferta de emprego na área em que atua e, assim, estimar quanto tempo necessário até a recolocação. Feito isso, ela sugere deixar uma “gordura” a mais, ou seja, um percentual extra caso haja imprevistos, como um tratamento de saúde de urgência, por exemplo.
A partir do valor calculado, considere investir em aplicações consideradas conservadoras no mercado. O mais importante, neste caso, não é o rendimento e sim a segurança e a liquidez.
Investimentos de boa liquidez são aqueles que têm resgate de D+0 (quando o valor cai na conta no mesmo dia) ou D+1 (quando cai no dia seguinte). “Não dá para deixar a reserva de emergência investida em um apartamento, por exemplo, porque se eu precisar do dinheiro, vai demorar para vender”, afirma Camargo.
Como opções conservadoras, ela cita como exemplos o Tesouro Selic – que é atrelado à taxa básica de juros, tem garantia do Tesouro Nacional e boa liquidez –, e os CDBs (Certificados de Depósitos Bancários) de um grande banco, para minimizar o risco. Os dois investimentos têm cobrança de Imposto de Renda.
Avalie objetivos antes de investir
Caso o trabalhador já tenha uma reserva antes da demissão, ou caso sobrem recursos da rescisão após constituir a reserva, a recomendação é planejar e diversificar os investimentos do valor excedente.
A dica dos especialistas é começar a pensar quais são seus objetivos com o dinheiro que irá aplicar. Por exemplo: o valor investido servirá para trocar o carro daqui dois anos, comprar uma casa em cinco anos ou se aposentar daqui 30 anos? Isso é importante para estimar por quanto tempo o dinheiro ficará aplicado – quanto maior o tempo, maior a rentabilidade.
Segundo Sanches, o investidor deve analisar as opções pensando que os investimentos têm três características: liquidez, rentabilidade e risco. “Essas três características funcionam como um cobertor curto. É preciso escolher quais são mais importantes, para abrir mão de uma em detrimento de outra. Ou seja, se o investidor quer mais rentabilidade, ele vai precisar abrir mão de liquidez ou de segurança, e por aí vai”, afirma.
Se entre os planos está abrir um negócio, é importante pensar em liquidez e previsibilidade, segundo Sanches. Neste cenário, o valor investido poderá servir como capital inicial para abrir a empresa, quitar impostos e demais custos importantes nesta etapa, ou até para um fluxo de caixa.
Para quem quer guardar para se aposentar, Sanches sugere investimentos de menor liquidez e mais volatilidade para alcançar uma boa rentabilidade no longo prazo. Para quem pensa em ter, por exemplo, uma renda mensal, é possível criar uma carteira de investimentos com esse foco.
Pensando em prazos, para investimentos com resgate após cinco anos, Camargo cita como opções as aplicações em multimercados e fundos imobiliários. Quem tem perfil mais agressivo pode se arriscar em ações. Neste caso, há a opção de fazer isso via fundos de investimento, que contam com um gestor para fazer as aplicações, ou diretamente, comprando ações na Bolsa de Valores. Nos dois casos, há incidência de imposto de 15% sobre os ganhos.
Para quem tem perfil arrojado e pensa em um horizonte de longo prazo – considerando, no mínimo, 10 anos –, Cauê Mançanares, CEO e co-fundador da Investo, sugere os ativos de renda variável, como ações, fundos imobiliários e ETFs de ações, por exemplo. “Esses ativos possuem maior volatilidade (mais risco), mas no longo prazo têm rentabilidades maiores”, afirma.
Fabrício Gonçalvez, CEO da Box Asset Management, sugere dividir os ativos em percentuais diferentes conforme a classe de investimentos. Segundo ele, dá para se considerar investir 50% em renda fixa, 20% em multimercado e 30% em ações, dependendo do seu perfil de investimento e objetivos financeiros.
Para perfis moderados, ele aconselha investir 80% em renda fixa – dividindo 50% em aplicações com rentabilidade atrelada ao IPCA e 30% em outras ligadas à variação da taxa Selic. Os outros 20% podem ser alocados em renda variável, como ações de empresas sólidas e pagadoras de dividendos, segundo Gonçalvez.
De modo geral, Gonçalvez traça o seguinte cenário de investimento e perfis:
Para R$ 50 mil, perfil conservador:
- Fundo de Emergência: Reserve uma parte para um fundo de emergência, equivalente a pelo menos três a seis meses de despesas mensais.
- Tesouro Direto: Considere investir em títulos do Tesouro Direto, como o Tesouro Selic, que oferecem baixo risco e liquidez.
Para R$ 100 mil, perfil moderado:
- Diversificação: Aplique uma parte em diferentes tipos de investimentos para diversificar o risco (exemplo: 80% renda fixa e 20% renda variável).
- Tesouro Direto: Considere investir em títulos do Tesouro Direto, como o Tesouro Selic, que oferecem baixo risco e liquidez.
- Fundos Imobiliários: Se interessar, avalie investir em fundos imobiliários para diversificar sua carteira com ativos do mercado imobiliário.
Para R$ 200 mil, perfil moderado/sofisticado:
- Investimentos de Longo Prazo: Aumente a exposição a investimentos de longo prazo, como ações e fundos de previdência privada.
- Bolsa de Valores: Avalie investir em ações de empresas sólidas e com bom potencial de crescimento a longo prazo.
- Consulta com Especialistas: Considere buscar orientação de um consultor financeiro para criar um plano de investimento personalizado de acordo com seus objetivos e perfil de investidor.
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