Notícias

Produção industrial volta a desacelerar e cai 0,6% em abril

Resultado está 2% abaixo do patamar pré-pandemia. Impacto veio da queda na produção de alimentos, máquinas e veículos

A produção industrial brasileira recuou 0,6% em abril, na comparação com o mês anterior. A queda veio após a indústria crescer 1% em março, quando interrompeu dois meses de queda, segundo a Pesquisa Industrial Mensal publicada nesta sexta-feira, 02/06 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O desempenho, que veio pior do esperado pelo mercado financeiro, deixa a indústria 2% abaixo do patamar pré-pandemia, de fevereiro de 2020. Ontem o IBGE divulgou o Produto Interno Bruto (PIB) que cresceu 1,9% no 1º trimestre, puxado pela agropecuária. Apesar da forte alta da economia brasileira, o setor industrial ficou praticamente estagnado, com uma retração de 0,1%.

Em relação a abril de 2022, a produção industrial caiu 2,7%, enquanto nos quatro primeiros meses de 2023 recuou 1%. O gerente da pesquisa do IBGE, André Macedo, explica que houve uma maior presença de resultados negativos neste início de ano, situação bem diferente dos últimos três meses de 2022, quando o setor acumulou saldo positivo de 1,5%.

“Em abril, observamos uma maior disseminação de quedas na produção industrial, alcançando 16 dos 25 ramos industriais investigados. Esse maior espalhamento de resultados negativos não era visto desde outubro de 2022”.

EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO INDUSTRIAL

Fonte: IBGE

Setores

O maior impacto negativo para a indústria em abril veio de produtos alimentícios que despencou 3,2% e registrou o quarto mês consecutivo de queda. Em quatro meses, o setor encolheu 7,3%. Apesar desse resultado, a produção de alimentos segue com ganho acumulado de 20,2%, após números positivos nos últimos meses do ano passado.

“Em abril houve grande influência negativa por parte da produção de açúcar. Isso teve relação direta com um maior volume de chuvas. especialmente na segunda quinzena do mês. Elas ocorreram nas regiões produtoras de cana da região Centro-Sul do país”, explica André Macedo.

Por outro lado, de acordo com o IBGE, a retomada do crescimento de carnes de bovinos, após sofrer impacto das restrições de exportação para a China, atenuou um pouco a queda do setor.

O resultado ruim da indústria em abril também foi puxado pelo setor de máquinas e equipamentos, com queda forte de 9,9% – o que eliminou o crescimento de 6,7% em março; e retração de 4,6% na produção de veículos automotores, reboques e carrocerias.

+ Gasolina deve subir na maioria dos Estados com nova cobrança do ICMS; entenda

O economista-chefe do Banco Master, Paulo Gala, afirma que o Brasil parece ter duas economias: a agropecuária, que bate recordes, e a industrial, que está encolhendo, impactada por juros elevados. A Selic está em 13,75% ao ano. “Os números de hoje reforçam a necessidade de corte na taxa de juros. Diferente da indústria, o setor agropecuário tem juros subsidiados do plano Safra e vende no mercado mundial”, explica.

A política monetária apertada também tem encarecido o crédito. “Taxas de inadimplência elevadas e o maior endividamento das famílias afetam a indústria. Permanece também a dificuldade na obtenção de componentes eletrônicos, o que aumenta a frequência de paralisações, reduções de jornadas de trabalho e férias coletivas”, explica o gerente do IBGE.

Outras contribuições negativas vieram de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-9,4%), indústrias extrativas (-1,1%), bebidas (-3,6%), produtos de metal (-3,3%), outros equipamentos de transporte (-5,2%) e máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-2,9%).

Por outro lado, houve avanços significativos em nove atividades, com destaque para a produção de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (3,6%) que exerceu o principal impacto em abril de 2023 e teve a terceira alta seguida, com ganho acumulado de 6,3%.

Grandes categorias

Duas das quatro grandes categorias do setor industrial pesquisadas tiveram queda na atividade em abril, em relação a março.

A maior taxa negativa foi de bens de capital (-11,5%). Na comparação com abril de 2022, a queda foi ainda mais forte, de 14,2%. Os bens duráveis recuaram 6,9%, já bens de consumo semi e não duráveis (1,1%) e bens intermediários (0,4%) registraram avanços em abril.

Quer entender o que é macroeconomia e como ela afeta seu bolso? Acesse o curso gratuito Introdução à Macroeconomia, no Hub de Educação da B3.