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PIB do Brasil cresce 1,9% no 1º trimestre puxado pela agropecuária

Setor agrícola disparou 21,6% nos primeiros três meses do ano, maior valor em quase três décadas. Em relação ao primeiro trimestre de 2022, economia brasileira avançou 4%

Três moedas de um real
Documento da Fazenda projeta aumento do PIB para este ano. Foto: Reprodução

A economia brasileira registrou crescimento no primeiro trimestre de 2023. O Produto Interno Bruto (PIB) avançou 1,9% no período em relação aos últimos três meses do ano passado. Em valores correntes, o PIB totalizou R$ 2,6 trilhões, segundo anunciou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quinta-feira, 01/06.

O resultado foi impulsionado, principalmente, pela agropecuária, que avançou 21,6% no período, a maior alta desde o quarto trimestre de 1996. Segundo o IBGE, o setor respondeu por quase 80% do crescimento da economia brasileira nos primeiros três meses do ano.

O Produto Interno Bruto é a soma de todos os bens e serviços produzidos no país, num determinado período, e serve para medir a evolução da economia. O resultado, portanto, mostra uma forte aceleração da economia brasileira e veio acima da expectativa do mercado, que apontava um crescimento de 1,3%. Na comparação com o 1º trimestre do ano passado, o PIB cresceu 4%.

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Para Alexsandro Nishimura, economista e sócio da Nomos, os dados mais recentes já demonstravam uma atividade econômica forte. No entanto a política monetária apertada deve segurar o desempenho do PIB neste ano. “Os juros altos, a dissipação dos efeitos do impulso da agropecuária e o cenário externo incerto devem desacelerar o PIB. Nossa expectativa é de que o indicador feche o ano com crescimento ao redor de 2%”.

PIB BRASIL – VARIAÇÃO TRIMESTRAL

Fonte: IBGE

Disparada da agropecuária

As projeções de safra já apontavam para o bom resultado do setor agrícola no 1º trimestre de 2023. Além de avançar 21,6% nos primeiros três meses do ano, a agropecuária cresceu 18,8% na comparação anual. Essa foi a quinta vez em toda a série histórica, iniciada em 1996, que o setor cresceu na casa dos dois dígitos em relação ao trimestre anterior. A agropecuária tem peso de 8% na economia do país.

A coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis, explica que em 2022 o setor foi muito impactado por problemas climáticos. No entanto, para este ano, há previsão de safra recorde para a soja, que representa aproximadamente 70% da lavoura. Como resultado, a produção deve crescer 24%.

“A safra da soja é concentrada no primeiro semestre do ano. Ao compararmos o quarto trimestre de um ano ruim com um primeiro trimestre bom, observamos esse crescimento expressivo da agropecuária”.

Serviços também puxam alta

Os serviços, que têm o maior peso na composição do PIB, cresceram 0,6% frente ao trimestre anterior. É uma aceleração na comparação com os últimos três meses de 2022, quando o setor registrou alta de 0,2%.

O bom resultado foi puxado pelos setores de Transportes e Atividades Financeiras que cresceram 1,2% no 1º trimestre em relação ao anterior. “A alta nos Transportes foi influenciada tanto pelo transporte de carga quanto o de passageiros. Já as Atividades Financeiras, foi puxada pelos seguros, pois o valor dos prêmios cresceu, mas o dos sinistros caiu, e o setor registra ganho quando acontece isso”, explicou.

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Na contramão ficaram os serviços de informação e comunicação, que caíram 1,4%, por conta da base de comparação alta. “Atividade que mais cresceu depois da pandemia, está 22,3% acima do patamar do quarto trimestre de 2019”, afirma a coordenadora do IBGE.

João Savignon, head de pesquisa macroeconômica da Kínitro Capital, explica que, assim como a agropecuária, os serviços também se situaram nas máximas históricas no trimestre. “Os resultados do setor refletem uma maior resiliência, beneficiada pela elevação da renda das famílias no período e pelo efeito do transbordamento do agronegócio, especialmente sobre os transportes”.

Indústria fica estável

O setor industrial, que tem patinado nos últimos anos, ficou estável (-0,1%) no 1º trimestre de 2023, na comparação com o trimestre anterior. O resultado foi impactado pela queda de 0,6% na indústria de transformação (manufaturados) e da baixa de 0,8% na construção, que teve o pior resultado desde o 2º trimestre de 2021.

“A queda na Indústria de Transformação foi influenciada pelas quedas de bens de capital e intermediários. Já a atividade de eletricidade, água, gás, esgoto e gestão de resíduos subiram 6,4%, visto que estamos em um momento de boas condições hídricas, sem escassez”, destacou Rebeca do IBGE.

O economista-chefe da Valor Investimentos, Piter Carvalho, afirma que a indústria não teve o devido protagonismo nos últimos anos, principalmente em relação a investimentos do governo. Contudo, isso mudou com a troca de comando do país. “O atual governo já mostrou que deve estimular essa atividade para gerar emprego e segurar fábricas no país”.

PIB – Ótica de demanda

Pelo lado da demanda, o Produto Interno Bruto dos primeiros três meses de 2023 foi puxado pelo Consumo das Famílias (0,2%) e pelo aumento das Despesas de Consumo do Governo (0,3%).

A Formação Bruta de Capital Fixo, que mede os investimentos dentro do PIB, despencou 3,4% frente ao trimestre anterior, pior desempenho desde o 2º trimestre de 2021. Esse resultado levou a taxa de investimento do país a 17,7%, a pior para primeiros trimestres em três anos. “Este é o calcanhar de Aquiles da economia brasileira, mas em alguma medida era esperado: dificilmente os investimentos iriam deslanchar num início de governo”, explica o economista André Perfeito.

No setor externo, as exportações recuaram 0,4%, enquanto as importações tiveram baixa de 7,1% no primeiro trimestre de 2023 ante o quarto trimestre de 2022. Esse é o maior recuo dos desembarques no país desde o 3º trimestre de 2020.

A queda nas exportações acontece mesmo com a previsão de safra recorde para a soja. Isso porque, apesar de grande parte do grão ter sido colhido, ele ainda não foi exportado.

Pelo lado das importações, a economista-chefe da Latin América da Coface, Patrícia Krause, afirma que o resultado ruim mostra uma fraqueza da atividade doméstica. “A gente entende que os próximos trimestres devem ser de desaceleração gradual da atividade, ainda pelo impacto do forte aperto monetário sobre a economia”.

Governo vê espaço para mais crescimento em 2023

A estimativa da Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Fazenda é de um crescimento em 2023 de 1,9%. “Para o segundo trimestre deve ser observada desaceleração do crescimento da agropecuária, uma vez que o aumento da produção de grãos tem impacto mais pronunciado no primeiro trimestre, por conta da colheita da soja e milho 1ª safra”, avaliou, em nota.

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O governo destacou também que ao longo deste ano vetores positivos para o crescimento devem vir do programa Desenrola, do Minha Casa Minha Vida e do estímulo ao adensamento tecnológico.

“O início da flexibilização monetária [corte de juros] e as reformas fiscal e tributária, somadas ainda às medidas para desburocratizar e agilizar emissões no mercado de capitais, tendem a reduzir incertezas, propiciando o retorno do investimento”, conclui.

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