Quais os desafios para Gabriel Galípolo, indicado para ser o novo presidente do Banco Central
Controle da inflação está no centro da Política Monetária, mas Galípolo poderá ter outros pontos de atenção
O economista Gabriel Galípolo foi indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a presidência do Banco Central. Assim, se confirmado, ele sucederá Roberto Campos Neto, e encontrará alguns desafios diferentes na condução da política monetária do país.
“A Política Monetária tem por objetivo controlar a expansão da moeda e do crédito e exercer o controle sobre a taxa de juros, procurando adequá-los às necessidades de crescimento econômico e estabilidade de preços”, diz o BC.
Segundo Carla Beni, economista e professora de MBAs da FGV, esse objetivo evoluiu ao longo do tempo, expandindo para além do controle da inflação, mesmo que no Brasil haja um enfoque grande em torno do tema.
“Dá para entender, já que o Brasil tem um histórico inflacionário, com seis planos antes do plano real. Mas esse ano se comemorou 30 anos do Plano Real, e nós não temos nenhum processo hiperinflacionário, nada aventado no cenário próximo de qualquer inflação que estoure qualquer normalidade”, aponta.
Contudo, a continuação do controle da inflação não fugirá da rotina do novo presidente do Banco Central. De acordo com José Carlos de Souza Filho, professor da FIA Business School, estamos vivenciando um cenário com tendência de alta inflacionária.
Principais desafios do novo presidente do BC
Para Beni, o primeiro desafio de Galípolo será a conduta pública do economista. Ela espera que haja uma redução do atrito com o governo. “Por ser indicado deste governo, espera-se uma redução desse atrito e até pela questão da forma, porque a forma afeta o conteúdo. Agora, ele dentro do Banco Central, como presidente, será diferente dele como diretor de política monetária”, afirma ela.
A professora da FGV ainda ressalta o balanço que ele terá que fazer entre o pensador acadêmico que ele é e sua atuação como presidente do Banco Central, que tem por desafio fazer a equação entre a meta inflacionária, que já está estabelecida, e o desenvolvimento econômico.
Do lado macroeconômico, Beni enxerga o câmbio como maior desafio do BC. Segundo ela, o país está dentro de um processo de especulação cambial, e com uma pressão especulativa do mercado financeiro em cima do câmbio para além do necessário.
“O Banco Central tem feito algumas intervenções no mercado de câmbio, coisa que não é um grande problema, porque uma das funções definidas por lei do Banco Central chama Banco do Câmbio. Só que, com essas últimas intervenções, isso mostra uma pressão maior do mercado com relação à nossa taxa. Principalmente porque a desvalorização da moeda nacional tem um impacto interno, já que o câmbio é um componente inflacionário”, ressalta.
O professor da FIA Business School ainda aponta que os principais desafios estão relacionados às pressões políticas que poderão advir por conta dos resultados esperados em termos de crescimento e de que forma as percepções do governo associarão os resultados econômicos com o nível da taxa básica, hoje em 10,5%, o que coloca o juro real em 6%, aproximadamente.
“A melhor forma de enfrentar este desafio é com transparência e autonomia, o que pode não ser uma tarefa das mais fáceis em virtude dos acontecimentos advindos das eleições, do dólar e da relação com o parlamento”, diz ele.
Oportunidades para Galípolo
A economista da FGV aponta que além de desafios, Galípolo pode ter boas oportunidades de fazer mudanças no Banco Central, seguindo evoluções como a adoção da meta contínua.
“Vejo que o Banco Central precisa caminhar para ouvir a indústria, ouvir o setor produtivo do país, ouvir o comércio. Ele precisa ouvir menos o Boletim Focus e mais quem realmente produz e consome no país. Acho que o Galípolo tem essa chance na mão de trabalhar outros índices e outras metas dentro do Banco Central para além do Boletim Focus”, aponta.
O que pode atrapalhar o novo presidente
Souza Filho afirma que o principal problema seria a submissão das decisões técnicas aos interesses políticos, fato que já ocorreu no passado, com consequências complicadas. “A independência e transparência do BC e o equilíbrio das decisões colegiadas serão fundamentais para que a autonomia seja mantida e as metas de crescimento e de inflação sejam alcançadas”, destaca o professor.
Por fim, Beni também elenca o perigo do endeusamento do cargo de presidente do Banco Central. “Se ele for muito endeusado, como se tivesse poderes mágicos, aí acho que isso passaria a ser um outro problema para ele”.
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