Notícias

Três maiores bancos do país fecham 2022 com lucro abaixo do esperado

Resultado no 4º trimestre foi 21% menor que nos três últimos meses de 2021. Americanas pesa, mas inflação e juros altos também impactam nos balanços

Os três maiores bancos privados do país – Bradesco, Itaú Unibanco e Santander – tiveram juntos lucro líquido de R$ 10,4 bilhões no 4º trimestre de 2022, segundo levantamento da TradeMap. O resultado é 21,2% menor que no mesmo período do ano anterior (R$ 13,2 bilhões) – quando o setor ainda estava sob impacto dos efeitos da pandemia na economia.

A única instituição com lucro líquido positivo foi o Itaú Unibanco – alta de 18%. Já o Santander teve o pior resultado com queda de 57,6%; seguido do Bradesco com menos 54,7%. (acompanhe na tabela abaixo)

4ºtri/214ºtri/22Variação (R$)%
Bradesco3.1711.437-1.734-54,7%
Itaú Unibanco6.2347.3561.12218%
Santander3.7961.609-2.188-57,6%
TOTAL13.20110.401-2.800-21,2%
Fonte: TradeMap

Os resultados abaixo do esperado pelo mercado podem ser explicados por dois pontos. O primeiro: o aumento da inadimplência nos contratos de concessão de crédito, como explica o especialista da Veedha Investimentos Fernando Felipe.

“Por conta da inflação e dos juros altos, os bancos tiveram uma inadimplência maior dos seus devedores. O Itaú na questão de varejo, que são pessoas físicas e pequenas empresas, ele tinha uma carteira mais conservadora, então foi menos afetado. Já o Bradesco e o Santander tiveram uma inadimplência maior nessa linha de negócio”.

O segundo ponto, que agravou ainda mais a situação, foi o pedido de recuperação judicial da Americanas, uma vez que os três bancos têm forte exposição de passivos com a companhia.

“Os três bancos tinham crédito fornecido para a Americanas. O Itaú tinha uma parcela menor, o que afetou menos o seu resultado. Já Bradesco e Santander tinha uma exposição muito maior. Um outro ponto é que o Bradesco e o Itaú provisionaram 100% da dívida com a Americanas. É como se o dinheiro fosse perdido”, explica o economista da Veedha Investimentos.

Nesta segunda-feira, 13/02, o BTG Pactual informou que teve lucro líquido ajustado de R$ 1,767 bilhão no quarto trimestre de 2022 – queda de 23% sobre o 3º trimestre e de 0,8% sobre o 4º trimestre de 2021. Segundo o balanço, sem citar a Americanas, a instituição afirmou que “excluindo o efeito de provisões não recorrentes”, lucro líquido ajustado seria de R$ 2,347 bilhões no período.

Para o sócio da Valor Investimentos, Gabriel Meira, se não fosse o problema com a Americanas, os resultados dos bancos teriam sido bem resilientes.

“A gente teve um crescimento na carteira de crédito de forma geral, com exceção de Bradesco, que teve um descompasso no resultado e que já o Lazari [Octavio de Lazari Junior, presidente do banco] já falou que vai recuperar esse ano. Então, essa antecipação do provisionamento [no caso Americanas], será positivo para o setor no ano de 2023”.

Itaú Unibanco

O lucro líquido do Itaú Unibanco refletiu a decisão de provisionar toda a sua exposição à Americanas, o que gerou um impacto de R$ 1,307 bilhão.

Segundo o balanço, as despesas com provisões para devedores duvidosos (PDD) foram de R$ 9,907 bilhões no 4º trimestre – alta de 19,7% em relação ao trimestre anterior e de 45,1% em um ano. O custo de crédito atingiu R$ 9,805 bilhões – alta de 58,1% em 12 meses.

É importante explicar que Provisão Contábil é um termo que define um evento que reduz o ativo e aumenta o passivo de um balanço corporativo – seja ela estimada ou não. Ou seja, representa a expectativa de perdas pela companhia.            

O banco encerrou o ano com inadimplência de 2,95% – valor maior que os 2,8% no terceiro e 2,5% no mesmo período do ano anterior. De acordo com o Itaú, o avanço “está relacionado às carteiras de pessoas físicas e de micro, pequenas e médias empresas no Brasil”.

“A gente teve um crescimento na carteira de crédito de forma geral, com exceção de Bradesco, que teve um descompasso no resultado e que já o Lazari [Octavio de Lazari Junior, presidente do banco] já falou que vai recuperar esse ano. Então, essa antecipação do provisionamento [no caso Americanas], será positivo para o setor no ano de 2023”.

Santander

O principal impacto do balanço do Santander, terceiro maior banco privado do país, veio do caso Americanas. No entanto, a desaceleração da economia brasileira e os juros em patamares elevados impactaram a margem financeira, além de piorar a inadimplência.

O banco provisionou 30%, ou seja R$ 1,1 bilhão, da exposição que tem a Americanas que é de R$ 3,7 bilhões. Essa cifra mostra que se a crise na rede varejista não for resolvida logo, a instituição terá de fazer novos ajustes nas suas contas.

“Ao provisionar só 30%, o Santander sinaliza que acredita em uma recuperação de 70% do valor que foi emprestado. No entanto, em 2023, ele já sinalizou que vai dar uma segurada nos empréstimos, ou seja, vai exigir mais garantias”, explica Fernando Felipe.

Com esse resultado, as despesas líquidas com provisões para devedores duvidosos ficaram em R$ 7,364 bilhões – alta 99,4% em relação ao 4º trimestre de 2021. Impacto também na margem financeira bruta de R$ 12,517 bilhões – com queda de 11,5% em um ano.

Nessa conta também pesam o aumento da inadimplência na concessão de crédito que ficou em 3,1% no 4º trimestre. Um aumento de 3% em relação aos três meses anteriores e de 2,7% no fim de 2021.

Bradesco

O maior banco credor das lojas Americanas, o Bradesco decidiu provisionar 100% da sua exposição à varejista de uma só vez – o que afundou seu resultado do quarto trimestre. O impactou foi de R$ 4,851 bilhões nas despesas com provisões para devedores duvidosos.

Pelo lado da inadimplência, a instituição registrou patamar de 4,3% no quarto trimestre, ante 3,9% no terceiro e 2,8% em igual período de 2021. De acordo com a instituição, “houve aumento da inadimplência para o segmento massificado de pessoas físicas e jurídicas em razão da alta da inflação, que afetou a renda dos clientes”.