Uber e 99 ficam 65% mais caros em 12 meses e inflação de app de transporte ultrapassa a do café
O aumento de preços tem causado ampla indignação nos usuários de transporte por aplicativo
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Com metade do mês já transcorrido, dezembro tem nas redes sociais uma inundação de reclamações sobre praticamente o mesmo tema: a alta de preços considerada ‘astronômica’ pelos usuários das corridas de aplicativo, como Uber e 99. O contexto mostra uma intensificação de um cenário que, em meses, mostra uma escalada de preços na casa dos dois dígitos percentuais – que deve ser ainda mais agravante em dezembro, cuja leitura de inflação ainda será divulgada nas próximas semanas.
A inflação do Uber e do 99 é ampla, afetou diversos estados e chegou a superar o preço do café – um dos vilões da inflação em um passado recente.
No acumulado de 12 meses até novembro o preço de uma corrida por aplicativo saltou 65% no Brasil, superando os 42% de alta do café, segundo dados do IPCA, o índice oficial de inflação no país. Em São Paulo, a diferença é de 60% contra 42%.
Em alguns outros estados a proporção é ainda discrepante. Como exemplo, no Distrito Federal ficou 87% mais caro pedir um Uber agora em relação a 12 meses atrás. Nessa mesma janela o café saltou 42%. O IPCA saltou 4,42% no DF neste mesmo período (no Brasil o avanço do índice fica em 4,46%).
“É pisar em SP que já começa o estresse. Paguei R$ 42 para andar menos de 5km no Uber. O normal para esse trecho é R$ 20”, relata um usuário no X, antigo Twitter.
“Eu paguei R$ 26 em um Uber da estação Saens Peña até a Estação Uruguai. Fiquei 3 minutos dentro do carro”, disse um outro usuário do X que reside na cidade do Rio de Janeiro.

Reclamações no Procon
O panorama se agravou tanto e gerou tantas reclamações que motivou uma notificação formal do Procon Paulistano (órgão vinculado à Secretaria de Justiça da prefeitura de São Paulo) às empresas de transporte por app. O órgão pede esclarecimentos sobre a alta repentina dos preços praticados e mais detalhes sobre as tarifas dinâmicas.
Thaís Lima Vieira, Diretora da Divisão de Atendimento do Procon Paulistano, relata que o cenário tem sido visto em vários estados e capitais do Brasil ao órgão dialogar com outras instâncias do Procon em outros estados e municípios.
“Vimos um aumento muito significativo, especialmente de reclamações nas redes sociais. As reclamações são de questionamentos referentes aos valores que anteriormente eram praticados dentro de uma faixa e, entre novembro e dezembro, tiveram uma crescente e chegaram a duplicar ou triplicar”, relata.
“Isso teve uma repercussão maior a partir da greve dos motoristas de ônibus, os consumidores tiveram mais necessidade de usar o transporte para ir para residências e os valores foram impraticáveis”, completa, em entrevista à IstoÉ Dinheiro.
As empresas terão até o dia 22 de dezembro para prestar esclarecimentos e, caso constatado abuso nas práticas ou problemas relativos à falta de transparência, sanções administrativas devem ser tomadas – podendo chegar à multas e cassação de licença de funcionamento no cenário mais drástico.
Dados oficiais do IBGE apontam que praticamente todos os grandes custos ligados ao automóvel estão subindo bem menos que a média da inflação ou ficando mais baratos.
A gasolina subiu 1,67% de janeiro a novembro de 2025, e 2,22% em uma janela de 12 meses. Na última leitura, de novembro, foi registrada inclusive uma deflação de 0,18%.
O carro novo ficou 2,9% mais caro em 12 meses, enquanto o carro usado ficou 1,7% mais barato. O seguro veicular segue com preços estáveis ao passo que a manutenção teve deflação de 0,60%.
Uber e 99 justificam inflação por ‘alta demanda’
Atualmente não há uma justificativa direta e simples dada pelas empresas que explique a inflação tão substancial em tão pouco tempo. A propósito, somente no mês de novembro foi registrada alta de mais de 5% nos preços, com localidades ficando acima disso, como Porto Alegre (7,16%) e o Distrito Federal (6,55%).
A IstoÉ Dinheiro entrou em contato com a Uber para pedir explicações acerca do tema. A companhia respondeu reiterando apenas como funciona sua política de preços.
“Quando a demanda por viagens, em uma determinada área, é maior do que o número de motoristas parceiros circulando na região naquele momento, o preço se torna dinâmico e o valor da viagem pode se tornar mais caro do que o habitual para aquele mesmo trecho. O preço dinâmico é aplicado para incentivar que mais motoristas se conectem ao aplicativo e assim os usuários tenham um carro sempre que precisar”, diz a nota da empresa.
“Quando a oferta sobe novamente, os preços voltam aos valores normalmente praticados. De qualquer forma, o preço dinâmico sempre é informado ao usuário no momento em que a viagem é solicitada”, completa a companhia, em comunicado.
O sistema de preços dinâmicos da Uber é ativado automaticamente por algoritmos da companhia, em ajustes feitos em tempo real. Segundo a companhia, as atualizações em tempo real ‘ajudam os passageiros a refletir a oferta e a demanda, e passageiros e motoristas sabem o que esperar’.
A empresa alega que a disponibilidade atual de motoristas e a demanda de passageiros ‘são os principais fatores que influenciam o preço dinâmico’. Além disso, o cálculo leva em consideração ‘as previsões sobre as condições de mercado’.
A IstoÉ Dinheiro também entrou em contato com a 99, que declarou que se posicionará apenas por meio da Associação Brasileira de Mobilidade e Tecnologia (Amobitec), associação a qual a empresa integra.
A Amobitec, por sua vez, declarou que ‘as associadas operam modelos de negócio que buscam equilibrar as demandas dos usuários por viagens com a oferta de motoristas circulando’.
“O preço das viagens é influenciado por fatores como o tempo e distância dos deslocamentos, categoria do veículo escolhido, nível de demanda por corridas no horário e local específicos, entre outros. A depender destes fatores, os valores podem ter variação dinâmica e alinhados com as estratégias comerciais de cada plataforma para manter o equilíbrio e a competitividade no mercado no qual atuam”, diz a nota da associação.
Procon quer mais detalhes sobre tarifas dinâmicas
A Prefeitura de São Paulo, por meio do Procon Paulistano, notificou as empresas de aplicativo Uber e 99 por conta dos preços das corridas, especialmente por conta do volume de reclamações neste início de dezembro.
“O órgão de defesa do consumidor entende que tal conduta pode configurar violação aos princípios da transparência, da modicidade tarifária e da adequada prestação de serviços, previstos no art. 6º do Código de Defesa do Consumidor”, disse o Procon Paulistano, órgão ligado à Secretaria Municipal de Justiça da cidade.
As empresas têm dez dias corridos para apresentar esclarecimentos sobre:
- Qual a justificativa técnica e econômica para a adoção da precificação dinâmica?
- Quais medidas são adotadas para prevenir preços abusivos em situações de alta demanda?
- Existe teto tarifário para corridas? Em caso afirmativo, qual é o valor e como é aplicado?
- Como e quando a política de preços é informada ao consumidor?
- Quais mecanismos internos asseguram a modicidade tarifária e evitam vantagem desproporcional?
“O Procon Paulistano ressalta que o não atendimento à notificação no prazo estabelecido poderá resultar na adoção de medidas administrativas previstas no Código de Defesa do Consumidor, incluindo aplicação de multa, suspensão temporária da atividade e outras penalidades cabíveis”, disse a secretaria em comunicado.
*Matéria publicada originalmente em IstoÉ Dinheiro, parceiro de B3 Bora Investir