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Varejo começa o ano com recorde de vendas puxado por vestuário

Setor cresceu 3,8% em janeiro, na comparação com dezembro, segundo o IBGE. Setor de tecidos, vestuário e calçados puxou o resultado com crescimento de 27,9%

Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
O setor de vestuário sofreu muito com a inflação em 2022 quando fechou o ano com alta de 18,02%. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

As vendas do comércio varejista brasileiro começaram o ano com fôlego diante do aumento das vendas, principalmente de vestuário e calçados. Já era em tempo uma recuperação para essa atividade que sofreu com a alta da inflação em 2022 e agora embala uma desaceleração nos preços. O entrave para a continuidade do crescimento, no entanto, bate nos juros altos e no cenário de crédito escasso.

Após uma queda em dezembro, as vendas no comércio avançaram 3,8% em janeiro, registrando a maior variação para o mês desde o início da série histórica, no ano 2000. O resultado também é o maior desde julho de 2021, segundo a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quarta-feira, 12/04. Em 12 meses, o varejo acumula alta de 1,3%.

O gerente da pesquisa do IBGE, Cristiano Santos, afirma que cada mês tem sua especificidade no setor varejista. No entanto, salienta que desde setembro do ano passado (1,1%) o volume de vendas no varejo não registrava alta.

“É um resultado importante, porque o comércio vinha de resultados negativos ou estabilidade. Assim, o comércio varejista diminui a distância para o nível recorde da série (outubro de 2020), que agora é de -2,9%”.          

O economista da XP, Rodolfo Margato, afirma que o aumento da renda das famílias vai evitar uma piora acentuada do consumo ao longo de 2023 – o que vai favorecer o varejo. No entanto, os segmentos mais sensíveis ao crédito devem enfrentar um ano desafiador.

“Condições de crédito ainda mais apertadas e elevado endividamento das famílias devem pesar sobre as atividades de varejo como veículos, eletrodomésticos, eletroeletrônicos e material de construção nos próximos meses. Projetamos que as vendas totais do varejo crescerão em torno de 1,5% em 2023”.

No varejo ampliado – que inclui as vendas de veículos e motos, partes e peças, e material de construção – as vendas subiram 0,2% em janeiro, em relação ao mês anterior, já descontados os efeitos sazonais.

VENDAS DO VAREJO – MÊS A MÊS

Fonte: IBGE

Vestuário puxa alta

O principal destaque em janeiro ficou com tecidos, vestuário e calçados, que cresceu 27,9% após uma queda de cerca de 15% de setembro a dezembro.

O setor de vestuário sofreu muito com a inflação em 2022 quando fechou o ano com alta de 18,02% – maior avanço dos preços desde 1995. Atualmente, nos 12 meses fechados até março, houve uma desaceleração para um crescimento de 13,45%.

A indústria têxtil enfrentou uma série de problemas ao longo dos últimos dois anos, principalmente no acesso a diferentes matérias-primas – como algodão, lã e fibras de tecidos sintéticos. Os gargalos, principalmente em função da pandemia, geraram custos maiores.

Outras atividades

As vendas do comércio foram disseminadas já que sete das oito atividades pesquisadas pelo IBGE registraram avanços. Além do setor de vestuário, outro grupo que influenciou no resultado foi o de hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo, com aumento de 2,3% após dois meses de queda.

“Ambos os setores sinalizam uma recuperação em janeiro. Pelo resultado de dezembro, é possível considerar que movimentos como Black Friday e o Natal não foram positivos para as duas atividades. Com as quedas anteriores e a base de comparação mais baixa, houve um crescimento importante em janeiro, motivado principalmente por iniciativas pós-Natal”, explica Cristiano Santos.

Também tiveram alta equipamentos e material para escritório informática e comunicação (7,4%), outros artigos de uso pessoal e doméstico (2%), combustíveis e lubrificantes (1,5%), móveis e eletrodomésticos (1,3%) e livros, jornais, revistas e papelaria (0,6%).

O único setor que registrou queda nas vendas em janeiro foi o de artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (-1,2%), que também teve baixa em dezembro (-0,5%). “Esse movimento foi muito influenciado por cosméticos e perfumaria, que seguem em queda e têm variações mais sensíveis, já que os artigos médicos e farmacêuticos costumam ter trajetória mais estável”, conclui o gerente da pesquisa do IBGE.

No varejo ampliado, houve queda de 0,2% em veículos, motos, partes e peças e alta de 2,9% no material de construção.

Mudanças na pesquisa

Os dados da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), do IBGE, passou por atualizações na seleção da amostra de empresas, ajustes nos pesos dos produtos e das atividades, além de alterações para retratar mudanças econômicas da sociedade.

A principal novidade, segundo o IBGE, é a inclusão das atividades de atacado especializadas em alimentos, os chamados atacarejos. Até então não eram investigadas as receitas dos supermercados classificados como comércio atacadista.

Acordo no caso Americanas

Na noite desta terça-feira, 11/04, a Americanas anunciou que chegou a um acordo com “alguns credores financeiros” para suspender temporariamente as disputas judiciais em curso. O anúncio veio três meses após a crise que abalou o mercado varejista.

Ainda segundo a companhia, as partes poderão focar seus esforços na negociação de um plano de recuperação judicial aceitável para a maior parte dos credores e que viabilize o futuro operacional da Americanas.

Em março, a empresa entregou à Justiça o seu plano de recuperação judicial, que incluiu uma capitalização que poderá chegar a R$ 12 bilhões por parte de seu trio de acionistas de referência, os bilionários Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles. Em contrapartida, a Americanas pediu o fim de ações na Justiça.

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