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Americanas entrega plano de recuperação judicial à Justiça; ações sobem

O grupo varejista propôs um aumento de capital de R$ 10 bilhões, além da vendas de ativos e conversão de dívidas em ações. Papéis da companhia sobem no mercado

Lojas Americanas. Foto: Adobe Stock
Crise contábil fizeram as ações caírem mais de 80% desde a revelação das inconsistências. Foto: Adobe Stock

No limite do prazo, a Americanas entregou à 4ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro a primeira versão do seu plano de recuperação judicial. Essa é mais uma etapa do processo que começou em janeiro, quando a companhia admitiu ter R$ 43 bilhões em dívidas com 16,3 mil credores.

Com o anúncio, as ações da empresa (AMER3) avançavam quase 5%, cotadas a R$ 1,13, por volta das 12h40 desta terça-feira, 21/03. Ontem, os papéis já haviam subido 3,84%, fechando em R$ 1,08 com a expectativa da divulgação.            

O plano apresentado pela varejista prevê um aumento de capital de R$ 10 bilhões a ser feito pelos acionistas de referência, Marcel Telles, Beto Sicupira e Jorge Paulo Lemann, que são sócios da 3G Capital.

Segundo o fato relevante enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o valor visa “assegurar os recursos mínimos necessários para a implementação dos termos e condições de reestruturação dos créditos contemplados no plano”.

O plano aprovado pelo Conselho de Administração da Companhia estabelece medidas para que a Americanas supere os problemas financeiros e continue suas atividades. Passa a correr agora o prazo de 90 dias até a assembleia geral de credores para a votação. Nesse período, devem ocorrer ajustes que são comuns nesses processos.

Venda de ativos

A venda de ativos e participações em negócios do grupo Americanas também aparece no plano de recuperação judicial. A companhia sugere a venda da unidade de negócios Hortifruti Natural da Terra e da participação no Grupo Uni.Co, que inclui empresas como a Imaginarium.

A companhia também vai se desfazer de uma aeronave Phenom 300 – modelo EMB-505, fabricado pela Embraer em 2014. O avião é considerado o jato executivo mais vendido e importante da fabricante. A aeronave bimotor a jato tem a capacidade de transportar dois pilotos, nove passageiros e custa, em média, R$ 40 milhões.

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Segundo o plano, a Americanas espera utilizar até R$ 2 bilhões dos recursos com esses bens vendidos para reduzir sua dívida.

“O primeiro R$ 1 bilhão levantado destinado à recompra de dívida a mercado e o saldo dos recursos levantados, limitados a R$1 bilhão, para recompra de dívida subordinada. Com isso a companhia pretende reduzir seu endividamento a mercado, pós reestruturação, para R$ 4,9 bilhões”.

Pagamento aos credores

A primeira versão do plano elaborado pela companhia apresenta um conjunto de condições para o pagamento dos credores – divididas em várias propostas que precisam ser aprovadas para que a recuperação consiga avançar.

Os credores trabalhistas e pequenas empresas devem ser os primeiros a receber, com o pagamento integral em até 30 dias após a homologação do plano de recuperação judicial. Os valores somam R$ 240 milhões, sendo que R$ 120 milhões já foram pagos nas últimas semanas.

Para os credores fornecedores, os prioritários a receber serão os pequenos – com dívida de até R$ 12 mil, também pagos com a mesma carência de um mês. Aquele com dívidas superiores a esse valor, mas que aceite R$ 12 mil em troca da quitação integral de seus créditos também recebem em um mês.

Já quem não aderir – ou seja fornecedores com maiores valores a receber como grandes indústrias – serão pagos em 48 parcelas mensais iguais com deságio, ou seja desconto, de 50%.

Para os demais credores, como os financeiros, os prazos variam de acordo com o saldo a pagar – podendo chegar a março de 2043 para aqueles que não optarem pelas alternativas expostas pelo plano de recuperação judicial.

Outra proposta presente no plano da Americanas para o pagamento de credores é a emissão de debêntures simples no valor de até R$ 5,9 bilhões. A empresa também pretende emitir debêntures conversíveis em ações.

Relembre o caso Americanas

A crise na varejista começou no último dia 11 de janeiro, quando o então presidente da companhia, Sérgio Rial, deixou o cargo após identificação de rombo estimado em R$ 20 bilhões.

Uma semana depois, em 18 de janeiro, um dos principais credores, o banco BTG, conseguiu uma liminar para o bloqueio de R$ 1,2 bilhão em aplicações da Americanas no banco, como garantia de pagamento antecipado de dívidas.

A liminar abriu caminho para o pedido de recuperação judicial que aconteceu no dia 19 de janeiro quando a empresa declarou que as dívidas poderiam chegar a R$ 43 bilhões. Um dia depois, a agência de classificação de risco Fitch cortou nota de crédito da Americanas ao menor patamar da escala.

A crise na Americanas acendeu um alerta no mercado financeiro sobre a saúde das empresas varejistas brasileira.

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