7 gatilhos emocionais que te fazem perder muito dinheiro
Quando as emoções estão atreladas às finanças, elas podem guiar nossas ações para decisões precipitadas. Identificar os gatilhos pode ajudar a frear esse comportamento
Élida Oliveira, especial para o Bora Investir
Quando o assunto é dinheiro, as emoções e sentimentos que vêm à tona podem ser de medo e insegurança para algumas pessoas, mas também euforia e prazer para outras. Isso porque ter dinheiro pode proporcionar a vivência de muitas experiências boas, mas a falta dele traz a escassez e a limitação – e ninguém gosta de ser privado do que precisa e deseja.
Quando as emoções estão atreladas às finanças, elas podem guiar nossas ações para decisões precipitadas. E o que deveria ser analisado com racionalidade e distância acaba se transformando em algo emotivo. Por isso, é preciso ficar atento aos gatilhos emocionais que podem levar a perder muito dinheiro.
O que são gatilhos emocionais
Gatilhos emocionais são situações que disparam emoções difíceis de controlar. Podem ser experiências pessoais, palavras, lembranças, entre outros, que despertam respostas reativas e automáticas, às vezes até sem que a pessoa perceba.
E, quando o assunto é dinheiro, muitos gatilhos podem estar envolvidos. O tema é considerado tabu porque envolve valores pessoais e ideias pré-concebidas sobre fracasso ou sucesso. A pesquisa “Tabu: um estudo sobre a relação do brasileiro com o dinheiro”, feita pelo Itaú e Datafolha, aponta que 49% dos entrevistados evitam até mesmo pensar em dinheiro, para não ficarem tristes.
“Os gatilhos emocionais são eventos ou situações que ativam as emoções primárias. Isso vai variar de pessoa para pessoa. Pode ser a lembrança de algo que ela mesma ou algum familiar tenha vivido, pode ser uma notícia sobre aquela situação – como quando os jornais veiculam notícias de demissões e as pessoas ficam com medo de perderem seus empregos”, explica Celso Sant’Anna, psicólogo financeiro.
O impacto na saúde financeira
A relação conflituosa com dinheiro pode levar a pessoa a ações precipitadas, como compras impulsivas para compensar o sentimento de tristeza, ou a investimentos arriscados para viver a sensação de euforia, afirma Edrey Pierre, fundador e CEO da Neela Gestão de Patrimônio.
O educador financeiro Thiago Godoy afirma no livro “Emoções Financeiras” (Editora Gente) que o planejamento financeiro é essencial para trazer maior clareza e evitar que as emoções tomem conta das decisões.
Assim, identificar os gatilhos emocionais pode ajudar a frear comportamentos impulsivos e trazer maior saúde financeira. Entre os gatilhos emocionais mais frequentes, estão:
- Medo de ficar pobre ou de gastar: Segundo Godoy, o medo de perder o patrimônio pode nos paralisar e procrastinar a decisão de fazer investimentos. Em geral ocorre em pessoas que viveram uma infância de privações, ou que passaram por “quebras” ou enriqueceram de maneira inesperada. Há ainda as derivações deste sentimento, que são o medo de ficar pobre e o medo de gastar dinheiro.
- Medo da escassez, da limitação e busca por exclusividade: Segundo Sant’Anna, esse gatilho é acionado quando a pessoa pensa que está deixando de ter algo que vai melhorar muito a sua vida. Ativar esse gatilho, explica, é uma forma usada pela publicidade para impulsionar as vendas. A estratégia é divulgar produtos como se fossem os últimos, afirmar que restam poucas unidades, e assim atrair a atenção e o dinheiro do comprador. Neste caso, é preciso ficar atento ao gasto para identificar se ele é mesmo necessário.
- Agradinhos e compras por recompensa: Embora seja um sentimento positivo, a alegria pode esconder um efeito colateral: a impulsividade. Por isso, a alegria pode levar à perda de dinheiro devido ao sistema de recompensa do cérebro e à liberação de dopamina, que há uma sensação de prazer. É quando a pessoa busca um “agradinho” sempre que enfrenta uma dificuldade – e isso leva a gastos desnecessários. Esse gatilho também pode ser descrito como o imediatismo. “A pessoa acaba gastando em algo que é totalmente desnecessário só para ter prazer naquele momento”, explica Sant’Anna.
- Busca por prazer quando está triste: Assim como a alegria, a tristeza também leva a gastos inconsequentes pelo mesmo motivo: a busca de prazer pela liberação de dopamina no cérebro, escreve Godoy. É preciso ficar atento para não transformar o consumo em uma válvula de escape para sentimentos negativos. O risco aumenta quando a sensação permanente de felicidade não é atingida nunca, não importando qual o patamar financeiro que a pessoa se encontra.
- Ansiedade ou estresse: Quando estamos ansiosos, não conseguimos pensar claramente. O instinto busca desligar o cérebro, segundo Godoy, e isso ocorre pelo mesmo mecanismo de liberação de dopamina no cérebro. “Consumir sem limites acaba trazendo a distração que ajuda o seu cérebro a parar de pensar”, escreve. Para controlar a ansiedade, a dica é fazer um planejamento para o futuro.
- Ou tudo ou nada: Quando não conseguimos alcançar nossos objetivos, podemos acabar desistindo das nossas metas. Isso é chamado na Psicologia Comportamental como “gatilho do tudo ou nada”, escreve Godoy. Neste cenário, a pessoa gasta tudo que ganha, sem poupar, porque sabe que não poderá conquistar o objetivo. A dica é trazer metas realistas e dar sentido para cada real poupado, para ter a sensação de estar conquistando algo.
- Pressão social: É comum algumas pessoas gastarem mais do que ganham para corresponder a expectativas que pensam haver dentro do grupo social onde estão inseridas, afirma Sant’Anna. “É enxergar o outro como sendo nosso ponto de referência, um colega de trabalho, um familiar próximo”, explica o psicólogo. Pierre afirma que isso acontece para poder impressionar os outros. Segundo Godoy, a saída é buscar autoconhecimento para identificar o que fazemos por vaidade ou capricho e o que é vontade genuína.
Como superar os gatilhos emocionais
Para superar os gatilhos emocionais, a primeira sugestão é buscar uma educação financeira para poder conhecer sua situação econômica, identificar gastos e saber como investir o dinheiro para ter maior prosperidade.
Em segundo lugar, vem o autoconhecimento. Godoy explica em seu livro que o nosso olhar sobre o mundo é distorcido e enviesado pelo significado que damos às coisas, pelo contexto em que fomos criados e pela situação atual em que vivemos. No Brasil, especialmente, a própria experiência da população de viver em um país com inúmeras riquezas naturais e diversas crises econômicas impacta na forma como a população lida com dinheiro, escassez e fartura. Por isso, é preciso saber quais são nossas histórias pessoais, nosso passado, e como nos situamos no universo de consumo, afirma Sant’Anna, para identificar o que é nosso e o que está sendo imposto.
Depois, vem o planejamento. Ter metas claras e factíveis ajuda a criar um propósito para seguir no objetivo traçado, segundo o psicólogo.
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