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Carteira mais conservadora e renda fixa com cautela: as escolhas de Zeina Latif e Betina Roxo para investir

Eleições e juros nos EUA e desaceleração da China são destaque no cenário internacional e podem ser fonte de riscos

Eventos climáticos, geopolíticos e questões de saúde são exemplos de incertezas – aqueles eventos que sabemos que podem ocorrer, mas para os quais é difícil atribuir uma probabilidade concreta. Em um mundo cada vez mais complexo, onde essas incertezas são mais frequentes, “é melhor ter um pé no conservadorismo”. Foi assim que Zeina Latif, sócia-diretora da Gibraltar Consulting, iniciou sua participação no Congresso Planejar 2024.

Betina Roxo, vice-presidente da Redoma Capital, segue a mesma linha. “Para quem faz alocação de capital e atende clientes, é sempre um desafio pensar no cenário, porque estamos vivendo muitas pautas que mudam muito a carteira, e isso se reflete em recomendação”, diz.

“O cenário favorece a renda fixa, mas quando olhamos para o crédito corporativo, os títulos estão com o spread na mínima histórica. Ou seja, nem tudo na renda fixa faz sentido no momento”, afirma. Segundo ela, a Redoma vê oportunidades nos títulos prefixados atualmente, mas ela alerta: “É uma classe que tem volatilidade”.

“Volatilidade e incerteza são palavras que ouvimos há muitos anos. Por isso, é importante destacar os benefícios de uma carteira diversificada. O grande ponto da diversificação é que, quando uma classe de ativos sobe, outra cai. Essa é a verdadeira vantagem da diversificação”, completou Betina Roxo.

Diante de uma plateia composta principalmente por planejadores financeiros, Betina também enfatizou a importância de conhecer o cliente para que as recomendações estejam adequadas ao perfil de cada um. “Nos últimos anos, o acesso a diferentes produtos de investimento aumentou muito. Porém, esse excesso de informação também deixa os investidores mais inseguros”, afirmou. Justamente por isso, ela destacou o papel crucial da educação financeira, para que os investidores compreendam onde estão alocando seus recursos, quais são os riscos envolvidos e, sobretudo, a importância da diversificação.

Diante desse cenário de incerteza, os palestrantes também destacaram a importância da diversificação internacional nas carteiras, um tema que vem ganhando espaço no Brasil, mas que ainda está em fase inicial de adoção.

China e EUA dominam as preocupações no cenário internacional

Para Zeina, a China tem “estruturalmente uma tendência de menor crescimento”, resultado de fatores como o fim do bônus demográfico, a decisão governamental de frear o crescimento de grandes conglomerados e o receio de bolhas no mercado. Isso “tem implicações para o Brasil”, diz. No entanto, ela ressalta: “Mesmo com a desaceleração, a China não inviabiliza as exportações brasileiras”.

Sobre os EUA, as duas grandes questões do momento são o corte de juros e as eleições presidenciais. Para Zeina Latif, após um corte de 0,5 ponto percentual na última reunião do Federal Reserve (Fed), ainda há espaço para mais reduções nas taxas básicas no país. No entanto, esse movimento não deve ser simples. “A gente observa que a gestão de [Jerome] Powell [o presidente atual do Fed] é uma gestão ruidosa. Comunicação de bancos centrais é um tema difícil. A discussão hoje não é só sobre o espaço para cortar juros, mas esse caminho ruidoso”, afirma.

Fernando Honorato, economista-chefe do Bradesco, concorda que a política monetária deve gerar ruído. Ele acrescenta, porém, que o cenário atual apresenta menos pressões inflacionárias. “Após a pandemia, as cadeias de suprimentos se reorganizaram e parece ter havido algum ganho de produtividade. Por outro lado, a China está desinflando, produzindo mais do que consome”, diz.

A questão das eleições nos EUA, contudo, preocupam. “Por razões distintas, as consequências das políticas econômicas defendidas por Donald Trump e Kamala Harris são parecidas e inflacionárias. Eles surpreendem pelo que os aproxima, mais do que os distancia”, afirma Fernando. Segundo ele, no lado fiscal, a candidata democrata deve aumentar os gastos. Já o republicano deve reduzir a carga tributária. Ou seja: o resultado de ambos seria um maior déficit público.  “Nas políticas externas, tem protecionismo dos dois lados, o que também é inflacionário”, completou o economista.

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