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Cautela e paciência: como agir em dias de alta volatilidade no mercado

“Quem agir na emoção provavelmente vai estar perdendo dinheiro. Não é hora de fazer movimentos bruscos”, diz Braian Largura, sócio do escritório VNT Investimentos

A segunda-feira (07/04) é de grandes emoções e volatilidade nos mercados de ações em todo o mundo. Logo cedo, as bolsas asiáticas desabaram. O índice Hang Seng, de Hong Kong, despencou 13,22%, maior tombo diário desde a crise financeira asiática de 1997. Na Europa, a queda também foi generalizada, ainda que em menor magnitude: em Londres, o FTSE 100 recuou 4,38%.

O ambiente de aversão a risco começou na semana passada, quando o presidente americano Donald Trump anunciou seu pacote de tarifas às importações. Em seguida, o governo chinês respondeu com uma retaliação, igualando a tarifa aos produtos norte-americanos. Hoje, um fato novo trouxe ainda mais preocupação: o presidente dos EUA ameaçou a imposição de uma tarifa adicional de 50% sobre a China a partir desta quarta se o país não desistir da tarifa de 34% até amanhã. Todo esse cenário fez crescer o temor de que a economia global pode estar caminhando em direção a uma recessão.

“Esse caos é fruto da incerteza a respeito dos impactos das tarifas sobre a economia. A volatilidade está muito alta”, diz Marcos Piellusch, professor da FIA Business School. “Tudo isso em função da reciprocidade, porque os EUA aumentaram as tarifas de importação, e a China decidiu aumentar também. Isso eleva o nível de tensão, e quando há incerteza, a volatilidade tende a aumentar mesmo.”

Em momentos como esse, é importante que os investidores evitem o pânico. O ideal é seguir uma estratégia bem definida para passar por períodos turbulentos e fazer apenas ajustes pontuais na carteira. O Bora Investir conversou com especialistas. Confira!

Contorne o pânico

Um dos principais conselhos dos especialistas é manter a calma e evitar decisões impulsivas. Piellusch destaca: “o pânico agora, a reação precipitada, é a pior das atitudes que a pessoa pode tomar, especialmente se for investidor de longo prazo.”

Para ele, o melhor é não fazer grandes ajustes na carteira nesse momento. “Mantenha a estratégia. Só se deve rever o portfólio só se houver mudança no perfil de risco. Você pode avaliar que o momento é melhor para alocar mais em ativos defensivos, mas vender agora vai ser realizar prejuízo”, diz.

Braian Largura, sócio do escritório VNT Investimentos, complementa que agir na emoção pode resultar em perdas significativas. “Nesses momentos, tem que ter cautela. Quem agir na emoção provavelmente vai estar perdendo dinheiro. Não é hora de fazer movimentos bruscos”, diz.

“É preciso ter paciência e evitar grandes movimentações nesse momento. É fundamental reduzir qualquer tipo de alavancagem, esse não é momento para fazer grandes apostas em termos macro”, alerta Felipe Paletta, estrategista da EQI Research. “E para quem tem ações na carteira, é momento de não fazer muita coisa. Se você está mais exposto a uma empresa ou setor que possam ser mais afetados pelas tarifas de Trump, pode fazer sentido um ajuste. Mas o mais importante é passar essa nuvem turbulenta”, complementa.

Aposte na diversificação da carteira

A diversificação é uma estratégia central recomendada pelos especialistas. E é justamente em momentos turbulentos que a diversificação se mostra ainda mais importante.

“O investidor de longo prazo teoricamente deveria ter uma carteira equilibrada, alocação em ativos de renda fixa, em moeda estrangeira, em ouro, que tem se valorizado bastante pela questão da incerteza. Quem tem o portfólio diversificado não se desespera, sabe que vai sofrer volatilidade, mas que está pensando na tendência de longo prazo”, diz Piellusch.

Largura acrescenta que, mesmo em momentos de perda em ações, um portfólio diversificado pode trazer ganhos em outras áreas. “Se você está perdendo em suas posições na bolsa, pode estar ganhando em treasuries longos americanos, por exemplo. Uma carteira bem diversificada sempre vai estar perdendo para algum indexador no curto prazo, mas no longo prazo, pode ganhar de todos.”

Bruno Cotrim, economista da casa de análise Top Gain, também reforça a importância da diversificação, lembrando que a bolsa apresenta oportunidades de compra. “Os investidores precisam ter calma e observar o preço em que os ativos foram comprados. Estão surgindo oportunidades, mas é ideal entrar em tranches, e não tudo de uma vez”, recomenda.

Esteja atento a seu perfil de investidor

Além da diversificação, os momentos de alta volatilidade nos mercados mostram a importância de ter uma carteira adequada ao seu perfil. “Nesses momentos que o investidor percebe se sua carteira está desenquadrada de seu perfil de risco, resultado de uma decisão ruim que foi feita lá atrás, no momento da alocação. Mesmo assim, a recomendação é ir liquidando as posições aos poucos, mas nada no calor da emoção”, diz Largura.

Fique de olho nas oportunidades

Os especialistas concordam que momentos de volatilidade também podem criar oportunidades de investimento. “Quando tem momento de pessimismo, tem empresas que sofrem desvalorização por causa do efeito da manada”, diz o professor. Ou seja, empresas que seguem com fundamentos sólidos, mas que viram a cotação de suas ações cair de forma exagerada.

Piellusch, no entanto, alerta: é preciso cuidado adicional nesse momento para ativos muito expostos à situação de crise atual. “Se é uma empresa está no olho do furacão, como uma exportadora, mesmo que a ação tenha caído muito, pode cair mais”.

Por outro lado, Braian Largura, do VNT Investimentos, lembra que há empresas brasileiras que podem até se beneficiar do cenário macro. “O que a gente vem fazendo agora é uma análise das empresas que podem vir a se beneficiar de guerra tarifária entre EUA e China, porém, com uma cautela adicional que estamos tendo nos últimos dois anos de avaliar o endividamento das empresas brasileiras”, diz.

E mesmo para aproveitar essas oportunidades, calma e paciência são palavras de ordem. “Estão surgindo oportunidades, mas também não é bom entrar de uma vez no mercado. Por mais que seja uma posição olhando para longo prazo, o ideal é entrar em tranches”, diz Bruno Cotrim, da Top Gain.

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