Como proteger sua carteira em momentos de incerteza?
Ter uma parcela de seus investimentos em renda fixa, ouro e petróleo pode ajudar a reduzir a volatilidade de sua carteira em períodos de crise
Os últimos dias foram de intensa movimentação nos mercados internacionais, que reagiram ao noticiário sobre a guerra entre Israel e Irã. Em meio a temores quanto ao envolvimento de potências globais no conflito e preocupações sobre o fornecimento global de petróleo, as cotações da commodity oscilaram entre fortes ganhos e fortes perdas. Outros mercados, como o de moedas e até o de ações foram influenciados pelo movimento. Como resultado, muitos investidores passaram a se perguntar o que fazer para proteger suas carteiras da volatilidade e incerteza.
A resposta pode ser contraintuitiva: “a nossa filosofia é de que o investidor não deve tentar antecipar ou prever o que vai acontecer”, comenta Juan Schavio, economista e sócio da Cimo. “O volume de informações é muito grande, e houve um incremento relevante da volatilidade desde a pandemia. Tentar antecipar movimentos é muito complicado e muito perigoso”, diz ele.
Tales Barros, líder de renda variável da W1 Capital, também lembra que é preciso separar o ruído dos fundamentos, e manter a calma mesmo em momentos de volatilidade. “Temos que levar em conta que o mercado, de certa maneira, é movido por narrativa, e narrativa é tão volátil quanto qualquer ativo volátil negociado em bolsa”, diz. Ele lembra que existem ativos que servem de refúgio em momentos de incerteza, como ouro e ativos dolarizados.
E ele lembra: “um ponto comum de todas as crises é que uma hora ela acaba. E quem estiver melhor posicionado vai se beneficiar. Esperar até o fim da crise é um abismo de incerteza, porque pode durar uma semana, um mês ou anos”.
Jeff Patzlaff, planejador financeiro CFP e especialista em investimentos, reforça que num cenário geopolítico conturbado como o que vivemos hoje, os mercados financeiros tendem a reagir com forte volatilidade, aumento da aversão ao risco e fuga de capital para ativos considerados mais seguros. “Nesse contexto, a presença de ativos de proteção em uma carteira de investimentos se torna não apenas recomendável, mas essencial para a preservação do patrimônio, gestão de risco e resiliência da estratégia financeira a médio e longo prazo”, diz.
Mas afinal, o que são os chamados ativos de proteção? São aqueles que se movimentam de forma diferente de outros ativos de risco. “A importância dos ativos de proteção está na capacidade de atuar como contraponto aos ativos mais sensíveis ao risco, como ações, moedas emergentes ou títulos de dívida corporativa”, diz Patzlaff. “Eles são desenhados para preservar valor ou até mesmo se valorizar em momentos de crise, fuga de capitais ou deterioração de expectativas econômicas. Em situações como a atual, os ativos de proteção ajudam o investidor a evitar decisões precipitadas e manter o foco nos objetivos de longo prazo”.
Caixa reforçado
O que fazer então nesse momento? “Hoje, com a taxa de juros de 15% no Brasil e de 4,25% nos Estados Unidos, o investidor é muito bem remunerado para ter recursos em caixa. Em um mundo de incerteza e volatilidade elevadas, é uma remuneração muito boa para correr baixos riscos. Por isso, achamos que faz sentido agora ter um nível maior do que o normal em caixa, para ter possibilidade de movimentar o patrimônio”, diz Schavio.
Além disso, uma volta das tensões no Oriente Médio poderia fazer subir novamente os preços do petróleo, que por sua vez tendem a elevar a inflação global. Nesse cenário, diz Barros, a renda fixa no Brasil serviria como proteção. “Considerando que o Brasil é um país de juro real estruturalmente alto, a renda fixa serve como proteção local, sobretudo em pós-fixado”, diz.
Jeff Patzlaff cita ainda os títulos públicos atrelados à inflação (Tesouro IPCA+) que protegem o poder de compra do patrimônio, “especialmente em momentos de inflação global elevada e incerteza fiscal”.
Vale a pena ter exposição em ouro?
Um dos principais ativos de proteção é o ouro, diz Jeff. “Ele é tradicionalmente visto como reserva de valor em períodos de crise, tende a se valorizar quando há tensão geopolítica, inflação persistente ou perda de confiança em moedas fiduciárias, pode ser acessado por meio de fundos de ouro, ETFs ou até via compra física em instituições autorizadas”, diz.
Schavio, no entanto, tem uma opinião diferente. “Ativos como ouro são tidos como proteção porque são descorrelacionados do movimento de outros ativos de risco”, explica. Isso quer dizer que, quando ativos de risco como ações se desvalorizam, o ouro tende a se desvalorizar, e vice-versa. “Acontece que, dependendo do evento, essa descorrelação do ouro se perde. Por isso, é preciso tomar cuidado”.
Ele coloca mais um ponto de atenção: diferente de ações, que pagam dividendos, ou de ativos de renda fixa, atrelados a uma taxa de juros, o ouro não gera rentabilidade ao investidor além da valorização em si.
Ativos dolarizados como proteção
Outra opção que pode servir como proteção nas carteiras é ter exposição em ativos dolarizados, diz Barros. “Dolarizar a carteira não serve apenas como proteção cambial, mas para diversificar em ativos de qualidade em outras geografias em momentos de incerteza”, explica. “O investidor pode subdividir os ativos dolarizados em renda fixa e variável, hoje se tem acesso aos treasuries [títulos públicos do tesouro americano] tanto via ETF quanto internacionalmente. É um ativo visto como a renda fixa mais segura do mundo, e tem especial interesse em tempos de crise”, diz.
Na renda variável, ele cita ainda a exposição a ativos como commodities, tanto petróleo quanto agrícolas, o que também é possível via ETFs na bolsa do Brasil.
Devo investir em petróleo? Como?
Apesar da alta volatilidade do petróleo nas últimas duas semanas, Schavio lembra que o preço da commodity voltou ao patamar visto antes de outro evento que movimentou o mercado neste ano: o anúncio de tarifas de importação por Donald Trump.
“O petróleo disparou com o anúncio do primeiro disparo de Israel, e depois novamente com o ataque americano. Mas se olhar antes do anúncio das tarifas do Trump, o petróleo estava operando nesse patamar que estamos vendo hoje, perto de US$ 70”, diz Schavio.
Quanto do patrimônio deve ser alocado em ativos de proteção?
Segundo Jeff, não existe um percentual fixo, mas sim uma recomendação baseada no perfil de risco e nos objetivos do investidor. “De modo geral, carteiras mais conservadoras podem ter de 20% a 40% alocados em ativos defensivos. Já carteiras moderadas e agressivas tendem a manter entre 10% e 25%, dependendo do grau de exposição ao risco assumido no restante da carteira. Em momentos de maior estresse, é natural que investidores aumentem provisoriamente essa fatia — mas sempre de forma estratégica e não emocional”, explica.
Os ativos escolhidos também variam a depender do perfil, diz Tales Barros. Perfis mais conservadores tendem a alocar a parcela de proteção em ativos de renda fixa, enquanto os mais agressivos podem se beneficiar de exposições a ativos como dólar ou petróleo.
“A montagem da posição em ativos de proteção deve ser gradual, planejada e consistente com a estratégia da carteira. Idealmente, o investidor deve começar a montar essa posição antes das crises, contudo, mesmo durante a turbulência, é possível alocar de forma escalonada, por meio de aportes periódicos (tática de preço médio) e respeitando o limite de exposição definido em seu planejamento financeiro”, sugere Jeff.
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