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Eleições EUA 2024: como a campanha e debates influenciam os investimentos?

Entenda como a disputa pela presidência dos EUA pode influenciar a economia do Brasil e do mundo

Botons e bandeiras dos EUA. Foto: Pexels
Os mercados de todo o planeta acompanham as propostas, deslizes, perspectivas de mudanças e a postura dos candidatos. Foto: Pexels

Os olhos do mundo todo estão voltados para a maior economia global em 2024, com a eleição presidencial dos EUA se aproximando. A campanha dos partidos Democrata e Republicano já acontece há alguns meses, mas as discussões sobre o pleito se intensificam com o primeiro debate entre Joe Biden e Donald Trump.

As oscilações e incertezas no período até o dia dos norte-americanos irem às urnas afetam a economia mundial e os investimentos mundo afora. Segundo Mauro Rochlin, coordenador do MBA de Gestão Estratégica e Econômica de Negócios da FGV, a campanha presidencial americana tem efeitos e impactos sobre a economia na medida em que gera expectativas – e as expectativas importam.

De acordo com Paula Sauer, professora da FIA Business School, local e internacionalmente, os mercados de todo o planeta acompanham as propostas, deslizes, perspectivas de mudanças e a postura dos candidatos.

“Estamos falando da eleição do maior ‘CEO’ do planeta, as decisões tomadas nos EUA muitas vezes impactam mercados, influenciam a economia, cultura, consumo do mundo inteiro”, aponta ela.

Como a campanha e os debates podem influenciar o mercado?

De modo geral, a corrida presidencial nos EUA pode influenciar, principalmente no curto prazo, os investimentos como um todo, afirma Isabela Bessa, especialista em investimentos internacionais da Warren Investimentos

“Isso acontece devido à incerteza das políticas que serão adotadas na economia americana, o que pode refletir no mercado financeiro brasileiro, influenciando o sentimento dos investidores e o fluxo de capital estrangeiro”.

Sauer ainda ressalta que a posição dos candidatos em relação ao tipo de políticas econômicas, sejam elas fiscais, monetárias, cambiais ou de renda, que serão adotadas podem afetar positivamente ou negativamente a confiança do investidor, o que causa ondas de maior volatilidade nos mercados financeiros nos períodos pré-eleitorais.

“A volatilidade tende aumentar à medida que os investidores tentam antecipar os resultados das eleições e suas implicações, inclusive extrapolando para outros mercados ao redor do planeta em um efeito manada”, destaca.

Ela ainda aponta que a proximidade das eleições pode gerar expectativas em relação a políticas futuras sob vários aspectos. Por exemplo, propostas de cortes ou aumentos de impostos podem afetar as expectativas de lucro das empresas, influenciando o mercado de ações. Da mesma forma, promessas de aumentar ou reduzir a regulamentações em setores específicos (como tecnologia, saúde ou energia) podem alterar as expectativas sobre custos operacionais e receitas futuras.

“Toda essa incerteza sobre o resultado eleitoral e as políticas que serão implementadas ao longo do próximo governo podem aumentar a volatilidade nos mercados financeiros. Investidores avessos ao risco podem gerar movimentos bruscos nos preços dos ativos aumentando a volatilidade e acentuando as incertezas”, diz Paula Sauer.

Como mensurar os impactos das eleições nos EUA?

A professora da FIA Business School ainda destaca alguns meios de mensurar os efeitos da campanha eleitoral dos EUA. Para ela, a variação cambial pode ser um termômetro interessante para verificar o quanto o investidor está disposto a comprar ações, acreditando no futuro da economia, ou investindo seus recursos em ativos como ouro e moedas fortes para se proteger.

Além disso, existem outros índices e indicadores que têm como objetivo mensurar a incerteza gerada pelo período eleitoral. Segundo ela, são:

1. Análise de Volatilidade

  • Índice VIX: o VIX mede a expectativa de volatilidade do mercado de ações nos próximos 30 dias. Um aumento no VIX pode indicar maior incerteza durante os períodos eleitorais.
  • Desvio Padrão: Medir o desvio padrão dos retornos dos ativos durante a campanha pode fornecer insights sobre aumentos na volatilidade.

2. Movimentos de Preços

  • Análise de Eventos: Estudar o comportamento dos preços dos ativos em torno de eventos chave como debates e anúncios de políticas, pode revelar como o mercado reage a informações específicas.
  • Comparação Histórica: Comparar o desempenho do mercado durante diferentes ciclos eleitorais pode ajudar a entender padrões de comportamento relacionados a eleições.

3. Fluxos de Capital

  • Investimentos Estrangeiros: Monitorar os fluxos de capital estrangeiro pode indicar como investidores internacionais estão reagindo às eleições.
  • Movimentos em Fundos de Investimento: Analisar os fluxos para dentro e fora de fundos de investimento pode fornecer uma ideia sobre as mudanças no apetite por risco.

4. Índices de Sentimento

  • Índices de Confiança do Investidor: Pesquisas e índices que medem a confiança dos investidores podem fornecer dados sobre como a campanha está afetando o sentimento do mercado.
  • Mídia Social e Pesquisa de Tendências: Análises de tendências de mídia social e dados de pesquisa podem fornecer insights adicionais sobre o sentimento público e do investidor.

5. Modelos Econométricos

  • Regressões: Modelos econométricos que incluem variáveis dummies para eventos eleitorais podem ajudar a isolar o efeito das eleições sobre os retornos dos ativos.
  • Análise de Séries Temporais: Analisar séries temporais de preços de ativos e indicadores econômicos pode ajudar a detectar mudanças estruturais associadas a eventos eleitorais.

6. Risco Geopolítico

  • Debates sobre política externa e comércio internacional podem influenciar a percepção de risco geopolítico, e afetar o mercado de câmbio e os preços das commodities.

7. Confiança do Investidor

  • Sentimento do Mercado: A confiança dos investidores pode ser impactada positiva ou negativamente pelos debates e propostas dos candidatos. 

A que ficar atento nas eleições dos EUA

Sauer afirma que os cidadãos de maneira geral, e não só investidores, devem estar atentos durante as fases pré-eleitorais. Na fase das campanhas e debates, espera-se que o candidato divulgue suas plataformas políticas, que podem incluir mudanças significativas em impostos, regulamentações, comércio, e outras áreas econômicas. Isso faz com que investidores ajustem suas expectativas e, muitas vezes, suas posições com base nessas propostas.

“Durante os debates, muitas vezes é possível analisar as prioridades e a viabilidade das propostas. A performance dos candidatos nos debates pode influenciar as chances percebidas de vitória e, consequentemente, as expectativas de políticas futuras, muitas vezes transformando o mercado em uma verdadeira montanha russa nos preços dos ativos”, destaca.

Já para Bessa, os investidores devem se atentar principalmente ao resultado das eleições. “Mas historicamente, no longo prazo, esse resultado não tem um impacto significativo na performance dos ativos financeiros”. 

De acordo com ela, estudos, como os realizados pela Morningstar, mostram que historicamente é mais eficaz manter uma estratégia de investimento consistente ao longo do tempo, indiferente de qual partido esteja no poder. 

“Ou seja, os investidores se beneficiam mais ao manter uma abordagem de investimento de longo prazo e diversificada, em vez de tentar prever ou ajustar suas carteiras com base em ciclos eleitorais”, completa.

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