“Mais importante que a explicação, é a jornada”, diz Felipe Paiva, da B3, sobre atração de novos investidores
Durante o Anbima Summit 2025, executivos falaram sobre educação financeira e formação de novos investidores
Por Victor Rabelo
Qualquer pessoa que já tenha investido algum dinheiro na vida se deparou com dúvidas sobre os significados dos termos empregados no mercado financeiro. CDB, CDI, LCI, LCA, FII, ETF, BDR, Selic, taxa disso, daquilo… são siglas e termos que, muitas vezes, acabam afastando as pessoas do mundo dos investimentos.
Por isso, empresas e entidades que trabalham com educação financeira têm feito um esforço para tentar facilitar a comunicação com a população que ainda não investe. Para Felipe Paiva, diretor de Relacionamento com Clientes, Educação e Pessoa Física da B3, “mais importante que a explicação, é a jornada”, disse, em painel do Anbima Summit 2025. Para ele, “ao investir na jornada, você traz o investidor para dentro de um ambiente em que é possível explicar os produtos”.
Como exemplo, Paiva argumenta que empresas do setor de entregas já têm feito algo semelhante. “Eles perceberam que as pessoas querem comer, mas que precisam de ajuda nesta jornada, não querem ter que ligar pra um restaurante, querem fazer tudo da tela do celular, acompanhando o trajeto do entregador”.
Para Ana Leoni, CEO da Planejar, outro exemplo interessante é o das companhias aéreas. “Quando a gente entra no avião, apresentam os avisos de segurança, pois são obrigados a fazer isso. Mas tornaram isso mais lúdico. Temos que encontrar um jeito de expor o que o cliente precisa, mas de um jeito que as pessoas vão parar para ver”, conta.
Marcelo Billi, head de Sustentabilidade, Inovação e Educação da Anbima, acredita que as abordagens precisam ser compatíveis com os diferentes perfis de pessoas. “A gente descobriu (com pesquisas) que existem perfis diferentes em termos de organização de vida e nem todos vão conseguir se transformar em pessoas planejadoras. Então, temos que ajudá-las com estratégias financeiras que combinem com o estilo de vida delas”, diz.
Investimentos para além da poupança
Billi contou que 60% das pessoas que investem ainda aplicam o dinheiro na poupança. “As pessoas dizem que sabem que a poupança não é a melhor opção, mas acham outros produtos complexos e para quem é rico”, afirma. Ele diz, porém, que as pesquisas têm mostrado que os jovens possuem uma mentalidade diferente e que, muitas vezes, são os responsáveis pela diversificação dos investimentos na família.
Leoni entende que a poupança é justamente um caso de produto que é foi comunicado. “A poupança tem a seu favor o fato de ser igual em qualquer instituição bancária. Mas, como produto, é difícil de explicar. Tem uma série de regras que o banco tem de cumprir, não é um produto simples, mas a oferta não valoriza essa explicação. A forma como o mercado tenta apresentar os seus produtos é muito complexa. É igual vender o carro querendo apresentar todos os detalhes do motor”, exemplifica.
O papel do profissional
Além da comunicação das instituições, outro fator que pode fazer a diferença para a melhor compreensão dos produtos financeiros é o profissional de investimentos. De acordo com os números apresentados pela Anbima, hoje existem cerca de 11 mil planejadores financeiros certificados (Certified Financial Planner, ou CFP), certificado emitido pela Planejar, e mais de 60 mil profissionais CEA (Certificação de Especialista em Investimentos Anbima), números que crescem ano a ano.
“Esse crescimento da oferta de profissionais mostra que existe uma demanda. O profissional hoje já entende que não é só sobre investimentos. As pessoas querem saber como gerir o patrimônio naquele momento específico de vida. Essa questão de entender a demanda é crucial porque esses profissionais vão atuar quase como profissionais da saúde, um médico da família”, comenta Felipe Paiva.
“As redes sociais geram uma ilusão de que é possível cuidar da vida financeira sozinho. Até as pessoas que têm dívidas acham que não precisam buscar profissional porque, como já tem dívidas, não querem ainda pagar por um profissional. É igual estar doente e achar que não precisa de médico”, diz Ana Leoni.
Assim como o Paiva, a CEO da Planejar entende que ainda falta uma maior proximidade do profissional de investimentos com a realidade de cada cliente. “O profissional precisa olhar o cliente na sua totalidade, ser um generalista capaz de olhar para todas as dimensões da vida da pessoa. Ele precisa se conscientizar de que é um agente de transformação e precisa de tempo para se conectar com seus clientes”, conclui.
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