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Quais são os impactos para seus investimentos se a Selic voltar a subir?

Investidores com carteiras bem montadas não precisam se preocupar; analistas divergem sobre aumento ou não da taxa básica de juros

A possibilidade de aumento na taxa básica de juros, a Selic, que está em 10,50% ao ano, tem ganhado mais força entre os economistas e analistas no mercado financeiro. Isso pode mudar o cenário para os investimentos: uma Selic mais alta pode trazer desafios para a renda variável, enquanto os produtos de renda fixa podem ser mais buscados para proteger as carteiras.

A taxa de juros é utilizada como política monetária pelo Banco Central para combater o crescimento da inflação de preços. Para isso, o BC persegue a meta de inflação, definida em lei, atualmente em 3% ano. Hoje, o Índice Geral de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) está em 4,50% no acumulado de 12 meses, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Além disso, a economia brasileira permanece aquecida, com a menor taxa de desemprego (6,9%) em 10 anos. Esses números têm dado força para essa expectativa de um novo ciclo de alta da Selic na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), entre 17 e 18 de setembro.

O presidente do BC, Roberto Campos Neto, não descarta um possível aumento da Selic. “O BC vai sempre perseguir a meta e vai subir os juros independente de eu estar ou não no BC. A equipe está dedicada e comprometida a levar a inflação para a meta”, afirmou durante o evento MacroDay, do BTG Pactual. O mandato dele se encerra no final deste ano.

Quais são os impactos?

A Selic é usada como referência em taxas de empréstimos, financiamentos e aplicações financeiras. No Tesouro Direto, existe o título público Tesouro Selic, que traz rendimentos à taxa. Já o Tesouro Prefixado tem uma rentabilidade pré-determinada, e costuma ser indicado em momentos de expectativa de queda da taxa básica.

Na renda variável, as expectativas também mudam se houver alta na Selic. “Existe uma correlação indireta entre os juros e o desempenho de algumas ações da Bolsa. Geralmente, quando a Selic sobe, a Bolsa de Valores tende a cair. E tem várias explicações lógicas para isso”, afirma Raul Sena, educador financeiro. Ele aponta que os juros altos significam que os produtos encarecem ao consumidor na ponta, o que faz o consumo das famílias diminuir. “Isso sem falar que o financiamento das operações e os próprios insumos ficam mais caros para a indústria, e isso se reflete no valor final dos produtos: mais uma vez, penalizando o consumidor.”

Para o investidor, no entanto, não há razão para nenhum susto se a sua carteira de investimentos estiver bem montada. “A verdade é que, em cada momento dos ciclos econômicos, existem oportunidades diferentes para fazer bons investimentos, seja na renda fixa ou na renda variável. Até porque quando a bolsa cai é que surgem as melhores oportunidades para o investidor de longo prazo”, destaca Sena.

Uma possível alta da Selic pode desencadear uma nova rodada de críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao Banco Central, de acordo com André Colares, CEO da Smart House Investments. “O governo Lula, que tem criticado a manutenção de juros elevados, poderá enfrentar dificuldades políticas se o BC decidir por uma nova alta, o que poderia aumentar a tensão entre o executivo e a autoridade monetária. Essa decisão será crucial para determinar o rumo da economia brasileira nos próximos meses, impactando diretamente o mercado financeiro e a confiança dos investidores.”

Ao mexer na expectativa dos investidores, muda também o nível de volatilidade na renda variável, o que atinge os papéis em ações, fundos imobiliários, fundos de índice (ETFs), BDRs e criptomoedas. Todos esses produtos oferecem maior risco, porque o retorno é imprevisível, mas pode gerar mais chance de ganhos aos investidores.

Outros riscos

Outros impactos podem ser sentidos na economia brasileira, segundo Fábio Murad, sócio da Ipê Avaliações. “Por um lado, poderia ajudar a conter as expectativas inflacionárias e manter a credibilidade da política monetária. Por outro, poderia desacelerar o crescimento econômico, aumentar o custo do crédito e dificultar investimentos. É importante notar que o BC está buscando equilibrar cuidadosamente suas decisões, considerando tanto os dados locais quanto o cenário internacional, incluindo as expectativas de corte de juros nos EUA. A decisão final dependerá da análise de mais dados sobre inflação e outros indicadores econômicos.”

A ancoragem das expectativas da inflação pode trazer credibilidade à política monetária do BC para atrair mais investimentos do exterior. “Dado que a inflação ainda está acima da meta e o crescimento econômico permanece forte, a elevação da Selic parece uma medida necessária para reancorar as expectativas, manter a estabilidade econômica e retomar o processo de credibilidade já desgastado perante o investidor estrangeiro”, afirma Sidney Lima, analista CNPI da Ouro Preto Investimentos.

Mas outro cenário também pode se impor. “Minha perspectiva é que a taxa de juros permanecerá inalterada. Com base nos bons resultados recentes da Bolsa de Valores no Brasil, acredito que não há justificativa para um aumento da taxa no momento. Na verdade, há uma tendência crescente de que, no início de 2025, a taxa possa ser reduzida”, observa Alex Andrade, CEO da Swiss Capital Invest.

“O ambiente externo está se mostrando mais favorável, com indícios de uma iminente redução das taxas de juros nos Estados Unidos. Se isso ocorrer, não será necessário que o Brasil acompanhe um aumento significativo. Internamente, a situação fiscal do Brasil não piorou desde a última reunião do Banco Central; na verdade, estabilizou e até apresentou uma leve melhora”, destaca Volnei Eyng, CEO da gestora Multiplike. “Embora as declarações recentes possam indicar um aumento da Selic, a situação está longe de ser certa. Acredito que o investidor não deve assumir uma certeza absoluta sobre um aumento iminente da taxa Selic. Nos próximos dias, é possível que surjam novas declarações que podem alterar o viés dessa expectativa.”

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