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Value investing: entenda o que é e para que serve

Estratégia leva em conta longo prazo e confiança na empresa escolhida para investir

Identificar ações com prognóstico positivo para o futuro, que hoje são negociadas com preços abaixo do que deveriam estar na bolsa de valores. Essa é a descrição objetiva do antigo conceito de value investing. Para usá-lo na prática, o investidor precisa combinar algumas técnicas conhecidas de avaliação de empresa – valuation — e comparar os preços dos ativos no mercado de capitais.

Esse tipo de abordagem nos investimentos pressupõe três etapas, como análise da saúde financeira da empresa, análise de múltiplos e o valuation, segundo o professor e pesquisador de finanças e contabilidade da Faculdade de Ciências Aplicadas da Universidade Estadual de Campinas (FCA-Unicamp), Luiz Eduardo Gaio. 

“A análise da saúde financeira da empresa é olhar o histórico de lucro, se é rentável, se tem pouca dívida, mas ainda não traz valor intrínseco. Tem que olhar para o múltiplo de mercados pautado pelos concorrentes ou análise do histórico para ver se a empresa está cara ou mais barata. É usar método de valuation, e o fluxo de caixa é mais usado nisso, para descobrir o valor da empresa. Assim se chega à qual a cotação a ação deveria ser a negociada pelo mercado de capitais”, explica.

Definição de value investing

A primeira vez em que o termo value investing surgiu foi no livro “O investidor inteligente”, de Benjamin Graham, em 1949. Depois disso, o conceito se expandiu por diferentes autores para auxiliar os investidores a aprimorar o conhecimento acerca do mercado de capitais.

“[O conceito] acabou sendo disseminado principalmente pela performance de Warren Buffett, na década de 70, mas também por vários outros investidores que se formaram na Columbia, a faculdade onde Benjamin ministrava uma disciplina sobre value investing. Mais recentemente, há pessoas que defendem que existe mais divergência sobre o que é essa abordagem”, afirma Luiz Fernando Araújo, CEO da Finacap.

Naquela época, contudo, não existiam tantas informações acessíveis como atualmente, de acordo com o professor Luiz. “Por isso, o valor de uma empresa cotada em bolsa tem um valor intrínseco, que a empresa consegue ter a partir das suas projeções de ganho, ou chamado de valor justo.”

As características externas – como o cenário econômico de um país – também influenciam na composição desse tipo de abordagem nos investimentos.

“O value investing procura segurança jurídica. Em um país que não cumpre de maneira adequada os contratos, o value investing sofre. Quanto melhor a governança corporativa, melhor para o value investing, porque terá acesso a dados. O value investing tem esse componente de necessitar de informações confiáveis e seguras. O melhor cenário é a estabilidade econômica e social”, observa o professor de administração financeira da FCA-Unicamp, Johan Poker.

Na prática, como funciona?

Antes de encarar o mercado de capitais, o investidor precisa passar pelas três etapas do value investing, que é saber a saúde financeira da empresa, fazer análise de múltiplos — olhar para concorrentes — e o valuation, com foco no fluxo de caixa para encontrar o quanto ela vale de verdade.

“Eu observo qual é a cotação da empresa na bolsa, se o valor intrínseco está acima do preço da empresa. Um valor intrínseco superior reflete que a empresa está subvalorizada no mercado de capitais”, explica o professor Luiz.

Além disso, o professor Johan ainda destaca a importância de se olhar a longo prazo para as ações da companhia, assim como para o cenário das taxas de juros. A taxa básica de juros, a Selic, atualmente está em 10,50% ao ano, um elevado patamar de dois dígitos que desfavorece o value investing.

“Os próximos cinco anos de uma ação representam 20% [de valorização], os outros 80% são de cinco ou mais anos. A ação vai ter muito mais valor pelo que a empresa pode desempenhar no futuro do que o [desempenho] de agora. O valor presente desses fluxos de caixa é afetado pela taxa de juros. Então, quanto menor a Selic mais interessante se torna value investing”.

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