Organizar as contas

46% dos brasileiros já realizaram compras por impulso para se sentirem melhor emocionalmente; saiba o que fazer

Sentimento de satisfação da compra, por conta da ação da dopamina, acalma brevemente a ansiedade

Segundo pesquisa da Serasa em parceria com o Instituto de Pesquisa Opinion Box, mais da metade dos brasileiros (54%) já acumularam dívidas devido a problemas emocionais. O consumo excessivo também aparece como reflexo dessa relação: 46% afirmam já terem feito compras por impulso como forma de se sentir melhor. Esse comportamento, embora traga alívio momentâneo, é apenas a ponta do ‘iceberg’ de uma geração ansiosa

Robson Gonçalves, professor de Economia Comportamental nos MBAs da FGV, explica que todo comportamento gerado por ansiedade é apenas a manifestação do estado ansioso que a pessoa se encontra.  

“Se a pessoa não cuidar do seu estado de saúde mental como um todo e cultivar hábitos que favorecem a ansiedade, essa ansiedade vai se manifestar desde a mania de terminar a frase de uma pessoa que está falando, até o comportamento, impulsivo de compra”, destaca ele.   

O professor da FGV aponta que o sentimento de satisfação da compra, por conta da ação da dopamina, dá uma acalmada de muito curto prazo nesse impulso. “Aí a pessoa repete compulsivamente esses atos de compra, mas essa repetição compulsiva é apenas um sintoma de um estado prévio de ansiedade”.   

“Então, a primeira grande dica é a pessoa tratar a saúde mental como um todo e esses comportamentos tendem a serem revertidos. Não adianta tentar segurar na ponta do sintoma e do comportamento por si só”, alerta Gonçalves. 

Saúde mental e financeira  

A pesquisa ainda mostra que os brasileiros já convivem com uma base de dificuldades financeiras que torna o impacto da saúde mental ainda mais desafiador. Entre os problemas financeiros mais comuns estão o nome negativado (43%), o atraso no pagamento de contas (37%), a dificuldade em conseguir crédito aprovado (34%) e a renda insuficiente (29%), fatores que aumentam a pressão emocional e reforçam o ciclo da inadimplência

De acordo com o professor de Economia Comportamental, muitas pessoas estão ficando depressivas e estão ficando com um problema de transtornos de ansiedade por falta de dinheiro. E outras pessoas estão ficando com falta de dinheiro porque estão com ansiedade e outros transtornos mais, e isso faz com que elas tenham comportamento irresponsável de compra.

Na visão de Rodrigo Costa, especialista da Serasa em educação financeira, as compras por impulso ou o endividamento por questões emocionais mostram que saúde mental e saúde financeira estão diretamente ligadas.  

Carlos Castro, planejador financeiro e CEO da SuperRico, afirma que a ansiedade provocada por alto endividamento e a tentativa de conseguir um retorno rápido através das bets, que só ampliam o endividamento, no cheque especial ou cartão de crédito mostram como esse comportamento acaba, de forma não pensada, indo para o consumo sem freio. 

“O que eu costumo dizer é que existe uma inflação emocional. Da mesma forma que a gente tem inflação da economia, que você precisa subir os juros para conter inflação, as pessoas também estão inflacionando em função da emoção, então o consumo ficou, de fato, exacerbado”, alerta Castro.  

“Essa inflação emocional é que está fazendo com que as pessoas, cada vez mais, fiquem ansiosas. E tem um outro efeito também que é a invisibilidade do dinheiro. Está tudo muito fácil hoje para você comprar. Então você tem, por exemplo, o cartão de crédito e principalmente o Pix. Hoje as pessoas não têm mais a dor de tirar a nota da carteira, o que gerava uma certa fricção ou até podia ajudar nessa consciência ou autoconsciência. Não há realmente nenhum controle e essa facilidade de gastar pela invisibilidade do dinheiro tem feito elas gastarem mais”, completa o CEO. 

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Como mudar o comportamento de compulsão em compras 

Além de cuidar da saúde mental como um todo, outros comportamentos podem auxiliar no combate às compras compulsivas. Os especialistas apontam os passos essenciais, como:  

Montar um orçamento 

O primeiro passo, de acordo com o CEO da SuperRico é ter a consciência dos gastos que se está tendo. “Esse é o primeiro passo. No entanto, sabemos que as nossas decisões não são racionais, elas são emocionais. Então, mesmo que eu tenha um orçamento, o orçamento leva a uma decisão racional, só que para eu evitar a compra por impulso, já que o meu cérebro tende a ser mais rápido, em função da emoção, a gente precisa de algumas regrinhas”.  

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Regra das 24 horas para compras

A principal delas, de acordo com Castro, é aguardar, por exemplo, 24 horas para tomar uma decisão sobre a compra. “Se você vai comprar algo que você entende que é por impulso, espere 24 horas. No dia seguinte você volta e vê se aquela compra faz mesmo sentido para você”.

O segundo passo é, na hora de refletir, entender se é uma coisa que você deseja ou se você de fato precisa, de acordo com o seu orçamento.  

“O terceiro passo é anotar os hábitos de consumo, mas principalmente mais do que classificar gastos, supermercado, gastos essenciais, lazer, é importantíssimo adicionar a razão emocional que fez você fazer aquele gasto”, destaca ele.  

“Como você começa a descrever o que te gerou de impulso para fazer aquela compra, você vai começar a entender o seu comportamento emocional e aí, ao longo do tempo, você vai entender o seu comportamento emocional. No médio e longo prazo, você tende a racionalizar as suas emoções”, completa.  

Ficar offline 

Para o professor da FGV, seria muito importante que as pessoas separarem algumas horas todos os dias para ficar offline. “Isso é uma questão de saúde mental urgente”.  

O excesso de tempo online, segundo ele, carregando o celular para todos os lugares aonde a pessoa vai, é algo que mantém a gente num certo estado de alerta, buscando novidades, buscando postagens, querendo saber se fizeram like nas nossas postagens.  

“Isso tende a manter o cortisol basal mais alto, uma atuação mais contínua da vida cerebral, nos colocando num tipo de estado de alerta. Portanto, a gente tem que desfazer essa relação entre saúde mental e financeira através dos atos mais saudáveis que reduzam o estado geral de ansiedade das pessoas”, reafirma ele. 

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