Quanto você pagará a menos nos financiamentos de carros populares com a redução de preços?
Simulação aponta diferença na entrada e prestações de um financiamento médio do modelo mais barato incluído nas regras do governo, caso tenha o desconto mínimo ou máximo
Por Marília Almeida
O governo federal anunciou na quinta-feira, 25/05, medidas para reduzir os preços de carros zero no país. E fica a dúvida: será que a redução dos preços dará mais acesso a financiamentos de veículos?
O ponto principal das novas regras, que serão detalhadas no dia 2/6, é baixar impostos federais, como IPI e Pis Cofins. Dessa forma, será possível gerar descontos no preço final dos veículos entre 1,5% e 10,96%. A medida valerá apenas para carros com valor de até R$ 120 mil.
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Contudo, os modelos precisam se enquadrar em três regras, que passam por preço, características da cadeia de produção e questões ambientais, para que seja possível obter o desconto máximo.
Um dos mais carros mais baratos que se adequam às exigências é o Renault Kwid, que custa R$ 68.190,00. Aplicado o desconto mínimo, o valor do carro cai para R$ 67.167,15, e deixará de pagar R$ 1.022,85. Já com o desconto máximo o valor diminui para R$ 60.716,37, ou seja, a economia será de R$ 7.473,63.
Impacto no financiamento de carros populares
A planejadora financeira Paula Bazzo, da SuperRico, simulou quanto o consumidor teria de pagar de entrada e prestações em um financiamento de um Renault Kwid com valores médios em cada cenário (preço cheio do carro, desconto mínimo e desconto máximo).
No cálculo, Bazzo considera que o Custo Efetivo Total (CET) do financiamento seja igual à taxa de juros aplicada. Veja abaixo:
Preço cheio | Desconto de 1,5% | Desconto de 10,98% | |
Preço de venda | R$ 68.190,00 | R$ 67.167,15 | R$ 60.716,37 |
Valor de entrada (20%) | R$ 13.638,00 | R$ 13.433,43 | R$ 12.143,27 |
Saldo a financiar | R$ 54.552,00 | R$ 53.733,72 | R$ 48.573,10 |
Taxa de juros mensal | 2,07% | 2,07% | 2,07% |
Prazo | 46 meses | 46 meses | 46 meses |
Valor da prestação | R$ 1.850,16 | R$ 1.823,77 | R$ 1.647,38 |
Total pago em juros ao final do período | R$ 30.555,49 | R$ 30.119,56 | R$ 27.206,61 |
Em um financiamento com taxa de juros de 2,07% ao mês por um prazo de 46 meses, a entrada exigida, de 20%, corresponde a R$ 13.638,00. Será possível pagar R$ 204,57 a menos de entrada com o desconto mínimo aplicado e R$ 1.494,73 a menos com o desconto máximo.
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Já a diferença sobre as prestações, que corresponderiam a R$ 1850,16 com o valor cheio, é de R$ 26,39 com o desconto mínimo e R$ 202,78 caso seja concedido o desconto máximo.
No final do financiamento, o comprador terá pago R$ 30.555,49 de juros caso tenha comprado o veículo com o preço cheio. Se o desconto mínimo foi aplicado, economizará R$ 435,93 e, com o desconto máximo, deixará de pagar R$ 3.348,88.
Ponderações no financiamento de carros populares
Pela simulação é possível verificar que os descontos ajudam a ter acesso ao financiamento, mas, sozinhos, não fazem milagre e não mudam muito o peso da entrada, parcelas e, especialmente, o montante de juros que será pago no final do financiamento. “Um carro de R$ 60 mil já não é popular. Financiado, seu valor será de, no mínimo R$ 87 mil, no cenário já com o desconto máximo. Afinal, os juros estão altos”.
Bazzo lembra que, para acessar um financiamento, é necessário comprovar que as parcelas correspondam a 30% da renda. Ou seja, para financiar um Kwid zero, o comprador terá de ganhar R$ 5,5 mil. “É uma medida populista, se pensarmos que 80% da população brasileira ganha menos de R$ 3,6 mil por mês”.
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Além disso, é necessário supor que quem recebe R$ 5,5 mil não tenha qualquer outra dívida e consiga pagar gastos com alimentação e moradia com os R$ 3.852 restantes. Também é bom lembrar que um carro tem despesas com seguro, impostos e manutenção, e é necessário ter espaço no orçamento para acomodá-las.
Atente-se aos juros altos
Dado o montante pago em juros em um financiamento de veículos, que é de 28% ao ano, considerando o financiamento simulado, o consumidor somente deve optar pelo empréstimo caso não tenha outra opção. Se financiar em prazo mais longo, que vai até 60 meses, precisa ter consciência de que os juros pagos ao final do financiamento vão aumentar.
Caso decida financiar, o conselho é amortizar a dívida o quanto puder. Contudo, Bazzo, da SuperRico, aponta que no financiamento se paga a maior parte dos juros nos primeiros dois anos. “A amortização das parcelas precisa acontecer nesse período. Caso contrário, não terá tanto impacto”.
Para quem deseja economizar, carros seminovos e usados são uma alternativas e se depreciam menos com o tempo. A estimativa é que um carro zero possa perder até 20% do seu valor no primeiro ano de uso.
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